O primeiro exemplo de um conjunto de leis escritas da história é o Código de Hamurabi, criado no século XVII a.C
Por Teco Sodré e Diogo Furtado
O primeiro exemplo de um conjunto de leis escritas da história é o Código de Hamurabi, criado no século XVII a.C. Código mesmo, que determinava punições proporcionais aos crimes e abrangia aspectos da vida social, econômica e familiar da época. No entanto, o código de Hamurábi foi escrito por humanos, para ser executado por humanos, que convenhamos não conseguem cumprir regras de uma forma perfeita.
Passados quase quatro mil anos, outras leis regem a sociedade. Muitas delas, leis programáveis que nem nos damos conta que são algoritmos feitos por humanos. As tecnologias nos oferecem novas formas de codificar e resolver problemas. O uso da programação de computador, que também utiliza códigos, linguagens, símbolos e lógica para instruir uma ação, tem cada vez mais impactado o nosso mundo social por vias digitais.
Não somos máquinas. Já diria o poeta russo e dramaturgo Anton Tchekhov, 3.700 anos depois do sexto rei babilônico: “Errar é humano, mais humano ainda é atribuir o erro aos outros.”. Em um mundo tão veloz, líquido e intenso, ainda possuímos Leis que precisam ser interpretadas totalmente por humanos. E nossos ruídos de julgamentos e vieses psicológicos estão cada vez mais presentes.
E se tentarmos algo novo para assegurar a imparcialidade e a precisão nas interpretações? E se pudermos construir algoritmos, que criados e corrigidos por nós mesmos e executados por máquinas, sem erros, poderiam trazer solução para boa parte das demandas menos complexas que congestionam nossa vida?
Advogados programadores – o caminho para o futuro
A tecnologia digital, em especial a de inteligência artificial (IA), tem transformado o mundo desde a melhoria na gestão de processos, pesquisas mais rápidas, análise mais complexas de dados, e até a incrível possibilidade de utilizá-la como adversário socrático, para ajudar no entendimento de argumentos complementares.
Com o uso de ferramentas digitais avançadas, todos nós operadores do direito podemos otimizar rotinas, reduzir custos, aumentar a produtividade e melhorar a qualidade do atendimento aos nossos clientes. A tecnologia, se bem programada, permite que nossos serviços sejamos mais rápidos e estejamos mais bem integrados com tribunais e com nossos clientes corporativos.
Saber programar pode ser uma ótima saída para identificar, compreender, manipular e criar regras para tecnologias avançadas. As soluções prontas raramente atenderão a todas as necessidades, e a capacidade de entender e desenvolver algoritmos sob medida são componentes chave para a produtividade digital.
A IA e o mundo de madeiras escuras, saltos altos, paletós e gravatas.
Muitos aspectos do dia a dia do direito envolvem o processamento de informações e o uso de dados para fazer previsões e resolver problemas, seja interpretando leis, escrevendo petições ou conduzindo pesquisas jurídicas para clarear uma possível decisão. Se olharmos para a programação de uma perspectiva ampla, ela também envolve o processamento de informações, a busca por soluções precisas e a resolução de problemas. Sempre que você está usando algum tipo de lógica condicional ou raciocínio, ou mesmo determinando que o computador faça algo, isso é programação.
Ao abraçar a programação e criar um algoritmo, os especialistas em direito se transformam de meros usuários de tecnologia em seus criadores, navegadores e moldadores. Essa mudança garante que o profissional atenda às necessidades da sociedade na era digital e que permaneça vivo e relevante.
Saber programar permitirá desconfiar de uma IA generativa com possíveis vieses ou referências inaceitáveis, melhorará o raciocínio lógico e a capacidade de pensar analiticamente, ensinará a decompor problemas em etapas menores e a desenvolver soluções eficientes. Também irá melhorar sua comunicação, porque irá exigir que você seja preciso e conciso no seu algoritmo para que uma máquina o execute.
Novos mercados estão surgindo em todas as áreas. Um dos maiores bancos do País não possui uma única agência, e isso aconteceu em pouco mais de dez anos, por exemplo. Isso gera não só diversos novos desafios jurídicos, mas também uma necessidade de comunicação adequada de advogados com esse novo perfil de cliente.
Da mesma forma, o funcionamento de nossos tribunais tem mudado, aqui no Brasil, de forma rápida inclusive, a exemplo de ferramentas para identificar instantaneamente indícios de advocacia predatória, que antes demoravam dias e muitas vezes dependiam de provocação da outra parte.
Em tempos de mudança, um conjunto inteiro de novas oportunidades está se apresentando para advogados empreendedores e criativos, e principalmente aqueles que sabem manipular as tecnologias a seu favor. O advogado contemporâneo deve transcender sua função tradicional de solucionador de problemas e atuar preventivamente, auxiliando os clientes na melhoria das operações comerciais e evitando conflitos. Isso não apenas irá elevar o valor agregado dos serviços jurídicos, como também posicionar o advogado como um parceiro estratégico essencial para seus clientes.
Seja menos Hamurábi, construindo seus códigos e os deixando serem executados por humanos com suas falhas, e faça mais como como Sir Alan Turing, que, em 1950, após liderar o grupo de matemáticos estatísticos para decifrar a criptografia alemã na 2ª guerra mundial, deixou a seguinte pergunta: as máquinas podem pensar? Por nós, autores deste texto, podem, se você souber programá-las. Elimine suas imprecisões e seus ruídos de julgamento, permita-se criar códigos para serem executados por software em máquinas e não por humanos. Caro amigo do mundo jurídico, vá programar!
Teco Sodré é empreendedor digital há 30 anos atuando na convergência de negócios digitais e mercados tradicionais e atua como investidor de capital de risco há 15 anos nacionalmente. Sócio de startups e conselheiro independente em inovação e estratégia digital para grandes companhias.
Diogo Furtado é advogado e sócio-gestor no Queiroz Cavalcanti Advocacia. Lidera equipes jurídicas de grande porte em diversos setores da economia há mais de 10 anos.
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