Com a implantação do sistema “free flow” nas rodovias federais, cresce a necessidade de segurança nas comunicações de cobrança e prevenção contra golpes digitais

Quem trafega pela Rodovia Presidente Dutra — especialmente no trecho entre Rio de Janeiro e São Paulo — já pode ter percebido uma transformação visível na infraestrutura rodoviária: a instalação de câmeras para viabilizar o novo sistema de pedágio automático conhecido como “free flow”. Esse modelo, também presente na BR-101 (Rio-Santos), permite que os veículos passem pelos pontos de cobrança sem necessidade de parar ou reduzir a velocidade. A identificação ocorre por meio da leitura da TAG eletrônica ou reconhecimento automático da placa do veículo.
Conhecido como “free flow” no Brasil e na Europa, esse tipo de sistema recebe outras denominações nos Estados Unidos, como Open Road Tolling (ORT) ou All-Electronic Tolling (AET). Embora os nomes variem conforme a região, todos partem de uma premissa comum: eliminar barreiras físicas, reduzir congestionamentos e oferecer uma experiência de cobrança mais eficiente, totalmente automatizada por sensores e sistemas digitais.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), atenta à evolução tecnológica, vem regulamentando novas formas de pagamento para os pedágios federais, incluindo opções como PIX, cartões de débito, crédito e tecnologias por aproximação. Paralelamente, o avanço do modelo “free flow” reflete essa modernização, com o objetivo de facilitar a mobilidade e trazer mais agilidade para os motoristas.
Contudo, essa inovação também levanta alertas importantes. De acordo com um artigo publicado pela Netcraft, sistemas de pedágio eletrônico semelhantes nos Estados Unidos têm sido alvo de fraudes milionárias, especialmente por meio de mensagens falsas que simulam cobranças legítimas. O exemplo americano acende um sinal de alerta para o cenário brasileiro, onde a criatividade dos cibercriminosos tende a adaptar tais métodos ao contexto nacional — especialmente diante da ausência de autenticação robusta na comunicação com os motoristas.
Como funciona o Sistema “Free Flow”
A captação da passagem do veículo ocorre por câmeras de alta precisão, que registram a placa e a hora exata da travessia. A cobrança pode acontecer:
- Imediatamente via TAG (como Sem Parar ou Veloe), integrada ao sistema da concessionária.
- Posteriormente, por meio da leitura da placa e envio de um aviso ao motorista — provavelmente por e-mail, WhatsApp ou notificação pelo aplicativo da Carteira Digital de Trânsito.
Fraudes Digitais: O Lado Sombrio da Modernização
Apesar dos avanços, o novo formato de cobrança automática desperta preocupações com golpes cibernéticos. Isso porque, em muitos casos, o envio da cobrança não exige validação da identidade do destinatário — o que abre espaço para ataques de engenharia social, como o smishing, que utiliza mensagens de texto fraudulentas para enganar motoristas.
De acordo com o artigo “O que as agências de pedágio precisam saber sobre golpes por SMS” publicado pela Netcraft em 9 de julho de 2025, golpes envolvendo pedágios não pagos cresceram exponencialmente. A Netcraft relata em seu artigo que só em 2024 foram registradas mais de US$ 470 milhões em perdas relacionadas a mensagens de cobrança falsas — muitas delas se passando por agências legítimas, como o DMV – Department of Motor Vehicles ou Departamento de Veículos Motorizados dos EUA.
O artigo da Netcraft alerta para técnicas como: Imitação de marca: uso indevido de logotipos e nomes de concessionárias; Falsificação de remetente: mensagens parecem ser enviadas por operadoras oficiais (No caso dos USA por SMS) e Domínios fraudulentos: sites falsos com aparência autêntica para capturar dados e pagamentos.
Reclamações de Crimes Cibernéticos do FBI recebeu mais de 60.000 denúncias de golpes de pedágio não pago em 2024 e a Netcraft em seus estudos prevê que número de golpes de pedágio seja muito maior em 2025. Somente no estado de Utah, o pico no número de URLs que a Netcraft detectou relacionadas ao DMV e à atividade de golpes de pedágio cresceu mais de 200% nas últimas 2 semanas.
Por que são tão comuns esse tipo de golpe?
Segundo a Netcraft diz em seu artigo, os golpes de mensagens de texto utilizam smishing, um ataque de engenharia social que usa mensagens de texto falsas para induzir as pessoas a baixar malware, compartilhar informações confidenciais ou enviar dinheiro para hackers. O termo é uma combinação de “phishing”, que é um termo genérico para ataques de engenharia social, e “SMS” ou “serviço de mensagens curtas”, que se refere a mensagens de texto recebidas em um dispositivo móvel.
Smishing é um método relativamente barato que os cibercriminosos podem usar para realizar ataques. O envio de mensagens de texto em massa pode ser muito barato, com algumas taxas por mensagem chegando a US$ 0,01 por SMS para grandes volumes. Além disso, criminosos precisam de pouquíssima infraestrutura para lançar uma campanha de smishing e podem facilmente adquirir listas de números de telefone para segmentar a um custo baixo.
Golpes com mensagens de texto pagas são uma escolha popular entre os fraudadores, pois se aproveitam da confiança inerente que os consumidores têm em entidades governamentais e agências legítimas com as quais muitos consumidores estão acostumados a interagir. Além disso, faixas de pedágio sem dinheiro surgiram em mais lugares nos Estados Unidos, facilitando a ação de criminosos que fingem que você tem um pedágio não pago. Isso os torna um alvo perfeito para falsificação de identidade de marca.
Mas Como Prevenir e Proteger o Usuário?
A solução passa por tecnologia e educação digital.
- Assinatura digital nas comunicações oficiais de cobrança.
- Verificação da identidade dos remetentes
- Campanhas de conscientização sobre fraudes digitais e canais legítimos de cobrança.
Certificado Digital de Marca: Proteção Visual e Autenticidade nas Comunicações
Vale destacar que empresas como DigiCert, GlobalSign, Netcraft e Sertigo oferecem soluções específicas chamadas certificados digitais de marca, como os Verified Mark Certificates (VMC) e Common Mark Certificates (CMC).
O que são esses certificados digitais?
- São certificados digitais que validam visualmente a identidade da marca em comunicações eletrônicas, especialmente em e-mails.
- Permitem que o logotipo da empresa apareça ao lado do remetente na caixa de entrada do usuário (compatível com Gmail, Apple Mail, entre outros).
- Reforçam a autenticidade da mensagem, combatem phishing e aumentam a confiança do destinatário.
Certificados digitais de marca
- DigiCert VMC exige que o logotipo seja uma marca registrada e que a empresa esteja em conformidade com protocolos como DMARC, BIMI, DKIM e SPF.
- GlobalSign também oferece certificados para assinatura de documentos, e-mails e código, com foco em identidade corporativa e segurança digital.
- Netcraft, além de monitoramento de ameaças, atua na detecção de falsificação de identidade de marca e pode integrar certificados como parte de sua solução.
- Sertigo (antiga Comodo CA) oferece certificados SSL/TLS e soluções de validação de identidade digital, com foco em proteção de marca e reputação online.
Crypto ID já publicou artigos sobre a blindagem de identidade de empresas com o uso de certificados VMC – Certificado de Marca Verificada (do inglês Verified Mark Certificate).
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O uso de soluções que identificam as empresas remetentes reforçam que a tecnologia aliada à educação digital, é essencial para a segurança nas comunicações eletrônicas.
A transformação digital dos pedágios brasileiros é um passo importante rumo à mobilidade inteligente. Mas sem atenção à segurança da informação, o que deveria ser sinônimo de praticidade pode se tornar mais um campo fértil para fraudes. A aplicação de certificados digitais de marca e a valorização da identidade visual autêntica, além de outras soluções, devem ser estudadas— são ferramentas eficazes para restaurar a confiança nas mensagens recebidas por e-mail, SMS, WhatsApp ou outros canais digitais.
Para que o sistema de pedágio automático “free flow” seja realmente seguro, é fundamental unir tecnologia de validação, monitoramento contínuo e ações educativas que alertem o cidadão sobre os riscos e os meios de proteção.
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