Segundo Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo e professor do Programa de Mestrado Profissional em Computação Aplicada da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a escassez de chips: muda a postura dos Estados Unidos
Em especial, os consumidores americanos vêm enfrentando a impossibilidade de adquirir coisas como a picape Ford Bronco e o novo console de jogos Steam Deck, por culpa da falta de chips.
“Essa falta é um problema mundial, desencadeado pela pandemia de covid-19, e está atrapalhando a temporada de compras natalinas no país, que é provavelmente a maior manifestação de consumo em todo o mundo. Produtos triviais, como máquinas de lavar, aparelhos de TV, fornos de micro-ondas e outros também estão tendo sua produção afetada.
Mas não são apenas os consumidores que estão se preocupando com o problema: a indústria de tecnologia e os políticos estão tentando reverter a situação de importância cada vez menor dos Estados Unidos no negócio de produção de chips, cujos reflexos vão além dos produtos destinados ao grande público – também as forças armadas se sentem desconfortáveis com sua dependência de fabricantes asiáticos.
Esse cenário está levando os americanos, tradicionais incentivadores da globalização, da iniciativa privada e do livre comércio, a reverem suas posições, passando agora a incentivar e subsidiar os fabricantes locais de chips, que muito felizes com essas medidas, estão investindo como nunca, até porque estamos diante de um aumento generalizado na demanda por esse produto. Esses subsídios podem chegar a US﹩ 52 bilhões!
A americana Intel, pioneira na fabricação de chips e que por muito tempo dominou esse mercado, foi ultrapassada por fabricantes asiáticos, como a Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC) e Samsung. Agora, parece claro que a Intel espera tirar vantagem dos ventos favoráveis – demanda crescente e dinheiro do governo – para recuperar sua posição de liderança.
Evidentemente não se acredita em cadeias de suprimentos sem quaisquer ligações com outros países, mas a resposta americana à escassez de chips definitivamente tem um sabor nacionalista.
Triste mesmo é constatar que nada parecido está ocorrendo no Brasil, em que quase nada se faz em termos de pesquisa, desenvolvimento e produção nessa área, vital para o futuro de nossa economia“, diz o professor Vivaldo José Breternitz.
Conversamos com o professor Vivaldo José Breternitz sobre a escassez de chips que afeta diversas linhas de produção nos Estado Unidos assim como em outras partes do Mundo
Crypto ID: Professor, que tipo de chip está em falta no mundo. São chips como os que temos nos cartões de crédito, celulares e os chips criptográficos que armazenam certificados digitais ICP-Brasil seja como mídia de cartão inteligente ou token?
Professor Breternitz: Pode-se afirmar que estão em falta todos os tipos de chips, os mencionados na pergunta e aqueles utilizados em computadores de todos os portes, tablets, smartphones, veículos, eletrodomésticos etc.
Crypto ID: O professor mencionou que a falta de entrega por parte dos fabricantes de chips está causando atrasos em outros setores de produção. Pode explicar melhor?
Professor Breternitz: Sem chips, produtos não podem ser finalizados. Montadores de veículos tem paralisado linhas de produção, aqui e no exterior, por exemplo.
Crypto ID: Como e porque esses outros produtos como carro, geladeira etc. Utilizam os chips?
Professor Breternitz: Exemplos: chips em veículos armazenam informações sobre o veículo capturadas por sensores e acionam algumas funções para otimizar seu uso, substituindo coisas que eram feitas por dispositivos eletromecânicos no passado, como por exemplo funções ligadas à temperatura, controle de portas, marcha etc. De forma similar, são usados em eletrodomésticos de todos os tipos.
Crypto ID: Por fim, existem outras razões para esse cenário além da grande demanda e baixa velocidade de produção ou também essa indústria de alguma forma sofre pela escassez de algum componente ou matéria prima para sua própria linha de produção?
Professor Breternitz: O problema maior é a demanda e a desorganização das cadeias de produção trazida pela pandemia, que gerou problemas de transportes, como espaço em navios e aviões, falta de contêineres etc. A briga Estados Unidos x China também ajuda a piorar a situação, dificultando a produção e distribuição dos chips.
Crypto ID: Por que o Brasil tem um comportamento diferente em relação a outros países?
Professor Breternitz: A situação aqui é semelhante à do resto do mundo. A desindustrialização diminuiu a necessidade chips por aqui, importamos muita coisa em todas as áreas, embora linhas de produção de veículos tenham sido paralisadas aqui por esse motivo. Também praticamente deixamos de fabricar/pesquisar chips aqui, o que é mais um problema para o Brasil.
Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor do Programa de Mestrado Profissional em Computação Aplicada da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.
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