A possibilidade de criptografia verde certamente oferece alguma esperança. Uma série de criptomoedas supostamente verdes estão surgindo
Por Adriano da Silva Santos
Existe uma perspectiva concebida na visão de que por trás da criptomoeda, há uma intenção cujo objetivo é liberar dinheiro do controle centralizado de bancos e outros intermediários financeiros – e, finalmente, substituir o atual sistema financeiro baseado em monopólio.
Porém, para alcançar essas aspirações, as criptomoedas usam tecnologia que demanda grandes quantidades de energia e seus impactos climáticos simplesmente não podem ser ignorados.
Para entender o que é criptomoeda e como ela funciona, considere como as transações financeiras normalmente ocorrem hoje. Sempre que os consumidores concluem uma transação sem dinheiro, a movimentação deve ser validada por meio de um intermediário na forma de um banco.
Os bancos operam com intermediários adicionais na forma do Banco Central. Toda essa intermediação envolve alguns pequenos custos de operação, no entanto, também gera preocupação com o valor da moeda, porque no caso dos brasileiros, o Banco Central do Brasil pode essencialmente imprimir dinheiro – como já fez algumas vezes em sua história, corroborando dessa forma, com o aumento da inflação dos preços e automaticamente desvalorização da moeda nacional.
Nesse cenário, a revolução das criptomoedas pretende reduzir o custo das transações intermediárias usando um sistema de contabilidade distribuído: Os blocos que fazem parte de uma blockchain são usados para validar a chamada realidade de cada criptomoeda e a partir daí, eles são validados por outro procedimento denominado como “mineração”, o que significa que os problemas matemáticos precisam ser resolvidos por mineradores, que são recompensados com uma determinada criptomoeda.
Este mecanismo se assemelha bem à mineração de ouro, pois se você realizar o trabalho e identificar com sucesso o que é ouro genuíno e não ouro, receberá a recompensa de construir um grande estoque de dinheiro.
Ademais, a grande mudança no mundo moderno é que a criptomoeda é muito complicada em termos de soluções para os quebra-cabeças matemáticos usados na validação, que ficam cada vez mais difíceis à medida que mais são descobertos.
Esse resultado exigiu o uso de um poder computacional extremamente grande para poder competir – tão grande que a escala é impressionante. Grandes bancos têm enormes sistemas de computador e, contudo, até mesmo seus data centers são ofuscados por grandes centros de mineração. Esse consumo intensivo de energia deu origem a sérias preocupações sobre os impactos ambientais da criptomoeda.
Maneiras mais eficientes de desenvolver e minerar criptomoedas podem existir. Entretanto, à medida que mais pessoas usam criptomoedas, esses supostos ganhos de eficiência podem ser sobrecarregados. Esse potencial sobrecarrega ainda mais a sua eficiência.
Portanto, é importante a aspiração dos proponentes desse novo método que, em última análise, visa substituir os sistemas financeiros convencionais. Isso traria um aumento maciço no crescimento do uso da tecnologia criptográfica – e suas demandas de energia.
Neste ponto, uma única transação de Bitcoin usa a energia elétrica equivalente à de muitas famílias de classe média do Brasil por cerca de dias, ou seja, uma demanda de energia realmente grande.
A tão falada pegada de carbono está intrinsecamente ligada à forma na qual a eletricidade fornecida aos servidores é produzida. Todavia, supondo que seja baseado em carvão, seus impactos climáticos podem ser descritos em termos que qualquer criança possa entender: uma movimentação de Bitcoins equivale a quase 200.000 horas assistindo ao YouTube.
Para se ter uma ideia, a rede Bitcoin usa um consumo de eletricidade anualmente que é maior que o consumo de energia do país da Noruega, e não muito atrás do estado de Nova York. De vez em quando, os especialistas até falam sobre o Bitcoin em breve usar mais energia, por exemplo, do que a cidade de Londres. O Ethereum é um pouco mais eficiente, mas não muito diferente.
Ele tem um volume menor, mas uma única transação, ainda usa a mesma eletricidade que uma residência de classe média por cerca de dias e tem uma pegada de carbono de, em média, quase 24.000 horas assistindo na plataforma digital de vídeos.
Esse enorme consumo de energia se traduz em grandes impactos na saúde e na justiça ambiental. As pessoas que vivem em bairros próximos a usinas de geração de energia, como concessionárias de energia a carvão, precisam suportar os efeitos na saúde associados à poluição. E qualquer queima de combustíveis fósseis, claramente terá efeitos no clima.
Trabalhadores deslocados em minas extintas, compreensivelmente, dão boas-vindas ao emprego que a produção de energia criptográfica oferece, mas certamente existem maneiras mais ambientalmente construtivas de ajudar esses profissionais e colaboradores, fomentando práticas ou métodos auto sustentáveis de energia para produção dessas moedas virtuais, aos quais estão sendo denominados como criptografia verde.
A criptografia verde visa diminuir o excesso residual desses materiais. Além disso, o desperdício também é uma preocupação, que pode resultar de chips de computador descartados e outros equipamentos de informática quando devem ser substituídos. Para o Bitcoin, o lixo eletrônico equivale ao lixo de TI e telecomunicações gerado pela Holanda. Em uma era de escassez de microchips, essa preocupação se torna cada vez mais importante.
Em contraponto, muitos empresários do ramo, defensores da produção máxima desses ativos, justificam esse procedimento dizendo que ele utiliza muita energia, porém, ao mesmo tempo, questionam o quanto de energia que os sistemas tradicionais bancários usam.
Esse apontamento gerou um recente debate, contudo, é importante de dizer que apesar da posição ser legítima, a maioria dos especialistas em geração de energia sustentável e economia verde são enfáticos em ressaltar que os bancos geram bem menos poluentes ambientes do que os produtores de criptomoedas. Pois então, neste caso, é necessário haver uma conciliação entre ambas as partes visando a diminuição desses compostos e não um embate direto.
Outro fator bastante discutido é em relação aos data centers em nuvem que, por exemplo, usam enormes quantidades de energia. A comparação relativa, mesmo que concebivelmente verdadeira, não é de forma alguma clara.
De qualquer forma, esses comparativos referem-se às plataformas de comércio atual, não a complementos como criptomoedas. Portanto, a comparação é enviesada e não proporciona um panorama completamente claro sobre a situação.
A indústria de criptomoedas está agora sob muita pressão de duas direções. De um lado estão os grupos climáticos que estão bem organizados e muito incomodados com o uso de energia do setor. Do outro lado está o Crypto Climate Accord, um consórcio de organizações de criptomoedas que tenta tornar as criptomoedas mais verdes – o que significa que dependem de menos consumo de energia. Muitos players estão envolvidos no Crypto Climate Accord, e é possível que seja para onde a criptomoeda irá no futuro.
A possibilidade de criptografia verde certamente oferece alguma esperança. Uma série de criptomoedas supostamente verdes estão surgindo, mas a leitura é de que nenhuma delas ainda recebeu nada parecido com o tipo de participação de mercado que poderia competir com grandes players como Bitcoin e Ethereum.
Inclusive, é necessário enfatizar que há vários significados de “verde”. Em última análise, depende de onde a energia está vindo. Se a fonte for renovável, como parques eólicos ou geração solar, pode não ser ruim. As tendências, no entanto, não são animadoras.
O debate sobre a criptomoeda não terminará apenas declarando que ela pode ser mais eficiente do que é hoje. Afinal, o setor bancário convencional também está constantemente se esforçando para tornar seus sistemas de computador mais eficientes em termos de energia.
Para resolver o debate sobre cripto, os players do setor devem não apenas abordar seus enormes impactos ambientais, mas também mostrar por que ela deveria existir.
Partindo do pressuposto de como isso beneficia a sociedade, muitas pessoas relacionadas ao meio, acreditam em criptografia e presumivelmente se beneficiam disso. Não obstante, isso não significa que confere uma vantagem agregada à sociedade como um todo. Tem que haver algo melhor sobre criptografia do que o sistema existente.
Para responder essa pergunta, o júri está pronto, o réu já fez seu argumento de defesa e apenas falta a parte mais interessada, a vítima (nós), fazer o discurso de acusação. Porém, não uma acusação qualquer, tende ser algo visando propor novas configurações e soluções inteligentes para o setor. Somente subindo esse estágio é que a criptografia poderá evoluir, além é claro, do fato de que o planeta agradece imensamente.
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