O finlandês Linus Torvalds era um estudante de ciência da computação na Universidade de Helsinque, aos 22 anos, quando, em 25 de agosto de 1991, decidiu criar um singelo projeto.
“Eu vou fazer um sistema operacional livre”, escreveu o aspirante a engenheiro em uma mensagem na web, afirmando que essa tarefa seria feita como um hobby. Passados 25 anos, o sistema operacional de código aberto Linux, cujo símbolo é um pinguim, se transformou em algo grande – muito grande. Segundo a consultoria W3Techs, o Linux é o sistema de 67% dos servidores de web do mundo.
As páginas de Facebook, Google, Pinterest e Wikipedia, por exemplo, rodam nele. A Microsoft, que combateu o programa nos primeiros anos, já cedeu e aceita o software em sua plataforma de computação em nuvem. Carros, televisores inteligentes e até termostatos estão saindo de fábrica com o código desse sistema. Nada, no entanto, se compara ao poder que o Linux adquiriu no mundo da mobilidade. Explica-se: o Android, sistema operacional móvel do Google, equipa 84% dos smartphones vendidos no mundo. Sabe qual o código que está por trás do software dos robozinhos verdes? O Linux, claro.
“Foi nesse momento que o Linux conquistou o mundo”, afirma o sociólogo Sérgio Amadeu, professor e pesquisador da Universidade Federal do ABC, ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação no governo Lula e um dos principais defensores do software livre, que permite aos desenvolvedores a manipulação do seu código-fonte. Em seu livro Just For Fun, Torvalds explicou que a criação do Linux se devia à sua impaciência com sistemas operacionais que nunca lhe agradavam. O projeto já nasceu no espírito do compartilhamento do conhecimento, estimulado pelo próprio finlandês.
“Não tenho orgulho de nenhum código que escrevi, porque eu mandava e-mails para muitas pessoas dizendo: ‘Ei, você é um expert nessa área, pode consertar esse código?’”, disse o engenheiro, em uma conferência em Toronto, no Canadá, na segunda-feira 29. O primeiro nome do sistema foi Freax, fusão das palavras Free (livre) e Unix, um sistema que precedeu a criação do Linux e que foi adquirido pela AT&T. Sua grande vantagem é ser aberto, ao contrário do Windows, da Microsoft. Na prática, significa que pode ser alterado e adaptado às necessidades das empresas.
Depois, pode ser compartilhado com qualquer companhia ou consumidor sem nenhum custo. Por essa razão, construiu uma grande comunidade que lhe dá suporte. Nos últimos 25 anos, segundo a Linux Foundation, onde Torvalds trabalha, 13,5 mil desenvolvedores de 1,3 mil companhias contribuíram para o desenvolvimento do núcleo principal do sistema. “O Linux gerou muitos negócios no mundo em torno de sua existência devido às vantagens do processo colaborativo”, afirma Amadeu. Apenas no Brasil, o software livre movimentou US$ 1,5 bilhão, em 2015, um aumento de 25% em relação a 2014. A cifra ainda é pequena diante de um mercado total avaliado em US$ 12,5 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software.
Mas a sua aplicação ultrapassa barreiras nacionais a ponto de ser difícil de precisar qual é o real tamanho de mercado. A própria Microsoft usa o Linux no Azure, o seu sistema de computação em nuvem. Torvalds ainda viu seu sistema ser utilizado não apenas por empresas de tecnologia. O Linux já está nos carros da americana Tesla, que usa o sistema nas telas que controlam seus veículos. As montadoras Toyota, Honda e Ford patrocinam o projeto Automotive Grade Linux, cujo objetivo é desenvolver software para conectar carros. Tevês inteligentes da Samsung e LG também rodam o software do pinguim, assim como os termostatos da Nest, o leitor de livro eletrônico Kindle, da Amazon, e os drones da 3DR. Nada mal para um projeto que começou como um hobby e transformou Torvalds numa celebridade entre os nerds.
Fonte: IstoE