Por Sergio Leal
2016, mais um ano que a assinatura digital não decolou
Depois de 15 anos de ICP-Brasil olhamos para trás e podemos ver que a assinatura digital nunca conseguiu ter um impacto que sempre esperamos. Os benefícios que fomos capazes de colher (mesmo com diversas regulamentações obrigando as empresas a terem certificados digitais) foram quase marginais.
Poderíamos destacar alguns setores que foram muito impactados, como o Judiciário, mas esses exemplos pontuais vem de obrigatoriedade governamental, não do desejo real de uma transformação de analógico em digital.
A assinatura digital explodiu com o Bitcoin
Ninguém poderia prever o impacto de uma moeda virtual no mundo inteiro. Baseado em uma tecnologia amplamente consolidada (assinatura digital) e aplicada em um novo conceito (blockchain) o bitcoin provou que era possível ter segurança de uma maneira descentralizada e distribuída ao ponto de criar uma moeda segura. Qualquer tecnologia segura o suficiente para operar uma moeda, é segura para qualquer outra aplicação.
De repente, sem perceber a assinatura digital entrou na moda e acabou no topo das tendências mais quentes do mundo da tecnologia.
Infelizmente, em um artigo breve como esse não é possível descrever todos os detalhes do funcionamento do bitcoin e do blockchain mas sugiro que se aprofundem no assunto tanto pela curiosidade quanto pelo impacto que ela deve produzir em todos os mercados de maneira mais ampla.
O que a blockchain tem em comum com a certificação digital?
Ambos baseiam-se em um par de chaves. Qualquer aplicação que utilize um par de chaves pode operar com um certificado digital, pois basta certificar a chave pública.
Quando falamos do bitcoin como solução de dinheiro virtual, seu principal objetivo é o anonimato o que obviamente exclui o uso de certificados digitais. Mas podemos imaginar que o blockchain é a tendência mais forte de se aplicar a assinatura digital (inclusive com certificado digital) a qualquer aplicação.
O que podemos fazer com o blockchain?
1) Moeda – Bitcoin foi a primeira aplicação do blockchain e funciona como um sistema de dinheiro eletrônico P2P, ou seja pode ser utilizado diretamente entre as pessoas sem intermédio de uma instituição financeira . Qualquer um pode possuir bitcoin e pagar outra pessoa sem intermediário utilizando pra isso uma operação de assinatura digital. Caso você perca sua chave privada, perderá também todo o dinheiro ligado a ela (armazenado na ‘carteira virtual’).
2) Infraestrutura de pagamento – você pode usar Bitcoin para enviar dinheiro em todo o mundo. Os comerciantes podem aceitar pagamentos bitcoin. Isso é um pouco diferente de usar bitcoin como uma moeda. Nesse caso, passamos a envolver entidades financeiras no processo.
Os casos de uso incluem comerciante processamento e remessas. Exemplos: BitPay, Abra.
3) Ativos digitais – A blockchain pode ser usado para criar ativos digitais, como ações, títulos, títulos de terra e milhas aéreas. Esses recursos são criados usando protocolos em cima da blockchain.
Pense em algo como uma ‘promissória digital’.
Uma promissória em papel pode ser vendida e entregue fisicamente para o comprador. No caso do digital o blockchain permite que ela seja vendida de uma pessoa para a outra sem que o dono original use a sua cópia antiga como se fosse válida. Enfim criamos o ativo digital que pode ser transferido de dono de maneira segura.
4) Identidade – As empresas oferecem IDs de blocos que podem ser usados para fazer login em aplicativos e sites, assinar documentos digitalmente, etc. Pense que como uma aplicação de assinatura digital podemos ter um modelo similar aos certificados digitais x.509 baseado na blockchain.
5) Dados verificáveis – Criar um registro verificável de quaisquer dados, arquivo ou processo de negócios sobre o blockchain. Pense em um ativo sendo transportado através do mundo por diversas empresas de logistica. Na medida que o ativo se desloca entre as empresas um ‘recibo digital’ pode fazer o caminho entre elas de maneira clara e infalsificável.
6) Smart Contratos – Programas de software que vivem no blockchain e executar sem a possibilidade de interferência de terceiros. Pense que na medida que os eventos vão acontecendo em novas entradas são adicionadas à blockchain, esses programa são executados automaticamente e conseguem tomar decisões e replicar as ações que ainda fazemos manualmente.
Pra onde vai a assinatura digital e a blockchain?
Parece que a blockchain vai se tornar uma das fundações mais importantes das aplicações na Internet e na maioria delas nem perceberemos sua existência. A assinatura digital se tornará pervasiva, estará em todos os lugares, fará parte de quase tudo e nem precisaremos perceber que ela está ali.
Sérgio Leal
Ativista de longa data no meio da criptografia e certificação digital.
Trabalha com criptografia e certificação Digital desde o início da década de 90, tendo ocupado posições de destaque em empresas lideres em seu segmento como Modulo e CertiSign.
Criador do ‘Blue Crystal’: Solução software livre completa de assinatura digital compatível com ICP-Brasil
Criador da ‘ittru’: Primeira solução de certificação digital mobile no mundo.
Bacharel em Ciências da Computação pela UERJ desde 1997.
Certificações:
– Project Management Professional (desde 2007)
– TOGAF 9.1 Certified
– Oracle Certified Expert, Java EE 6 (Web Services Developer, Enterprise JavaBeans Developer)
Sérgio Leal é colunista e membro do conselho editorial do CRYPTO ID.
Autor e professor dos cursos ID Plus | Certificação Digital e Criptografia e Identidade Digital
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