Por Percival Jatobá
Meio século atrás, no norte da Califórnia, Dee Hock, fundador e presidente emérito da Visa teve um insight:
“E se o dinheiro se tornasse totalmente eletrônico? Ele seria feito de elétrons e fótons que se movimentariam pelo mundo na velocidade da luz, podendo ser usados por qualquer indivíduo, a qualquer momento e onde quer que ele estivesse, sete dias por semana, 24 horas por dia”.
O que parecia apenas uma teoria visionária revolucionou o comércio e a forma como pagamos. Mais que isso, transformou o pagar em uma experiência integrada ao comportamento do dia a dia. Pela primeira vez, segundo dados da Euromonitor de 2016, os pagamentos eletrônicos superaram todas as outras formas de pagamento no mundo. Isso significa menos circulação do dinheiro em papel e mais confiança – pela segurança e pela praticidade – nas tecnologias de pagamento eletrônico.
Hoje, discutimos a transformação digital, na qual o consumidor é empoderado a decidir a forma como quer pagar. O big data e tecnologias como inteligência artificial se tornaram grandes aliados da indústria de pagamento, oferecendo experiências de compra cada vez mais intuitivas e personalizadas – vivemos ao mesmo tempo sentimentos de euforia e fobia em relação às novas tecnologias e como elas efetivamente interferem na experiência de uso dos nossos consumidores.
Para 2018, não faço apostas em tecnologias, mas em uma “revolução digital silenciosa” – que está em marcha, não retrocederá – mas prestes a emergir e conquistar de vez o mercado brasileiro:
A popularização do contactless
Pagar com relógio, celular, pulseira, isso tudo já é possível e conhecido, mas, em 2018, veremos a indústria de pagamentos unida e dedicada a fazer com que essa tecnologia seja cada vez mais popular no País. Dessa forma, todos ganham. Atraíremos um novo consumidor, conectado e que deixará de lado o dinheiro para pagar por um meio eletrônico, mais moderno e conveniente. Seremos mais rápidos no atendimento aos clientes, gerando eficiência operacional, menos filas e maior atratividade. E o consumidor, causa e efeito da transformação digital, ganha agilidade, segurança, conveniência e ainda concilia pagamento com moda, esporte e lazer. No mundo, isso já é tendência: segundo dados da VisaNet de setembro de 2017, a Austrália já registra, do total de pagamentos eletrônicos, 92% com tecnologia contactless, Nova Zelândia, 72%, e Singapura, 63%.
O crescimento do débito na Internet
Quem tem ganhado espaço e incluído cada vez mais pessoas no mercado financeiro é o débito, ao oferecer vantagens para o consumidor e para o estabelecimento comercial, que recebe e gerencia o estoque com mais agilidade e segurança. Em 2018, tenho certeza que veremos mais estabelecimentos comerciais virtuais e digitais adicionando o débito em seu leque de pagamento. O que reflete como a experiência do usuário e a transformação digital têm ditado a estratégia de inovação do mercado.
Não existe mais o “dono da inovação”
Para se inserir na transformação digital que vivemos é necessário oferecer soluções e modelos disruptivos. A inovação não vem apenas das grandes corporações e nem das garagens. Antes, o ideal era dominar toda a cadeia de valor e ser independente, mas estamos assistindo a quebra desse paradigma – colaborar é preciso.
A inovação aberta vai fundamentar todas as iniciativas de inovação dos pagamentos digitais, porque se nos fecharmos em nosso próprio mundo, certamente seremos ultrapassados. Veremos, em 2018, parcerias inéditas, com empresas dos mais distintos segmentos trocando experiências e inovando. Também acredito que o mercado verá com mais agilidade as corporações abrindo seus serviços e soluções via API´s.
Mas existem alguns fundamentos que não podemos esquecer:
a) Segurança;
b) Experiência do Consumidor; e
c) Universalidade.
Sempre que pensamos em soluções de pagamento na Visa buscamos o equilíbrio entre esses vetores especialmente porque a Internet das Coisas faz com que os meios eletrônicos de pagamento estejam presentes em todos os lugares e sob diversas formas e formatos. Da mesma maneira, o comércio passou a ser praticamente “onipresente”. Ainda parafraseando Dee Hock, “o mais difícil não é ter ideias inovadoras, mas tirar as velhas da cabeça”.
Então, que, em 2018, nós da indústria de pagamentos, quando estivermos oferecendo aos nossos consumidores um “produto”, nos questionemos se ele realmente oferece algum tipo de conveniência, elimina algum problema e se adiciona algum valor.
* Percival Jatobá, vice-presidente de produtos da Visa do Brasil.