A jornada para nuvem é longa e não pode ser tratada pela TI como sendo apenas uma migração de data center
Por Daniel Rosa*
A nuvem já não é mais novidade para ninguém. Não há mais incerteza sobre se iremos para a cloud ou não. Talvez a resposta a ser dada agora esteja mais relacionada ao quando e como iremos adotar o modelo.
As áreas da TI já estão se planejando há um certo tempo para seguir sua jornada. Por este motivo, o objetivo deste artigo não é comentar ou apresentar uma visão pelo lado da TI, mas tentar chamar a atenção para uma reflexão de um ponto de vista estratégico e de negócio e, talvez, tentar responder à pergunta sobre o real valor da nuvem do ponto de vista do negócio.
Durante muito tempo, a TI atuou como uma área de suporte operacional aos negócios. Porém, ao longo das últimas décadas ocorreram transformações, tanto no papel da tecnologia quanto na percepção do seu valor pelas organizações.
Assim, saímos de uma TI operacional, passamos por uma TI estratégica e agora temos uma TI como um agente de transformação efetiva de negócios. Hoje, a área de TI é capaz de transformar negócios até então “físicos” em negócios 100% digitais.
As startups são um exemplo disto, elas criam novos negócios digitais e resolvem problemas específicos através da aplicação da tecnologia. Geralmente este tipo de empresa não possui um vasto portfólio de tecnologias e serviços, ao contrário disso, elas geralmente resolvem um único problema, mas o resolvem da melhor maneira possível.
Toda esta transformação e inovação de empresas 100% digitais só é possível com o advento da nuvem, afinal esperamos quase 30 anos para entregar valor real ao negócio. E que valores são estes? Do ponto de vista do negócio estes valores estão relacionados aos quatro pontos a seguir:
1. Agilidade da TI e a sua flexibilidade frente às necessidades de mudanças nas estratégias das organizações;
2. Possibilidade da TI apoiar e transformar os processos das empresas;
3. Capacidade da TI proporcionar uma efetiva melhora na produtividade das pessoas;
4. Habilidade de aplicar TI para transformar ou criar novos negócios para as empresas.
Com isso, somente agora as empresas podem focar no seu core business e em seus clientes e não mais na TI.
Esperamos quase 30 anos para entregar soluções com custos efetivamente mensuráveis e sem termos que estimar sistemas e infraestruturas superdimensionados que resguardavam a TI de possíveis problemas de capacidade. Até então era melhor entregar a mais e pagar muito mais caro para termos uma grande capacidade ociosa.
Certamente que isto não é uma tarefa tão simples assim. Uma jornada para a nuvem é longa e não pode ser tratada pela TI como sendo apenas uma migração de data center, ao se fazer isto, correremos o risco de não conhecer os reais benefícios da nuvem. Escolher os workloads que irão para a nuvem é uma tarefa um tanto quanto complexa, assim como, definir o modelo de nuvem a ser utilizado para cada tipo de Workload.
Agora, como podemos alinhar as nossas estratégias de cloud com as estratégias de negócio de forma a assegurar que este utilize os serviços em nuvem da melhor maneira possível?
Primeiramente é preciso adicionar a nuvem dentro da sua estratégia digital, ou posicionar as suas ações de nuvem como sendo o alicerce desta estratégia, afinal, muitas das soluções que a compõem certamente irão nascer ou serem hospedadas na nuvem. Embora possível, não é aconselhável tratar a nuvem como sendo algo apartado ou simplesmente um projeto isolado.
Um segundo passo seria através da estratégia digital identificar as áreas ou processos da empresa onde a TI pode focar para assegurar a entrega de produtos e serviços em nuvem, de forma que estes possam realmente transformar o negócio. A nuvem oferece flexibilidade, por este motivo é importante adotar uma maneira de revisar regularmente a sua estratégia digital, justamente para verificar se as iniciativas de nuvem planejadas continuam sendo relevantes e entregarão os resultados esperados.
Através desta revisão é importante entender se os serviços já entregues via cloud continuam atendendo as expectativas do negócio, assim como, criar um mecanismo de aprendizagem para evitar que falhas ocorridas não se repitam nas novas implementações.
Falar em nuvem é falar em inovação, é falar em tecnologias disruptivas. Por este motivo é preciso posicionar a TI como sendo um agente de inovação e transformação. É necessário identificar soluções e tecnologias potencializadas pelo advento da nuvem a fim de entregar soluções rápidas e disruptivas e com alto valor agregado para as áreas de negócio.
Um terceiro passo está relacionado ao monitoramento do portfólio de projetos da TI, no qual consiste em usar o portfólio para priorizar as iniciativas de nuvem, criando assim um laço das ações de nuvem com os projetos em andamento e também com os projetos de melhoria dos ambientes ou serviços que já estão em utilização. É importante estar sempre revisando este portfólio para identificar novas oportunidades de uso da nuvem e não apenas as iniciativas de inovação
Obviamente que tudo isto deverá ser suportado e apoiado pelas áreas de desenvolvimento, infraestrutura, segurança da informação e principalmente pelas áreas de operação, que terão um papel fundamental para manter tudo isto funcionando. Investimentos em capacitação da equipe de TI e investimentos em ferramentas de automatização serão fundamentais, afinal, administrar os serviços em nuvem é totalmente diferente de administrar os nossos data centers. Tudo isto será uma consequência natural desta jornada, desde que suas ações de nuvem estejam em linha com as estratégias de TI e da organização, desta forma o valor da cloud será naturalmente percebido pela empresa.
A jornada para a nuvem é um caminho longo e que requer uma visão de futuro, é uma mudança tecnológica, organizacional e cultural. Por este motivo é necessário planejar esta jornada e principalmente medir a eficiência e eficácia de sua estratégia de nuvem, apenas desta maneira será possível mostrar o valor da nuvem e a real transformação que ela pode proporcionar a TI e principalmente ao negócio.
*Daniel Rosa é consultor de arquitetura e soluções globais de TI na Votorantim Cimentos.
Fonte: ComputerWorld