O Trust Services Forum e o CA Day 2025, dois dos eventos mais importantes do calendário internacional, aconteceram em Split, na Croácia
Por Jean Everson Martina

Em setembro de 2025, a cidade de Split, na Croácia, recebeu dois dos eventos mais importantes do calendário internacional sobre identidade digital e serviços de confiança: o Trust Services Forum, organizado pela ENISA e pela Comissão Europeia, e o CA Day, voltado exclusivamente às Autoridades Certificadoras (CAs) e Prestadores Qualificados de Serviços de Confiança (QTSPs).
Juntos, esses encontros mostraram como a certificação digital está deixando de ser um tema técnico restrito e se consolidando como infraestrutura crítica de soberania, interoperabilidade e segurança global.
A seguir, compartilho uma análise estruturada de cada bloco dos dois dias de debates.
Trust Services Forum 2025
Bloco 1 – A EUDI Wallet em destaque
A União Europeia apresentou a Carteira Europeia de Identidade Digital (EUDI Wallet) como projeto central para o futuro da identidade digital no continente. Mais do que uma tecnologia, a EUDI Wallet é pensada como uma infraestrutura de soberania: credenciais verificáveis que funcionam de forma interoperável em todos os países-membros, com validade jurídica plena.
Para o Brasil, fica evidente que a transição para carteiras digitais interoperáveis não pode ser tratada como mero experimento político. Sem governança clara, consistência técnica e alinhamento a padrões globais, corremos o risco de criar soluções limitadas, que não dialogam internacionalmente.
Bloco 2 – Regulação e interações cruzadas
O Trust Services Forum também tratou da interação entre o eIDAS 2.0 e legislações como o CRA, NIS2, DORA e Chips Act. A mensagem central foi que identidade digital, segurança cibernética e inovação tecnológica são peças interligadas de uma mesma política digital.
Na América Latina, o cenário ainda é de fragmentação regulatória. Se quisermos avançar, precisamos superar a lógica de regulações isoladas e construir uma agenda integrada, capaz de fortalecer resiliência e fomentar inovação ao mesmo tempo.
Bloco 3 – Serviços de confiança, antigos e novos
O Fórum trouxe debates sobre os serviços de confiança já estabelecidos (assinaturas eletrônicas, selos do tempo, certificados digitais), mas também apresentou inovações como o ledger qualificado, pensado para registros confiáveis de eventos digitais em larga escala.
Isso deixa claro que prestadores de confiança não podem se limitar a funções tradicionais. O Brasil precisa discutir como evoluir a ICP-Brasil para incluir novos serviços, alinhados aos padrões internacionais, sob pena de perder espaço e relevância.
Bloco 4 – Estratégias de mercado e privacidade
Encerrando o Fórum, discutiu-se como fazer com que soluções de identidade digital sejam realmente adotadas por cidadãos e empresas. Usabilidade, privacidade e valor agregado foram apontados como condições indispensáveis para o sucesso.
A advertência é direta: projetos que priorizem conveniência política em vez de experiência do usuário estão fadados a baixa adesão. Para o Brasil e seus vizinhos, a chave será garantir que a identidade digital seja construída com foco no cidadão, como ferramenta de valor real para a sociedade.
CA Day 2025
Bloco 1 – A experiência croata com a EUDI Wallet
A Croácia detalhou como adaptou sua infraestrutura de certificados digitais para criar um ecossistema de credenciais verificáveis em escala nacional, pronto para integrar-se ao projeto europeu.
O exemplo mostra que é possível preservar investimentos anteriores e, ao mesmo tempo, inovar. O Brasil precisará enfrentar essa mesma transição com a ICP-Brasil, e adiar essa discussão significa perder relevância internacional.
Bloco 2 – Criptografia Pós-Quântica (PQC)
A chegada da computação quântica foi tratada como inevitável, e a criptografia pós-quântica (PQC) foi tema central. O consenso é pela transição híbrida: algoritmos clássicos e novos convivendo até que haja plena confiança nas soluções pós-quânticas.
O Brasil já avança com a UFSC e o ITI tendo uma solução desenhada e programada para 2027, mas a América Latina não tem ainda uma estratégia coordenada. A ausência dessa visão regional aumentará custos e criará vulnerabilidades em infraestruturas críticas. A coordenação deve ser prioridade imediata.
Bloco 3 – O papel ampliado das ACs e os novos serviços de confiança
Este bloco mostrou que as Autoridades Certificadoras já não podem ser vistas apenas como emissoras de certificados digitais. Seu papel se amplia para incluir novos serviços de confiança — como validação de identidade em tempo real, integração em carteiras digitais e suporte a credenciais verificáveis.
O recado é que o modelo tradicional, baseado apenas em certificados X.509, está em declínio. Para a América Latina, insistir nesse paradigma significa ficar para trás. O futuro exige ACs capazes de oferecer uma gama mais ampla de serviços, interoperáveis com o que está sendo construído na Europa.
Bloco 4 – Interoperabilidade global
O CA Day terminou com um painel internacional que reuniu instituições como o GLEIF, o Banco Mundial, representantes japoneses e grandes empresas do setor. A conclusão foi clara: as ACs são parte de uma infraestrutura global de confiança, e a interoperabilidade é condição obrigatória para participação.
Na América Latina, ainda discutimos de forma incipiente as listas de confiança regionais. Sem coordenação, continuaremos dependentes de soluções externas. O Brasil deve assumir a liderança desse processo, organizando iniciativas regionais alinhadas aos padrões globais.
Depois de dois dias intensos em Split, a conclusão é inequívoca: identidade digital é infraestrutura crítica, e as Autoridades Certificadoras precisam se reinventar. Não falamos mais apenas de certificados digitais, mas de um ecossistema de credenciais verificáveis, novos serviços de confiança, preparação para a criptografia pós-quântica e integração em carteiras digitais interoperáveis.
O Brasil tem capacidade técnica e institucional para liderar esse movimento na América Latina. Mas isso depende de escolhas corretas agora. Decisões baseadas apenas em conveniência política custarão caro no futuro, em forma de perda de interoperabilidade, atraso tecnológico e fragilidade institucional. O caminho é adotar uma visão estratégica, construir uma agenda regional e posicionar o país como protagonista do futuro da confiança digital.
Trust Services Forum e o CA Day 2025
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