Fraude com Aadhaar expõe falhas na segurança digital na Índia
Por Redação Crypto ID
O que está acontecendo com o sistema Aadhaar na Índia?
O Aadhaar é o sistema nacional de identificação da Índia, que reúne dados biométricos (impressões digitais e íris) e informações demográficas em um número único por cidadão. Ele é utilizado em larga escala: abertura de contas bancárias, recebimento de benefícios sociais, seguros, subsídios e autenticação em serviços digitais.
Porém, essa centralização também atrai o interesse do cibercrime. Nos últimos meses, diferentes operações policiais desarticularam redes especializadas em criar Aadhaar falsos e adulterar informações oficiais.
- Conforme publicado em 17 de setembro de 2025 no portal Wiseman CyberSec, uma operação em Bareilly, Uttar Pradesh, expôs um esquema que criava Aadhaar falsos e outros documentos governamentais com uso de softwares ilegais.
- Já segundo o Times of India (setembro de 2025), em Patna, Bihar, a Economic Offences Unit prendeu três pessoas envolvidas no uso de código-fonte roubado e sites falsos para manipular dados Aadhaar e coletar biometria sem consentimento.
- De acordo com matéria do The 420.in (agosto de 2025), dezenas de Jan Seva Kendras (centros de atendimento público) em Uttar Pradesh foram usados para a emissão em massa de documentos falsos.
- No Economic Times (julho de 2025), foi destacado o crescimento de fraudes no setor de seguros, com Aadhaar falsificado sendo usado para reivindicar apólices.
- Já a reportagem do Times of India (junho de 2025) revelou adulterações em subsídios e desvio de rações subsidiadas em Meerut, Noida, Moradabad e Bareilly.
- Em abril de 2025, o Times of India também noticiou a prisão de um grupo em Rajkot, Gujarat, responsável por falsificar certidões e documentos usados para atualizações indevidas no Aadhaar.
Esses casos mostram que a fraude digital está cada vez mais sofisticada: uso de softwares clandestinos, biometria forjada (“silicon fingerprints”) e documentos adulterados.
Medidas adotadas pela UIDAI
A UIDAI (Unique Identification Authority of India), responsável pelo Aadhaar, vem anunciando medidas para mitigar riscos:
- Restrições em alterações de dados sensíveis, como data de nascimento.
- Integração com bases oficiais para validação documental.
- Uso de inteligência artificial e machine learning na detecção de fraudes biométricas.
- Orientação à população para utilizar o Virtual ID (VID), reduzindo a exposição do número Aadhaar original.
Mesmo assim, os números impressionam: só em agosto de 2025 foram 2,21 bilhões de autenticações Aadhaar. Em paralelo, 1.456 pedidos de emissão foram rejeitados nos últimos seis meses por inconsistências ou tentativas de fraude, conforme noticiado pelo Times of India (agosto de 2025).
O paralelo com o Brasil

No Brasil, o Certificado Digital ICP-Brasil e a recente Carteira de Identidade Nacional (CIN) seguem lógicas diferentes, mas enfrentam o desafio da massificação.
- A CIN unifica informações em um documento único, combatendo a fragmentação dos antigos RGs estaduais e é um documento altamente seguro com diversas itens de segurança embarcados.
- A ICP-Brasil, por sua vez, garante atributos como integridade, autenticidade, confidencialidade e não repúdio, com forte base criptográfica. É importante notar que, por ser um sistema de chaves públicas (PKI) e seguir um modelo de Parceria Público-Privada (PPP), não há uma centralização dos dados dos Certificados Digitais emitidos na cadeia da ICP-Brasil, o que diferencia sua estrutura de governança.
- Ambos os sistemas ainda enfrentam questões de massificação e integração de bases.
Se na Índia a preocupação é com o uso indevido em larga escala de credenciais do Aadhaar, no Brasil o debate passa pela adoção em massa de soluções confiáveis, que conciliem praticidade e robustez técnica.
Lições para o Brasil
O episódio envolvendo o Aadhaar na Índia traz reflexões valiosas para o Brasil, especialmente em um momento em que o país avança com iniciativas como a Superplataforma da Receita Federal.
O Brasil conta com credenciais de identificação digital fortes, como a Carteira de Identidade Nacional (CIN), baseada em um unico banco de dados e certificados digitais, e a ICP-Brasil, uma infraestrutura de chaves públicas reconhecida pela sua robustez e conformidade internacional.
No entanto, a existência dessas credenciais seguras não elimina os desafios. A questão central não está apenas em possuir tecnologias avançadas, mas em garantir governança, fiscalização contínua, interoperabilidade e, sobretudo, transparência na forma como os dados são utilizados.
O risco de concentrar informações de milhões de cidadãos em uma única plataforma não deve ser subestimado.
A lição que fica é clara: o Brasil deve aproveitar suas bases sólidas em identidade digital para construir soluções que inspirem confiança, mas sem abrir mão de políticas de segurança cibernética robustas e de uma estratégia de mitigação de riscos constante. Afinal, no mundo digital, não basta ter credenciais fortes — é preciso também ter mecanismos ágeis e eficazes para proteger a integridade dessas estruturas.
O dilema que permanece
Será que reunir todos os dados dos cidadãos em uma única plataforma é, por si só, um risco excessivo para uma nação? Ou o verdadeiro problema está na falta de ferramentas mais sofisticadas para mitigar vulnerabilidades começando pelas credenciais de identidade fortes como temos no Brasil?
A experiência indiana mostra que não basta centralizar dados — é preciso investir constantemente em tecnologia de proteção, auditoria e governança. Como diz o ditado popular, nesse cenário é preciso ter sempre um olho no peixe e outro no gato.
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