É fundamental para a sobrevivência das empresas e avanço dos seus negócios compreender o real impacto de um ataque cibernético e a importância do envolvimento de todas as áreas neste processo. Contudo, há um longo trabalho de conscientização neste sentido.
Por PAULO PAGLUSI, PH.D., CISM | DIRETOR DE CYBER RISK SERVICES, RISK ADVISORY, DELOITTE.
Todas as indústrias, sem exceção, quando sofrem ataque ou ameaça cibernética, costumam achar que se trata de um problema de TI. Porém, Segurança Cibernética transcende essa área. É um tema multidisciplinar que envolve a combinação de avaliação de risco aos negócios, métodos de quantificação financeira, treinamento e conscientização de pessoas, avaliação de impactos à marca etc. Exige esforços do Jurídico, Comunicação, TI, Financeiro, RH, Segurança Corporativa, Auditoria, Gestão de Riscos, Cyber Security e Liderança (C-Level e Board). O programa Cybersecurity Nexus (CSX) da ISACA já aponta nesta direção.
Uma pesquisa de âmbito mundial da Deloitte, chamada “Por dentro de um ataque cibernético – Um olhar mais profundo para os impactos nos negócios” traz uma análise sobre como os líderes empresariais avaliam os impactos dos ciberataques em suas organizações. Se há medição para todos os riscos (financeiros, patrimoniais, jurídicos etc.), é preciso mensurar também os cibernéticos, que têm forte impacto para o negócio (incluindo marca, reputação) e podem ocasionar grandes perdas.
É comum as empresas improvisarem uma análise muito superficial sobre este impacto. A visão costuma ser curta, quando é preciso analisar o amplo e extenso prejuízo, considerando os custos diretos e os intangíveis (desvalorização da marca, perda de propriedade intelectual, impacto nos negócios) em um intervalo de tempo maior do que se costuma empregar.
O estudo mostra que apenas 5% dos impactos financeiros de um ataque cibernético são analisados para tomada de decisão. Os outros 95% ficam “submersos”, como mostra a ilustração abaixo. Assim, a situação costuma ser subavaliada. As empresas costumam olhar a questão por algumas semanas realizando triagem dos incidentes e por mais alguns meses para a gestão do impacto e acham que está tudo solucionado, quando na verdade é preciso projetar para o longo prazo para a completa recuperação do negócio, pois os efeitos de tais ataques podem ser sentidos por até cinco anos.
COMO LIDAR COM OS ATAQUES CIBERNÉTICOS?
De maneira distinta do que ocorria no passado, os ataques cibernéticos não acontecem mais por desafio ou diversão: há empresas especializadas nesta prática, visando realmente afetar os negócios das companhias, sendo tais ataques cada vez mais monetizados, silenciosos, persistentes e avançados. Uma decisão errada em minutos, na área de Risco Cibernético, é capaz de afetar o futuro dos negócios da empresa na próxima década.
No ano passado, em média, demorou 117 dias para que as empresas descobrissem ter sido alvo de um ataque cibernético. Diante deste cenário, muitas companhias podem já ter sofrido ataque e ainda não sabem disso.
A condução do incidente, depois de descoberto, deveria ser a seguinte:
DIAS/SEMANAS:
– interrupção da operação;
– aplicação de controle de segurança, para reduzir vulnerabilidade;
– comunicação de parceiros e clientes;
– movimento para continuidade dos negócios.
SEMANAS/MESES:
– definição de estrutura interina da operação;
– busca de respaldo jurídico;
– observação das questões regulatórias;
– manutenção da relação com clientes e parceiros (busca de continuidade).
MESES/ANOS:
– esforço voltado a reparar dados aos negócios;
– redesenho do processo;
– investimento em segurança, vigilância e, em especial, resiliência cibernética para emergir mais forte, ao sair da crise.
COMO EVITAR INCIDENTES CIBERNÉTICOS?
O caminho está em integrar as múltiplas competências com os executivos da empresa e os profissionais de segurança, tendo a consciência de que uma crise pode realmente acabar com o negócio. Mais do que gestor de ativos de TI e tecnologista, o CISO hoje precisa ter uma postura mais estrategista e conselheira, orientando as áreas de negócio em atividades com implicações em riscos cibernéticos.
É necessário, portanto, estabelecer a combinação de conhecimento do risco cibernético com a avaliação do impacto do ataque para cada uma das áreas do negócio, considerando os custos financeiros e os intangíveis.
Desta forma, há necessidade de se adotar na empresa uma postura proativa, por meio de um modelo de inteligência e gestão de risco cibernético que considere três pilares:
SEGURANÇA: assumir um olhar preventivo, observar as ciberameaças conhecidas e se proteger delas, mantendo a conformidade com padrões e regulamentações. Fazer frente às ameaças conhecidas.
VIGILÂNCIA: conhecer e acompanhar as novas ameaças, detectar violações e anomalias no ambiente. Adotar comportamento mais proativo. Com base no que já aconteceu, ou acontece à sua volta, observar atentamente novas e possíveis variáveis. Estar preparado para ameaças previsíveis.
RESILIÊNCIA: estar pronto para as ameaças imprevisíveis, contando com uma estrutura resiliente, ou seja, que sinta o impacto, mas resista a ele. Retorno rápido às operações normais, mediante reparo dos danos causados ao negócio, lidar com a crise cibernética de modo que a empresa consiga emergir dela fortalecida.
*Paulo Pagliusi é Diretor da consultoria em Cyber Risk Services da Deloitte. Considerado um dos Consultores mais renomados do País, com experiência de mais de 20 anos atuando em gestão estratégica de Riscos Cibernéticos. Ph.D. in Information Security, pela Royal Holloway, University of London, com Mestrado em Ciência da Computação pela UNICAMP e extensão em Análise de Sistemas pela PUC-Rio. Vice-Presidente da Cloud Security Aliance (CSA) – Brazil Chapter e Vice-presidente do ISACA Rio Chapter, onde obteve certificação CISM. Autor de livro, articulista ativo e conferencista atuante, é professor de Pós-graduação em Segurança da Informação do IBMEC e membro externo de mais de uma dezena de bancas examinadoras de Doutorado e Mestrado, em Universidades como UFRJ, UERJ, UFSC e UCAM. Capitão-de-Mar-e-Guerra da reserva da Marinha, é um dos mentores do Cyber Manifesto, que tem o objetivo de estimular o apoio e a criação de uma visão compartilhada para proteger o Brasil de ataques cibernéticos. Referência para o governo brasileiro como especialista no caso Snowden, durante as audiências públicas da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado Federal criada para investigar a espionagem norte-americana.