A essa altura, é impossível ignorar a maneira como a biometria está surgindo nos aeroportos espalhados pelo mundo
Por Ricardo Abboud
Por exemplo, o órgão de Proteção de Fronteiras e Aduana do Homeland Security Department dos Estados Unidos da América (EUA) está habilitando o uso do reconhecimento facial, que, por sua vez, incentiva todo tipo de testes pilotos junto a diversas das principais companhias aéreas e aeroportos, compreendendo cenários que vão desde o despacho de bagagem até o embarque.
Basicamente, os dados biométricos prometem aumentar a segurança, agilizar e reduzir os problemas nas experiências de viagens aéreas.
No entanto, grupos defensores da privacidade do consumidor, parte dos meios de comunicação e uma minoria de passageiros manifestaram questões e preocupações válidas e até mesmo já esperadas.
Na verdade, 60% dos entrevistados da pesquisa global “Biometrics Institute Industry Tracker 2018” acham que as preocupações com privacidade e proteção de dados estão restringindo o mercado da biometria.
No entanto, é importante dissiparmos alguns mitos comuns ou conceitos errôneos sobre o reconhecimento facial e a maneira como ele funcionará no setor de viagens. Confira quatro deles na sequência.
Mito 1: As companhias aéreas manterão informações de identidade e dados faciais dos passageiros em arquivo
Nesta era de violações de dados cada vez mais frequentes, as companhias aéreas não querem mais armazenar informações pessoais identificáveis que não aquelas que sejam absolutamente necessárias, para que não incorram em custos adicionais de TI, despesas e responsabilidades legais.
As imagens faciais coletadas no âmbito do programa US-Exit dos EUA são coletadas de visitantes estrangeiros no momento do desembarque, como parte do processo de admissão no país.
Essas mesmas imagens são usadas para comparar com rostos coletados em tempo real de estrangeiros saindo do país. As imagens são mantidas pelo programa por até 14 dias após a saída do visitante.
Mito 2: O reconhecimento facial tem por objetivo substituir todas as medidas de segurança atuais
Os documentos seguros — passaportes digitais, IDs tradicionais e até mesmo aqueles armazenados em dispositivos móveis — ainda estarão fortemente envolvidos no processo de verificação do passageiro.
Nos EUA, a antiga segurança aeroportuária, com os agentes da Transportation Security Administration (TSA) que inspecionam manualmente a identidade física e os documentos de viagem, ainda continuará a existir (embora a TSA tenha feito um planejamento para começar a usar o reconhecimento facial também).
O que, provavelmente, serão eliminados são os cartões de embarque, mas esses têm pouco valor de segurança ou mecanismos de verificação reais por trás deles — são, em grande parte, itens simbólicos para efeitos logísticos.
Mito 3: O reconhecimento facial é o precursor de um cenário Big Brother dentro dos aeroportos
Há proteções implementadas para impedir excessos do governo. Por exemplo, os cidadãos dos EUA podem optar por sair de qualquer programa que inclua reconhecimento facial para embarque.
Enquanto os métodos, políticas e propósitos da Customs and Border Protection (CBP) e da TSA forem comunicados de forma transparente e eficaz, não deverá haver nenhum problema com as preferências de privacidade conflitantes dos cidadãos.
Há também uma distinção entre a vigilância — que faz uma varredura constante na multidão para efeito de identificação — e os casos de uso para verificação que atualmente estão sendo propostos e testados.
No segundo caso, é uma correspondência de malha fechada do tipo 1:1:1 em que o rosto apresentado precisa corresponder apenas à imagem do rosto digital no passaporte e à imagem de referência associada ao manifesto do voo.
Nenhum dado é armazenado, nenhum dado adicional é coletado, nenhuma correspondência adicional é executada e nada sai da transação.
Mito 4: A tecnologia não é confiável o suficiente
Vimos as notícias dramáticas de que os testes falhos baseados em dados de entrada ruins anunciam que o reconhecimento facial é tendencioso ou de outra forma não está pronto para a implementação.
Não, a tecnologia não está pronta para cenários sem interferência humana, e é precisamente por isso que ainda temos especialistas humanos constantemente dando apoio.
Mas o reconhecimento facial em seu estado atual também não está sujeito aos mesmos preconceitos conscientes ou inconscientes que inerentemente distorcem o julgamento humano. Dessa forma, ele já está um passo adiante.
Junte a isso o fato de que o reconhecimento facial foi aperfeiçoado em cenários mais controlados e submetido a rigorosos testes de campo do mundo real.
Melhor ainda, os desenvolvimentos recentes e futuros em inteligência artificial e aprendizado de máquina só avançam as capacidades do reconhecimento facial e aumentam os níveis de precisão.
Se o reconhecimento facial e seus benefícios potenciais para as viagens aéreas tiverem um tratamento justo, devemos trabalhar a partir de um conjunto consistente e verificável de fatos.
As pessoas deveriam ter a liberdade de considerar, debater, discutir e formar opiniões, mas acreditamos ter estabelecido um ponto de partida concreto para essa discussão.
Ricardo Abboud
Diretor Comercial da Gemalto para Biometria, América Latina
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