Inteligência artificial e ciência de dados criam novos caminhos para a polícia chegar aos criminosos
Crimes nem sempre são resolvidos. Se não houve flagrante ou evidências claras, a investigação pode se estender por anos e não chegar a uma conclusão.
As novas tecnologias, porém, podem ajudar, como ocorreu na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, na qual o histórico de buscas de um dos suspeitos na internet chamou a atenção.
“A Ciência de Dados é utilizada na solução de vários crimes, como roubo de cargas, lavagem de dinheiro e no combate a quadrilhas organizadas. Não somente no país, mas também em crimes internacionais”, conta Sérgio da Costa Côrtes, coordenador da graduação em Ciência de Dados e Inteligência Artificial do Centro Universitário IESB. “Você reúne informações digitais e faz um cruzamento de dados bancários, históricos de navegação, dados da receita federal, entre outros”, continua.
Com uma grande quantidade de informações disponíveis, o cientista de dados é capaz de fazer uma análise e tirar conclusões capazes de diminuir o leque de possíveis suspeitos ou mesmo apontar o culpado.
“No caso da Marielle, por exemplo, ninguém pegou o crime em flagrante, mas existe um perfil para pessoas que cometem crimes dessa natureza”, disse Sérgio. “O assassino era um atirador de elite, pelas evidências que coletaram na cena. Isso faz uma diferença. Você tem centenas de casos anteriores que já foram resolvidos e que apontam perfil de possíveis suspeitos”, continua.
Para chegar aos suspeitos de participarem no assassinato de Marielle, por exemplo, a polícia checou os seus históricos de buscas na internet. A investigação apontou que o crime pode ter sido planejado por três meses e os suspeitos pesquisaram os locais frequentados pela vereadora e até o tipo de arma usada no assassinato.
Além da Ciência de Dados, outras áreas da tecnologia podem ser usadas na resolução de crimes, como o processamento de imagens a partir da inteligência artificial.
“A polícia está começando a usar o reconhecimento facial e de objetos como ferramentas de captura dos suspeitos ou identificação de artefatos com o potencial terrorista”, disse Max Eduardo Vizcarra, professor do curso de Engenharia de Computação do IESB. “Os algoritmos presentes na literatura hoje não são perfeitos e contam com margens de erro, o que cria a necessidade de acompanhamento por parte dos policiais para interpretar corretamente os dados”, completa.
Para o professor, a inteligência artificial e o reconhecimento de dados biométricos – como as impressões digitais e o reconhecimento de íris – serão as principais ferramentas no médio prazo. A China é pioneira nesse campo e monitora mais de 200 milhões de pessoas em tempo real. Por ser uma nova prática, porém, ainda existem fortes discussões sobre os dilemas éticos de se monitorar a população constantemente através de câmeras e algoritmos.
“A inteligência artificial pode ajudar também na análise dos rastros digitais das pessoas, que são agora as principais formas de prevenção e detecção de criminosos em governos do primeiro mundo”, conta Max. “Nosso histórico na internet pode ser farejado por meio de algoritmos que geram alertas quando um indivíduo se encaixa em um perfil criminoso, por exemplo, quando ele busca como se produz um explosivo, cria um conteúdo preconceituoso ou faz apologia a ideologias terroristas”, finaliza o professor.
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