Nos últimos 6 meses, dediquei horas por dia ao estudo das criptomoedas, suas tecnologias embarcadas, consumo energético, segurança jurídica e algumas outras variáveis de forma que eu pudesse me responder:
O Brasil tem grandes chances nesse mercado e quais os riscos dele? E a resposta atropelou o SIM e me surpreendeu tanto que resolvi externar os principais pontos. Vejamos:
Por Hugo Noah
Matemática pura!
Se você não é um urso pardo que hibernou durante o último inverno, com certeza já deve ter lido e até sentido a euforia do mercado acerca das criptos, tanto pelos entusiastas quanto pelos céticos. E o gatilho de tudo isso tem nome: Blockchain. Uma forma inteligente e disruptiva de impedir que você consiga pegar uma moeda, que é 100% digital, e fazer uma cópia, assim como fazemos com uma foto ou um vídeo, pois aí entraríamos no velho vilão da inflação, que é o ato de imprimir mais dinheiro.
Como isso é possível? Matemática pura! Milhares de computadores trabalhando em conjunto como contadores, distribuídos em vários formatos diferentes, usando lógicas matemáticas como por exemplo grafos acíclicos dirigidos – DAG, numa velocidade de processamento impossível para qualquer ser humano. Poderíamos dizer, então, que as definições de confiança foram atualizadas com sucesso? Nem a pau! E é aí que o Brasil, sem-querer-querendo, saiu na frente.
Computador não faz compras
Digo isto por concluir, em minhas análises, que as pessoas que tanto estão interessadas em adquirir as criptomoedas certas para ganhar na valorização quanto as que querem criar projetos que encantem essas primeiras, vendendo-os (ICOs)** sobre a promessa da segurança tecnológica supracitada, todas elas estão deixando de levar em consideração que COMPUTADOR NÃO FAZ COMPRA! Não pra ele. O mercado é movido por PESSOAS e as empresas são formadas por PESSOAS, mesmo que seja uma empresa individual. E é aí que mora o X da questão… Se estamos finalmente conseguindo auditar as contas de forma inquestionável, quem está auditando as pessoas? Ou você acha que a supervalorização do Bitcoin é dada pelo desejo de HDs em possuí-las? E como nos protegeremos da manipulação do mercado (por BOTS ou por anonimato), de forma a nos motivar erroneamente
Autenticação em dois fatores
Pra poder explicar melhor esse X, vamos pensar em como alguém consegue as criptomoedas. Ou você se torna um minerador ou você compra. Por conta dos altos custos energéticos, do grandes players de mineração e também da falta de conhecimento técnico, em disparado é o modelo de compra direta o que mais ocorre. Então, ou você compra de alguém que já possua (P2P) ou você compra de uma Exchange. Nesta última, você fará um cadastro, que geralmente é rigoroso e inclui envio de fotos de documentos pessoais, selfies, confirmação de e-mail e autenticação em dois fatores (2FA). MAS… se a grande jogada é poder permitir que qualquer pessoa consiga auditar o mercado das moedas em si, como podemos auditar se todas essas pessoas, que estão realizando ordens de compra e venda nessas exchanges são reais? Isso porque acreditar cegamente no número de usuários que aparece na tela, não condiz com a essência de formação desses ativos. E mesmo que os dados pessoais usados nesses cadastros sejam reais, como saber se essas pessoas realmente estão participando do processo? E olhe que nem vou entrar no universo das Fake News, onde pessoas sem a garantia de identificação, podem criar notícias falsas sobre um ativo e fazer você comprá-lo…
ICP Brasil – O orgulho do Brasil
Continuando… A Equifax, companhia que detém dados de mais de 820 milhões de pessoas, passou por um problema de vazamento no ano passado, onde mais de 140 milhões de americanos e mais de 15 milhões de britânicos foram expostos.
A Deloitte também passou por um ataque e expôs dados pessoais, incluindo e-mails, de milhões de pessoas. A confusão foi tão grande que o Senado americano tem debatido uma forma de impedir que isso aconteça novamente. E para orgulho do Brasil, a Infraestrutura de Chaves Públicas brasileira – ICP Brasil, foi mencionada num debate desses como modelo a ser seguido. Bingo! Agora vamos entender o porquê do título desse apanhado meu.
Certificação Digital
Sem-querer-querendo (em relação às criptomoedas), o Brasil já possui um arcabouço jurídico e tecnológico firme e de referência mundial em Certificação Digital.
O processo pelo qual se adquire um é densamente preparado para impedir que alguém se passe por você. E os players desse mercado são nada menos que Serasa Experian, Valid, Certisign, Soluti, Serpro, Receita Federal, dentre outros gigantes e o próprio Governo Federal, já que a “gênese” dessa cadeia é o próprio Estado Brasileiro.
Autoridades Certificadoras precisam fazer investimentos pesados, tanto em capital quanto em salas-cofres com níveis internacionais de segurança, além de estarem preparadas para arcar com os custos por fraudes ocorridas com o uso de chaves criadas por estas empresas.
Esse “monstro” chamado ICP-Brasil foi tão bem pensado que possibilitou à toda a comunidade jurídica brasileira a migração para o mundo digital, sem deixar nenhuma aresta sobre a confiabilidade das assinaturas nele proferidas. Isso quer dizer que:
(CD = Certificado Digital)
1 – Qualquer aplicação P2P que exija o uso de CD das partes estará segura com o não repúdio, ou seja, desde que usando os seus respectivos certificados ICP-Brasil, as pessoas (P) respondem por seus atos.
2 – Qualquer Exchange que exija CD como forma de cadastro e que exija assinatura dos atos praticados na plataforma pelos usuários, também estará assegurada com o não repúdio.
3 – Qualquer usuário que quisesse auditar outros usuários e consequentemente seus atos, como Ordens de Compra e Ordens de Venda, saberia se as chaves públicas pertenceriam à ICP-Brasil, ou seja, que são pessoas de verdade.
4 – Se a própria Exchange usar CD de servidor para assinar os dados que são impressos em tela, qualquer usuário poderia usar esses dados como prova da informação, por exemplo errada, que lhe causou um prejuízo numa tomada de decisão, desde que o usuário baixasse os dados assinados. Logo, seria uma Exchange mais valorizada no mercado.
5 – Por fim, qualquer projeto publicado, que vise arrecadação via ICO, se tiver tanto o seu WhitePaper quando o próprio código assinado com CD, bem como declaração assinada pelas pessoas que farão parte do projeto, também estaria passando o máximo de confiança para seus possíveis investidores.
Tudo isso por uma questão de Soberania Nacional. As criptomoedas podem até ainda não serem regulamentadas no Brasil, mas os atos de cada pessoa ou empresa desse país, no mundo digital e desde que através do uso de Certificados Digitais padrão ICP-Brasil, configuram um lastro jurídico robusto o suficiente para dar segurança àqualquer pessoa DO MUNDO! E é por isso que eu acredito que poderíamos ter Startups criando Exchanges, Wallets e novos modelos negócio aqui mesmo no Brasil, possuindo até Conselheiros (Advisers) oriundos das próprias Autoridades Certificadoras. Já pensou?
*Hugo Noah – Co-fundador do portal Liciteiro.com
** ICO – Initial Coin Offering – Oferta inicial da moeda