A tecnologia abre um mundo de oportunidades na saúde mas coloca toda a indústria sob um tipo de risco até então incomum no setor: o ataque cibernético
Está em curso uma revolução na saúde. As novas tecnologias estão mudando tudo — do modo como os negócios são feitos à forma como os pacientes são tratados.
Chama atenção as empresas do setor com foco em I.A., comenta Leonardo Giusti, sócio da consultoria KPMG. Ela está em toda a cadeia.
Assim como as máquinas ajudam os médicos a indicar programas de prevenção, definir diagnósticos e escolher os melhores tratamentos, ela também é usada pelas empresas de medicina privada para determinar pagamentos, estipular reembolsos e definir apólices.
Tudo caminhando à perfeição, não fosse a suscetibilidade da tecnologia. Em um trabalho publicado na edição de 22 de março na revista Science, pesquisadores da Universidade Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) alertam: “Com a atenção pública e acadêmica mais voltada para o papel do aprendizado de máquina [atualmente a ferramenta mais utilizada na construção de I.A.], algumas vulnerabilidades do sistema merecem ser destacadas. Pequenas alterações, cuidadosamente projetadas, em como as entradas são apresentadas a um sistema podem alterar completamente sua saída, fazendo com que ele chegue a conclusões erradas”.
Os autores do estudo alteraram alguns poucos pixels na imagem de uma lesão benigna de pele e submeteram-na à análise de uma I.A. O resultado? Câncer.
Em 2016, a Johnson&Johnson lançou um alerta para os EUA e o Canadá. Um determinado modelo de bomba de insulina, possível de ser controlado à distância, estava sujeito à ação de hackers.
Os criminosos poderiam induzir os pacientes a uma overdose. Nove anos antes, Dick Cheney, então vice-presidente de George W. Bush, teve a função wireless de seu marca-passo desligada.
Seu cardiologista temia um ataque cibernético. Há, claro, risco de que isso possa ocorrer, mas, argumentam os especialistas, ele é baixo.
A grande ameaça é a adulteração de exames e dados, e o roubo de informações, para beneficiar empresas de medicina complementar, seguradoras e agências reguladoras. É assustador pensar na suscetibilidade de nossas vidas algorítmicas.
Cada um de nós produz 2,7 megabytes de dados por minuto, via rede social, relógio inteligente ou internet. Ao longo da vida, uma pessoa saudável produz 1 milhão de gigabytes de informação só de saúde — o equivalente a 300 milhões de livros.
Um paciente de câncer chega a fabricar um terabyte de dados por dia, diz Mariana, da IBM. A resposta do setor de saúde a possíveis ataques cibernéticos vem sob a proteção do blockchain.
Em 2016, a Estônia tornou-se o primeiro país a usar blockchain para garantir a privacidade e a integridade dos registros de saúde de seu quase 1,5 milhão de habitantes.
Fonte: Época Negócios