Por Fábio Barros e Roberta Prescott | Convergência Digital
As fintechs vieram para ficar e mudaram o modelo de negócios dos bancos, que admitem não serem capazes de resolver alguns problemas de seus clientes com a qualidade e a velocidade exigida por eles. Mas o tom do CIAB Febraban 2016, evento realizado esta semana em São Paulo, foi: as fintechs são uma ameaça ou uma oportunidade?
Não há um consenso, mas existe uma percepção: os serviços vão mudar porque os bancos estão tendo de conviver com uma nova era onde não são mais o centro dos negócios.
Também não basta transferir os serviços tradicionais para os novos canais. E há até a provocação: os bancos terão coragem de matar seus serviços, considerados ruins para criar novos mais eficientes e voltados para os usuários?
Pensar fora da caixa é o diferencial de uma fintech, posicionou Guga Stocco, head de estratégia e inovação do Banco Original, o único 100% digital no Brasil e na América Latina.
O executivo comparou os grandes bancos a supermercados e as fintechs aos fornecedores de produtos. “Estamos falado de empresas super ágeis, novas e focadas em novas tecnologias”, provocou, lembrando que, no mundo digital, o banco deixa de ser uma grande instituição e torna-se uma empresa como todas as outras que estão ali.
O problema, de acordo ainda com Stocco, é que as tecnologias bancárias existentes hoje foram criadas em uma época em que os bancos eram o centro do ecossistema. “Hoje o usuário está no centro e as fintechs estão desenvolvendo novas tecnologias com foco no usuário”. Para Bruno Pierebom, CEO da Zup, a quarta revolução industrial chegou e já fez desaparecer metade das empresas Fortune 500, de 2000 para cá e abriu porta para as empresas, batizadas de fintechs, que além de terem o negócio voltado para o usuário, criaram um modelo mais colaborativo de negócios.
“Não se trata de transferir um processo já existente para internet, mas de criar uma colaboração muito mais próxima com o cliente”, explicou. Não por acaso muitos bancos têm encontrado dificuldade em se adaptar a estes novos modelos justamente pela existência do que Pierobom chama de vícios do segmento. “Daí a necessidade de contar com pessoas de fora que apontem isso”. Um exemplo citado pelo CEO da Zup é sobre como algumas instituições traduzem o conceito de presença digital, que não trata apenas de contar com seus próprios canais, mas de estar presente onde os clientes estiverem.
“Para conseguir ter essa presença, é importante expandir o core”. Pierebom vai além, e diz que não adianta às empresas tradicionais tentarem parcerias com as fintechs se elas forem lentas. Ao contrário, para acompanhar o ritmo, é preciso contar com uma estrutura ágil e conhecimento de metodologias como DevOps e Squads. Uma opção é unir-se a estas startups incubando e dando suporte a elas. “O desafio dos bancos é matar o próprio negócio, para criar outro melhor. Foi o que a Netflix fez ao abandonar a entrega de DVDs por motoboy e passar para o modelo digital”, compara.
Mudança de rota
Mas as parcerias, estão, sim, na rota dos bancos quando se fala em fintechs. “De fato estamos olhando para elas como gigantesca oportunidade”, disse Fernando Chacon, presidente da Rede e diretor de marketing do Itaú Unibanco, dono da empresa de meio de pagamento. Ele admitiu que a Rede observa este mercado com objetivo fazer parcerias ou movimento de aquisição de fintechs que tenham desenvolvido soluções para problemas existentes da adquirente.
Não há resistência à mudança nos bancos e esse é o caminho que o Bradesco está trilhando, ciente que o modelo de negócio se transformou, observou o gerente de pesquisa e inovação do Bradesco, Fernando Freitas. Antes, os bancos eram centros que distribuíam serviços financeiros de acordo com o que achava importante.
“Hoje, o cliente é o centro, atendido pelos bancos e pelas startups, que conseguem um serviço personalizado para cada um dos serviços prestados pelos bancos”, salienta. De acordo com o executivo, estas startups já ficam hoje com cerca de 1% das receitas dos bancos, percentual que deve chegar a 15% nos próximos dez anos.
Para adequar-se a esta nova realidade, muitos bancos estão investindo em várias frentes, como a montagem de uma estrutura de venture capital, a criação de aceleradoras e o fortalecimento de áreas internas de inovação. O Bradesco, segundo Freitas, tem iniciativas nas três frentes.
A instituição conta hoje com o programa InovaBRA, que oferece suporte e cooperação com startups; o Bradesco Venture, hoje com R$ 100 milhões disponíveis para aportes; e parcerias estratégicas com grandes empresas de tecnologia e o aporte na inovação interna com a criação de centros de desenvolvimento, coordenado pelo Comitê Executivo de Inovação.
Na prática, o fundo Bradesco Ventures tem forte interesse nas áreas de algoritmos, plataformas digitais e blockchains. Já o InovaBRA tem hoje contrato com quatro empresas: Quero Quitar, Qranio, Redefretefacil e Sensedia, todas selecionadas ao longo de 2015. Este ano houve um segundo ciclo, onde foram selecionadas mais 12 empresas.
A confirmação que as fintechs vieram para ficar foi feita pelo líder global da indústria de serviços financeiros da Deloitte, Bob Contri. Segundo ele, os investimentos em fintechs alcançaram a marca de US$ 22 bilhões em 2015 e têm previsão de seguir em alta até, pelo menos, 2029. O executivo destacou que as fintechs ganham espaço em um cenário onde ainda há temas sendo endereçados, como a personalização dos serviços financeiros, o maior uso da web 2.0 e de plataformas socais e adoção de tecnologias de análise de dados.
Fonte: Convergência Digital