As edtechs estão cada vez mais presentes na educação. As transformações que estão propiciando já mudaram a cara do setor, e o fenômeno só deve se acentuar mais com os anos.
É importante destacar que as mudanças que hoje surgem como inovações pontuais do setor privado tendem a se tornar corriqueiras, à medida que soluções implementadas por edtechs atingem uma larga escala e são adotadas por diversos atores, como a educação pública, por exemplo.
Por Raphael Coelho*
Os números confirmam essa tendência. Em 2017, os investimentos globais em tecnologia da educação passaram de US$ $9 bilhões, um salto de 30% de 2016 – esses ventos sopram, sobretudo, do Oriente.
Chineses e indianos encabeçam os gastos nesse setor, onde uma conjuntura de fatores está revolucionando o ensino. Em toda Ásia, há mais de 600 milhões de estudantes – nos Estados Unidos são cerca de 10 milhões.
São populações jovens, nativos digitais, que têm muito mais naturalidade em lidar com interfaces digitais, ensino à distância e tutores online do que a geração anterior, ao mesmo tempo em que o mercado pede educação em ampla escala e atualização educacional e profissional constante.
Um dos fatores hoje que freia essa onda são os gatekeepers do setor, como professores de formação mais tradicional, governos e reguladores.
Mas à medida em que desenvolvedores de políticas públicas, criadores de inovação e mesmo educadores formados com o uso desse tipo de ferramenta se tornem mais presentes nas tomadas de decisões desses órgãos, soluções de larga escala tendem a ganhar fôlego.
Nos Estados Unidos, essas negociações já estão mais adiantadas, e na Europa caminham também. Em outros mercados como o sul-americano, devem levar mais tempo, se mantendo como uma vanguarda de nicho e um diferencial de educação, muito mais do que uma solução de massa para a educação.
Porém, a alta penetração dos smartphones na população faz com que a adesão de recursos na área de educação online acabe sendo questão de tempo.
O principal uso previsto é em mentoria e tutoria. As ferramentas para colocar alunos e professores em contato e entregar conteúdo para os alunos são cada vez mais eficientes e permitem melhorar a experiência de aprendizado sem precisar abrir mão dos métodos tradicionais.
Com 90% da população do mundo que está abaixo de 30 anos em mercados emergentes, segundo um relatório de tendências globais em edtechs da EdTechXGlobal, a educação, orientação vocacional e treinamento profissional por mobile serão indispensáveis.
Nesse sentido, o potencial dos alunos asiáticos, por exemplo, abre uma janela de oportunidades no mercado. Grandes grupos educacionais e edtechs estão totalmente focados em desenvolver soluções para universidades da Ásia, por exemplo.
A IBIS Capital projeta que tutoria pós-aula na China é um mercado que vai crescer de US$ 50 bilhões para US$ 90 bilhões até 2020.
Em Singapura, os pais gastam em média US$ 70,939 por ano na educação de cada filho, quase o dobro da média global. Cursos online abertos são uma das grandes oportunidades do setor, assim como aulas de idiomas – principalmente o inglês.
O taiwanês Tutor Group, a maior plataforma de ensino de inglês do mundo, tem um número de inscritos que rivaliza com a Universidade de Berkley e a Universidade da Georgia. Outras plataformas, como a VIPKID, focam no ensino para crianças entre cinco e 12 anos.
A chinesa Zuoyebang, que já levantou mais de US$500 milhões, foca em tutoria sob demanda e na hora para adolescentes. Logicamente, os Estados Unidos também está na corrida.
Chegg e Pearson já investiram mais de US$1 bilhão juntas para desenvolver sistemas que conectem alunos e tutores adquiriram empresas estratégicas como InstaEDU, por US$ 30 milhões, e TutorVista, por US$100 milhões.
Enquanto isso, alguns aventureiros veem o mercado aquecido e assustam gigantes, como o Varsity Tutors, que captou mais de US$100 milhões recentemente, para oferecer tutoria para crianças e adolescentes. A pergunta que fica é: quem vai dominar esse mercado na America Latina?
Uma das apostas é que nos próximos cinco anos, cada vez mais professores saberão trabalhar de forma integrada com recursos online, usando o smartphone dentro e fora da sala de aula.
Dessa forma, educadores poderão trazer novos elementos didáticos e dinamizar o ensino, assim como ferramentas baixadas online para serem usadas offline.
* Raphael Coelho é CEO da TutorMundi