Quer café? Perguntou-me Marcelo Buz, Diretor-Presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. Viciado que sou, afirmei e esperei pela tradicional ligação de ramal solicitando que alguém nos servisse.
Pra minha surpresa, o mesmo levanta, pergunta se prefiro mais ou menos forte, com açúcar ou adoçante, assim mesmo, exatamente como fazemos em nossas casa quando visitados, onde não temos um servidor contratado apenas para nos servir um simples cafezinho e onde tudo fica ali mesmo, ao nosso alcance.
Uma surpresa interessante, principalmente pra quem vive a administração pública há 13 anos, ressabiado com o excesso de egos e espíritos imperialistas.
Consegue imaginar um prefeito te servindo café? Pois é…
[retomando…] Empresário e vereador pelo partido Democratas na cidade de São Leopoldo/RS, Buz é formado em Administração de Empresas com Ênfase em Marketing pela ESPM e possui MBA Executivo Internacional pela UFRGS.
Mas mais do que atributos curriculares e experiências mercadológicas, a sensação que levei foi a de quem quer fazer gestão pública moderna, aquela que demandam os gritos proferidos nas manifestações recordistas de público dos últimos anos.
Mostra-se alguém em constante sentinela aos princípios principais (data vênia o pleonasmo) da administração pública: Eficiência, Economicidade e Transparência.
E além do perfil do então CEO, minha análise maior está no modelo em si do que é o ITI e toda a própria ICP-Brasil (Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira).
Curioso que sou, desde que iniciei meus estudos sobre este mercado e também o que representa o sistema nacional de certificação digital, acompanhei a todas as reuniões do Comitê Gestor e daí iniciei esse meu juízo para com o este importante organismo ligado à Presidência da República.
Começo pelo prédio, localizado próximo ao emblemático Brasília Shopping, o centro comercial parece muito mais uma unidade do Governo Federal do que a própria sede do ITI.
Por lá, algo em torno de 60 servidores trabalham diariamente e são estes os que executam todas as ações fundamentais para o bom funcionamento do Instituto.
É difícil de acreditar mas é verdade. E isto se dá pelo que, pra mim, é a grande inteligência desse modelo de execução de política pública, o que vai corroborar com o título desta artigo:
90% da força da ICP-Brasil está no setor privado! Ou seja, apesar de ter a prerrogativa, é o mercado que executa toda a emissão de certificados digitais do Brasil, quer seja por uma Autoridade Certificadora, quer seja por uma Autoridade de Registro (há outros atores inclusos na cadeia mas não vou me estender nisso). Já imaginou quanto mais caro seria pra o próprio Governo prover certificados digitais à população? Só uma pesquisa do IBPT diz que tudo o que o poder público compra/contrata é mais caro 17% do que os preços praticados no mercado privado.
A concorrência existente entre as ACs e ARs, como comentou um grande nome da ICP-Brasil que prefiro não revelar, cria um verdadeiro MAR DE SANGUE. Viva a concorrência! (um exercício rápido: pegue o custo anual geral do SUS, retire as pessoas que pagam plano e as que passam anos sem qualquer serviço médico. Se você dividir esse custo pela quantidade de pessoas que sobra, daria pra pagar plano pra todas elas e deixar o mercado regular o preço, não acha?).
[retomando II…] Outro ponto que me chamou a atenção foi a ausência de um forte Protocolo de Segurança, o que pensei encontrar por lá, tendo em vista a importância de se proteger a gênese da cadeia de chaves públicos. Então entendi que, claro, a sala-cofre não fica por lá e numa rápida abordagem deste ponto, MB me explicou como que funciona uma “simples” visita à sala-sofre e obviamente por motivos de segurança, aqui não será comentado, mas vai no sentido do que imaginara (ficou uma promessa de um dia me levar lá pra conhecer, quero ver hein…).
[concluindo…] Em posse de um bom equipamento fotográfico e querendo avançar nessa minha atual ideia de “foto-contar” minhas experiências vividas em governos e eventos sobre inovação e tecnologia, aproveitei-me da boa vontade e pedi autorização para fazer algumas fotos do prédio.
Pra minha surpresa (mais uma), Marcelo não só autorizou mas também já se propôs a mostrar ele mesmo o que é cada parte, quem é quem, onde funciona o quê, então fomos e a experiência foi bastante positiva pois pude ver não um indicado político que muitas vezes pouco entende da “cozinha” mas sim alguém que sabe explicar cada setor, cada diretor, cada painel disposto nas paredes divisórias do ITI.
E mais do que isso foi ver a boa relação entre todos a quem fui apresentado (inclusive para com o Diretor-Presidente), dando-me a certeza de que há uma atmosfera saudável por lá.
Então, é ou não é o que muito órgão público precisa ser quando crescer (pra não precisar ser grande mas sim inteligentemente formatado)?
Fonte: LinkedIn
Fotos: Hugo Noah