Futebol, basquete, automobilismo, hipismo, polo e tênis estão entre as modalidades esportivas que demandam atenção quanto à segurança digital. A indústria global de cibersegurança precisa incluir o esporte em seu radar estratégico para apoiar a conscientização e o aprimoramento da segurança da informação dessas instituições
Por Regina Tupinambá

O esporte virou alvo digital — e todos estão preparados?
Em outubro de 2025, uma vulnerabilidade crítica nos sistemas da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) expôs dados pessoais de pilotos da Fórmula 1. O incidente, embora não tenha sido malicioso, revelou uma fragilidade estrutural que ultrapassa os limites das pistas e invade o coração digital do esporte moderno.
A descoberta foi feita por três especialistas em cibersegurança — Gal Nagli, Ian Carroll e Sam Curry — que, ao testar o sistema da FIA, perceberam que bastava uma requisição simples à API para transformar uma conta comum em uma conta administrativa. Sem autenticação adicional, sem barreiras técnicas. O trio, conhecido por práticas éticas de teste de segurança, acessou centenas de perfis de pilotos e revelou a falha publicamente semanas depois.
A FIA confirmou o incidente, notificou os pilotos e as autoridades de proteção de dados, e reforçou que nenhuma outra plataforma foi comprometida. Mas o estrago estava feito. A confiança na segurança digital da entidade foi abalada, e o episódio se tornou um marco para o debate sobre cibersegurança no esporte.
O que está em risco: dados, reputação e estratégia
O caso da FIA é sintomático de um desafio estrutural: a segurança digital no esporte precisa ser constantemente aprimorada, mesmo em organizações de alto nível. A exposição de dados pessoais, contratos, exames médicos e estratégias de competição não é apenas uma ameaça à privacidade — é uma vulnerabilidade estratégica.
No mundo todo, esportes como hipismo e polo, por exemplo, os dados não se limitam aos atletas. Cavalos de competição têm registros detalhados que incluem genética, histórico médico, desempenho e valor de mercado. Esses dados são armazenados em plataformas digitais. Imagine o impacto de um vazamento que revele o valor de um cavalo antes de uma negociação, ou que exponha lesões ocultas antes de uma competição. O prejuízo não é apenas financeiro — é estratégico e reputacional.
O tênis também merece atenção especial. Com o crescimento global da modalidade, sistemas digitais passaram a concentrar informações sensíveis sobre atletas, rankings, exames médicos, inscrições e dados contratuais. O fortalecimento da modalidade exige que a segurança digital acompanhe esse avanço.
Casos emblemáticos mostram que o risco é real
A FIA não está sozinha. Numa rápida pesquisa localizei diversas outras entidades esportivas que já foram alvo de ataques cibernéticos, com consequências graves:
Em 2021, hackers russos do grupo Fancy Bear invadiram sistemas do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da Agência Mundial Antidoping (WADA), vazando dados médicos de atletas.
Em 2020, o Manchester United sofreu um ataque de ransomware que paralisou seus sistemas internos e exigiu intervenção das autoridades britânicas.
Em 2018, o caso “Football Leaks” expôs contratos, negociações e cláusulas confidenciais da FIFA, revelando bastidores do futebol mundial.
No universo dos eSports, plataformas de torneios online já enfrentaram vazamentos de dados bancários e credenciais de jogadores, evidenciando que a profissionalização digital exige segurança proporcional.
Esses episódios mostram que o esporte está exposto — e que a resposta institucional ainda pode ser fortalecida.
O que as instituições esportivas precisariam fazer em 2026?
A resposta das entidades esportivas precisaria ser urgente e estruturada. O ano de 2026 poderia marcar definitivamente uma virada na segurança digital do setor. Algumas medidas são indispensáveis:
- Auditoria completa dos sistemas digitais
- Criação de protocolos de resposta a incidentes
- Treinamento de atletas e staff sobre segurança
- Parcerias com especialistas em cibersegurança
- Investimento em criptografia e controle de acesso
- Monitoramento contínuo de vulnerabilidades
- Simulações de ataque para testar resiliência
No meu entender, essas ações não são opcionais — são estratégicas. Ignorar o risco é abrir espaço para prejuízos que vão muito além do financeiro.
O esporte brasileiro está digitalmente preparado?
O Brasil abriga centenas de associações esportivas de grande porte, muitas delas com atuação internacional e sistemas digitais que armazenam dados sensíveis de atletas, treinadores, animais, patrocinadores e dirigentes. Essas organizações gerenciam registros médicos, contratos, dados genéticos de cavalos, rankings, desempenho técnico e informações financeiras. Em modalidades como futebol, basquete, automobilismo, hipismo, polo e tênis, entre tantas outras, o volume e a sensibilidade dos dados exigem atenção constante à segurança digital.
A maturidade cibernética dessas instituições pode variar, e o que se observa é que muitas já estão em processo de adaptação às exigências legais e técnicas que envolvem a proteção de dados para estarem blindados a legislação – a nossa LGPD. No entanto, o aprimoramento contínuo é essencial para garantir a integridade das operações e a confiança dos envolvidos.
Alerta para a indústria de cibersegurança: o esporte está no seu pipeline?
A indústria de cibersegurança precisaria incluir o setor esportivo em seu radar estratégico. O esporte movimenta bilhões, envolve ativos sensíveis e tem impacto direto na reputação de marcas e países. E, eu que sou ligada ao mercado de cibersegurança, pouco ouço falar do setor esportivo. Em 2026, proteger o esporte poderia entrar no radar das empresas de cibersegurança e dos organizadores de eventos.
Este alerta importa para todos que fazem o esporte acontecer
Dirigentes e gestores são responsáveis pela infraestrutura digital. Atletas e treinadores precisam entender os riscos e proteger seus dados. Proprietários e investidores têm ativos valiosos em jogo, como cavalos e contratos. Organizações de base e elite devem se preparar, porque o risco não escolhe tamanho. E as plataformas de eSports, em crescimento acelerado, precisam amadurecer sua segurança com urgência.
O esporte é paixão, competição e espetáculo. Mas também é dado, estratégia e tecnologia. Em 2026, a cibersegurança precisa estar no centro da gestão esportiva. Porque o jogo mudou — e os riscos também.
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REGINA TUPINAMBÁ | CCO – Chief Content Officer – Crypto ID. Publicitária formada pela PUC Rio. Como publicitária atuou em empresas nacionais e internacionais atendendo marcas de grande renome. Em 1999, migrou sua atuação para empresas do universo de segurança digital onde passou ser a principal executiva das áreas comercial e marketing em uma Autoridade Certificadora Brasileira. Acompanhou a criação da AC Raiz da ICP-Brasil e participou diretamente da implementação e homologação de inúmeras Autoridades Certificadoras. Foi, também, responsável pelo desenvolvimento do mercado de SSL no Brasil. É CEO da Insania Publicidade e como CCO do Portal Crypto ID dirige a área de conteúdo do Portal desde 2014. Acesse seu LinkedIn.
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