As oportunidades de negócios, que as mudanças climáticas criam, estão em todo o mundo e em todas as indústrias
Por Adriano da Silva Santos
Nos próximos dois anos, prevejo que veremos um boom nas startups de tecnologia climática e que constroem os efeitos previstos das mudanças climáticas diretamente em seus planos de negócios. Algumas dessas empresas são explicitamente “verdes”, com planos de negócios e marketing que abordem diretamente essas inconsistências de clima global.
O Opus 12, por exemplo, está reciclando a poluição, colocando as emissões de carbono para trabalhar e produzir produtos químicos, assim como combustíveis. O movimento é realizado concomitantemente enquanto previne as famosas nuvens tóxicas que se formam à medida em que agricultores queimam resíduos.
Outro exemplo é da Planetly, organização que desenvolve ferramentas digitais que ajudam as empresas a analisar, reduzir e compensar suas emissões de CO2. Por fim, a Kleiderly, que lançou a primeira coleção de óculos do mundo feita a partir de têxteis reciclados. Com essa iniciativa, a empresa está salvando roupas descartáveis de acabar em aterros sanitários e, assim, criando uma economia circular.
As oportunidades de negócios, que as mudanças climáticas criam, estão em todo o mundo e em todas as indústrias. Diversas empresas estão simplesmente olhando com olhos bem abertos para seus efeitos e pensando a partir disso, em elaborar seus planos gerenciais.
Esse é o caso da Eversend que está construindo bancos para a África. O seu fundador, o empresário ugandês Stone Atwine , acredita e observa o mercado através desses fatores tais como: as reivindicações de segurança, os fluxos de pagamentos e as migrações forçadas. Fenômenos esses que devem causar efeitos irreversíveis na composição financeira, dado o aquecimento global. Essas poucas empresas são apenas o começo de um movimento, e há três grandes razões pelas quais acredito que agora é o momento para as startups climáticas decolarem.
Oportunidades de negócios em torno da mudança climática
As mudanças climáticas já estão afetando nossas vidas, em todo o mundo. Padrões climáticos extremos, incêndios florestais violentos, aumento do nível do mar são todos efeitos que se tornaram muito reais no último ano, ainda mais no Brasil. Em 2021, para se ter uma ideia, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até julho foram identificados 59.048 km2 afetados dentre os seis biomas brasileiros.
Além do fato das queimadas, as pandemias futuras também podem ser cada vez mais propensas a se espalhar, uma vez que as mudanças climáticas afetam diretamente aspectos como temperatura ou padrões de chuva, que podem influenciar onde e quando os patógenos aparecem.
A necessidade de parar ou reverter as quantidades ainda crescentes de dióxido de carbono e metano na atmosfera, associadas ao enfrentamento dos efeitos do aquecimento global, criam juntos enormes oportunidades para os empreendedores construírem empresas ao redor. Os empreendedores são solucionadores de problemas, e a realidade das alterações do clima estão criando milhares de problemas que requerem soluções rapidamente. Cada uma delas poderia se transformar em um negócio próspero – tudo isso enquanto salva vidas e meios de subsistência para a humanidade.
Para ser claro, não acho que vamos parar de ver startups de tecnologia climática nos próximos dois anos — mas acho que o horizonte de oportunidades muda quando chegarmos a 2024, especialmente quando se trata dos ciclos de Venture Capital.
Metas do Acordo de Paris 2030
Os próximos dois anos são cruciais para que as startups de tecnologia climática comecem e ganhem tração e financiamento inicial em parte por causa do Acordo de Paris, que estabeleceu metas ambiciosas e importantes para 2030. Uma das primeiras ações fundamentais do governo Biden-Harris foi trazer os EUA de volta à linha deste acordo e isso, proporcionou que encontrassem em um momento único da história em que praticamente todos, de investidores a formuladores de políticas e até mesmo empreendedores, estivessem alinhados estão – ou melhor, quase todos, tirando alguns negacionistas desse espectro, como o presidente Bolsonaro.
Ademais, até mesmo o ponto de vista do Conselho de Segurança Nacional dos EUA para as mudanças climáticas passou vários anos trabalhando em uma empresa de investimento que apoiou empresas habilitadas para tecnologia, fornecendo soluções transformadoras para as mudanças climáticas. Isso deve servir de alicerce para uma tendência de mercado, na qual acredita-se que as empresas vão estar bem posicionadas para ajudar a cumprir essas metas
Grandes instituições e governos também estão fazendo promessas para 2050, mas nenhum empreendedor ou investidor em estágio inicial está pensando em um horizonte de 30 anos — há muita incerteza. Entretanto, 2030 está no horizonte, e o mundo já está se unindo em torno da mudança em direção a um mundo mais sustentável. Se quisermos cumprir as metas de emissões líquidas zero até 2050, será apenas por causa do trabalho que está começando agora.
Ciclos de Venture Capital
Finalmente, as metas de 2030 impulsionam o financiamento para startups também. Investir capital de risco requer pensar em ciclos de negócios, o que significa que também é cíclico. Os fundos de VC (Venture Capital) se movem em ciclos de sete a dez anos, o que significa que as empresas que serão financiadas entre 2020 e 2022 devem amadurecer, e espero que estejam prontas, por volta de 2030. Agora, isso não quer dizer que as startups climáticas de 2024 não serão úteis e importantes – a luta contra as mudanças climáticas deve ser alastrada durante décadas e qualquer iniciativa apoiadora será bem-vinda.
Se houvesse a oportunidade de apostar nessa nova geração de empresas climáticas, com toda certeza, sem pestanejar, apostaria. Contudo, não existem muitas opções de apostas no momento, as fichas estão acabando, a sorte já nos deixou faz algum tempo, cabe agora investir e acreditar no grande poder dos ecossistemas, dessas fantásticas startups climáticas que estão por vir.
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