O álbum de figurinhas da Copa do Mundo resistiu ao disruptivo universo das tecnologias da informação e comunicação e se mantem como hype dos tempos modernos
Por Edmar Araujo
Aos sete anos de idade, me encantei com todas aquelas nações, hinos e uniformes e, é claro, as cores do selecionado canarinho sempre me faziam (e fazem) brilhar os olhos.
Das recordações mais belas que guardo, a de ter visto bandeiras de países que disputavam o mundial na Terra da Bota estampadas em caixas de sabão em pó me marcou, especialmente a da então Alemanha Ocidental, selecionado que viria a erguer o troféu naquela ocasião ao vencer a temida Argentina, de Maradona.
32 anos depois, estamos todos entusiasmados com a chegada do mundial do Catar. Típico do brasileiro é cultivar o sentimento de vitória, mesmo quando não há grandes elencos. Ótimos, bons, regulares ou ruins plantéis, a seleção sempre teve do seu torcedor apoio quase que incondicional. E eis que entre tanta conectividade propiciando informação e, principalmente, digitalização, percebo um sobrevivente da revolução dos bites e bytes.
Sim, o álbum de figurinhas da Copa do Mundo resistiu ao disruptivo universo das tecnologias da informação e comunicação e se mantem como hype dos tempos modernos mesmo não sendo uma tendência da atualidade.
Acompanhei a saga dos meus filhos para completar seus álbuns, e como essas idas e vindas, quase quixotescas, estão na contramão da conveniência proporcionada pelos dispositivos móveis.
O processo é quase todo à moda antiga: sair para comprar, sair para trocar, sair para participar de encontro de colecionadores que vendem ou permutam suas figurinhas repetidas. Nada digital, tudo presencial, demandando dos apaixonados diálogo, capacidade de negociação e paciência.
Em pleno 2022, quando falamos de transformação digital e sua disruptividade, vemos que há coisas que não serão mudadas neste admirável mundo novo, que permanecerão como são ou estão. A verdade é que os álbuns de figurinhas demonstram, à sua maneira, que o virtual é anterior ao digital e que nossa capacidade de imaginação, imersão e realização está para além dos óculos ultrarrealistas ou da tecnologia do Metaverso.
Ao ver meninos jogando futebol na rua, algo cada vez mais raro, e imitando seus ídolos do esporte quando comemoram gols, percebo que nem toda experiência poderá migrar para o digital.
O álbum de figurinhas é o analógico do futuro, pois fatalmente em 2026, na próxima Copa do Mundo, ele estará mais uma vez disponível e a provocar a paixão pelo entretenimento não digital, mas físico, em papel, pouco conveniente e perecível.
O que mais não será digital no futuro?
*Edmar Araujo, presidente executivo da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB). MBA em Transformação Digital e Futuro dos Negócios, jornalista. Membro titular do Comitê Gestor da ICP-Brasil
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