Medir o sucesso na escola não tem a ver com notas mas com a capacidade de trabalhar com máquinas para resolver problemas complexos
Por Fernando Shayer
Compare a situação de dois estudantes neste longo período da pandemia: um que teve aulas remotas online, e que, com isso, não parou de estudar (ainda que de uma maneira não ideal), com a de outro, que, por falta de acesso a computadores, dispositivos digitais ou conectividade, não teve aulas.
Poucos reflexos da pandemia foram tão injustos quanto essa desigualdade, que ocorreu entre milhões de estudantes em todo o Brasil.
Pense, agora, além da pandemia. Tudo o que fazemos hoje envolve o mundo digital: trabalhamos remotamente, compramos comidas, roupas e medicamentos, fazemos transações bancárias, nos comunicamos, ouvimos músicas, vemos filmes, lemos livros, jornais e revistas, tiramos fotos, chamamos transporte e acessamos uma quantidade infinita de conteúdos, com um toque, a qualquer hora, na palma da nossa mão.
Se é assim hoje em dia, como será em 2035, quando esse estudante se formar? Ou em 2065, quando ele estiver no auge de sua carreira? Como evitar que um jovem que hoje não tem nem acesso digital, nem disciplinas relacionadas com o digital, como programação e dados, continue sendo um nem/nem no futuro?
A Revolução Digital é isso: uma revolução. Tudo está mudando, e mudará cada vez mais rapidamente.
As máquinas entraram de vez nas nossas vidas, e nossa parceria com elas redefine a sociedade e o mercado de trabalho.
Redefine o papel e o sucesso da educação.
Máquinas inteligentes crescentemente ocupam o nosso espaço na realização de muitas tarefas. Uma delas é acumular conhecimento de conteúdos.
Pergunte ao seu smartphone, mesmo sem digitar, como é o ciclo de reprodução das angiospermas, e veja a velocidade e precisão da resposta.
Imagine como será nos próximos 60 anos. Pense no tempo em que você passou na escola para decorar não apenas esse, mas outros conteúdos que não têm qualquer aplicação na sua vida.
Mesmo o bom estudante de hoje não será capaz de se diferenciar das máquinas no futuro: máquinas aprendem como máquinas muito melhor do que nós, humanos.
Além do conteúdo básico fundacional, que é — e será sempre — muito relevante para o exercício de se constituir e reorganizar a nossa memória de longo prazo (aprender), todo o conteúdo excessivo a que nossos estudantes têm acesso na escola será obtido instantaneamente com o apoio das máquinas.
A pergunta para medir o sucesso da escola dos seus filhos não é mais “que notas eles tiraram nas provas?”, mas sim “eles são capazes de trabalhar com as máquinas para, em conjunto, com outros seres humanos, compreender e resolver problemas de um mundo muito complexo? Isto é, problemas que as máquinas não resolvem sozinhas?”
Todos os estudantes, tanto da rede privada quanto da pública, precisam desenvolver competências que vão além daquelas das máquinas: competências relacionadas com as relações humanas e com a sociedade, cujo algoritmo é muito complexo, levou bilhões de anos de evolução para ser construído e não pode (ao menos ainda) ser facilmente desenvolvido para máquinas.
Emoções, sentimentos, alegrias, angústias, histórias, identidade, inspiração, mortalidade, criatividade … é disso que somos feitos, e que nos torna únicos.
Não existe inclusão em educação sem acesso à escola. Esse é o primeiro passo. Mas, além dele, hoje devemos questionar o que o estudante faz na escola, seja ela presencial ou remota. A inclusão, hoje, exige acesso digital.
E isso é tanto uma ameaça, quanto uma enorme oportunidade. Pense em quanto, como pai ou mãe, você investe em livros e apostilas impressas? Se você não compra mais fitas K7, CDs, DVDs ou LPs, por que compra apostilas impressas, que são caríssimas e ficarão na prateleira para sempre?
Quando seu filho tiver uma dúvida, no ano que vem, você acha que ele buscará esse livro velho ou o Google? Livros e apostilas impressos são caros para se produzir, porque exigem a compra do papel, a impressão do material, o seu armazenamento e distribuição num país continental como o Brasil. E são, assim como as fitas K7, em relação ao Spotify, muito piores em termos de qualidade.
Além de textos e fotos, plataformas digitais têm vídeos, conteúdos atualizados semanalmente, toda a internet, espaço para comunidades, e o próprio ambiente da aula remota.
Para os estudantes, são intuitivos. E, para as professoras, fornecem todos os dados de acesso e uso de cada atividade pelos estudantes, o que permite uma intervenção pedagógica personalizada.
E, mais importante, custam uma fração do preço. Mesmo considerando todo o custo de conectividade das escolas e a locação de dispositivos, isso é mais barato do que o preço dos cerca de cinco e meio livros didáticos que todos os anos as famílias compram em média (e depois jogam fora).
Se a escola dos seus filhos não está se preparando para essa migração, pense bem: além dos cadernos, que serão sempre úteis, que sentido faz lhe pedir para investir em papel?
Isso é especialmente verdadeiro na rede pública. Muitas vezes nos perguntamos como a educação se relaciona com a responsabilidade social.
A resposta é muito simples: em tudo. A educação é a base para termos um mundo mais igualitário, diverso, econômico e transformador.
A tecnologia acelera esse processo. Em todas as indústrias, o consumidor está deixando de comprar ativos caros (carros, livros, DVDs) e está migrando para experiências digitais baratas. Na educação, isso não é diferente.
Com um modelo de ensino que viabiliza a formação de professores em escala à distância e a realização de aulas presenciais e remotas com conteúdo de alta qualidade e mídias diversas baseados em dados, são reduzidas as desigualdades. Todos caminham juntos para o futuro.
Sabemos que, hoje, no Brasil, a educação de qualidade ainda não é para todos. A falta de conectividade e acesso digital das redes públicas aumenta a distância entre nossos estudantes.
Assim, um dos pontos cruciais para a mudança desse cenário é a criação de infraestrutura para fornecer conectividade às escolas.
Os investimentos que integram educação e tecnologia já fazem parte da agenda emergencial das maiores economias, empresas, investidores e empreendedores ao redor do mundo, movimento que também deve ser amplamente fomentado no Brasil.
O governo tem a oportunidade de acelerar os programas de conectividade como prioridade, para que milhões de alunos sejam formados para o futuro: todos, não apenas alguns.
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