Com o alvorecer do Bitcoin, em meados de 2009, lá se vai uma década onde bancos e empresas têm explorado os ativos digitais e novos serviços financeiros, saindo do mundo real e adentrando ao mundo digital.
Por Carlos Netto, CEO e cofundador da Matera
Nos últimos anos temos um crescimento vertiginoso e grande adesão dos ativos digitais nas suas diferentes frentes: ativos de criptomoedas, ativos descentralizados, tokenização, stablecoins e moedas digitais emitidas por bancos centrais ao redor do mundo (CBDC).
A Moeda Digital é um caminho natural dado a digitalização pela qual a economia vem passando, é uma maneira de dar ferramentas às pessoas poderem trabalhar numa economia mais digitalizada.
Com a prerrogativa de crescimento dos ativos digitais e seus serviços, se o Banco Central não oferecer um ambiente onde esse tipo de serviço pode ser prestado de maneira segura, ele perderá o controle do mercado tanto na missão de estabilidade financeira quanto na missão de estabilidade de preço. Acompanhando a evolução do Open Banking, onde mais participantes possam trocar informação e oferecer serviços financeiros mais adequados a seus consumidores, a Moeda Digital (CBDC) será a maneira natural de oferecer esse serviço.
Depois de meses de discussão, o Banco Central divulgou no fim de maio as diretrizes gerais para a criação de uma moeda digital brasileira. O anúncio foi bem aceito pelo mercado financeiro, já que uma nova forma de pagamento pode ser mais um avanço ao país. Diferentemente do que muitos pensaram no início, o Real Digital CBDC terá diferenças marcantes em relação às criptomoedas como o Bitcoin.
A moeda digital brasileira será lançada primeiramente em um ambiente de testes em 2022, e, em 2024, deve chegar oficialmente a todos os brasileiros, segundo o Banco Central.
Por ser uma moeda criada pelo regulador do mercado financeiro, toda a sua emissão será centralizada e a distribuição ao público será intermediada por instituições custodiantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), como os bancos e fintechs. Figura entre os benefícios o fato de o Real Digital ser uma moeda de troca praticamente sem custo, o que ajudaria a aumentar a eficiência do sistema de pagamentos e facilitaria a liquidação mais rápida e segura das transações financeiras internacionais.
O Real Digital também permitirá o “dinheiro inteligente”, em que serviços de assinatura podem ser renovados sem intervenção humana. Esse mecanismo já existe, mas necessita da intermediação de algum agente financeiro. Assim, teremos uma ferramenta inteligente de liquidação de transações, que se adequa às necessidades dos consumidores e custos de intermediação muito mais baixos.
Micro e pequenos negócios também poderiam se beneficiar com a diminuição de custos de transações. Além disso, por ser rastreável, a moeda digital também auxiliaria no combate aos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção, sonegação fiscal, tráfico de drogas e terrorismo.
A nova moeda será parte essencial de um grande ecossistema de informação e tecnologia financeira, que tem como pilares o Pix e suas progressivas atribuições, o Open Banking e a chegada iminente do CBDC.
Ao meu ver, a moeda digital brasileira será uma grande vantagem para os brasileiros. Seremos detentores de moedas “de verdade” no Banco Central, cada um gerindo sua conta de maneira livre a partir das contas digitais via instituições bancárias. Antes, o que era patrimônio das instituições financeiras, agora poderá ter o “risco soberano” do Banco Central.
A iniciativa acompanha ações de outros países do mundo como a China, Uruguai, Equador e os Estados Unidos. A China foi a primeira potência a criar a sua própria moeda digital. No país que inventou o dinheiro em papel, o projeto de desenvolvimento do yuan digital continua avançando. Além disso, recentemente, o Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos, também informou que divulgará em breve um documento sobre a emissão do dólar digital. Ninguém quer ficar de fora dessa “corrida”.
Teorias à parte, mesmo que o projeto se instale apenas em 2 anos, sabemos que tudo pode mudar no meio do caminho. Em mais de 30 anos de vivência no setor financeiro, sinto que, mais do que nunca, estamos na trajetória de uma nova era. O Open Banking tem como objetivo o compartilhamento de dados e serviços financeiros, por meio de padrões, com fluidez de dados e liberdade. Em alguns anos, saberemos se esse processo vingou e se de fato a próxima geração será detentora de produtos pensados de forma personalizada.
*Carlos Netto é cofundador e CEO da Matera. Possui mais de 30 anos de experiência na transformação digital do mercado financeiro, especialista em Banking, Fintechs e Pix.
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