Em junho de 2014, acompanhei o Guilherme, que trabalha comigo na Insania, até o cartório de Registro Civil na Rua Frei Caneca. Estava aguardando o reconhecimento de firma sentada ao lado de um senhor que falava com outra senhora de como era bem organizado o Cartório da Alameda Santos. Que era informatizado etc. Fiquei curiosa e mais atenta quando ouvi ele falar “certificado digital” e claro, me introduzi na conversa.
E ele continuou falando sobre a informatização nos cartórios. E eu não poderia perder a oportunidade para sondar seu conhecimento sobre o Portal de Registro Civil (www.registrocivil.org.br), projeto de um de nossos clientes da agência que estávamos trabando na época – ARPEN- SP. Veja a campanha na imagem ao lado.
Perguntei se ele sabia que poderia solicitar a segunda via da certidão pela internet e receber em sua casa. E ele não só conhecia o Portal de Registro Civil como já tinha utilizado e me falou do Portal. Incrível! Como precisava desta certidão no mesmo dia ele foi pessoalmente ao cartório senão teria pedido pela internet.
A essa altura, já estava torcendo para que não chamassem o número da fichinha do Guilherme.
Lembrei que as segundas vias das certidões de nascimento, casamento e óbito podem ser eletrônicas, enviadas por e-mail com a assinatura digital. E ele me perguntou? Você sabe o que é um certificado digital? Sem me deixar responder me deu uma aula básica sobre chaves públicas e privadas, criptografia assimétrica e por ai foi.
Depois me perguntou se eu sabia quem tinha descoberto a criptografia assimétrica e eu prontamente respondi o R , o S e o A. Sim, Ron Rivest, Adi Shamir e Len Adleman, disse ele. Opa! Ali vi que ele não era apenas um leigo bem informado.
E então o forcei a se apresentar. Bem, eu estava conversando com Henrique Costabile* que foi presidente do SERPRO, da FEBRABAN, PRODESP entre outras inúmeras e não menos ilustres atividades de sua vida profissional. E ele me disse que foi um dos primeiros a implantar a criptografia (simétrica) no Brasil num projeto da Forças Armadas, se não me engano em 1967.
A conversa se estendeu muito. A certidão do Guilherme ficou pronta e continuávamos falando sobre certificação digital e de pessoas que fizeram parte da implantação dessa tecnologia no Brasil, conhecidos em comuns. Entre eles, o Dr. Marcos da Costa, atual presidente da OAB SP, que sabe tudo e mais um pouco sobre certificação digital e demonstrou isso quando ainda fazia parte da comissão de tecnologia da FEBRABAN.
Adorei a conversa, fiquei com pena de ter que ir embora. O convidei a escrever um artigo para nosso blog. Vamos ver se ele nos brinda com um artigo.
É sempre muito bom conversar com as pessoas que contribuíram e contribuem com a implantação dessa tecnologia e conhecer suas percepções sobre o momento atual quando já termos mais de seis milhões de certificados digitais emitidos na hierarquia brasileira e muitas aplicações no judiciário, na saúde, em órgão públicos, na iniciativa privada, nos cartórios etc.
O mercado financeiro é que ficou para trás na adoção dessa tecnologia. Noutro dia, estava relendo um artigo de 2002 ou 2003 em que o Ariosto da Receita Federal do Brasil falava sobre o futuro e nele ele dizia que a expansão do uso da certificação digital se daria pelo meio do mercado financeiro. É o que todos nós acreditávamos naquela época, mas vamos reservar esse tema para outro artigo do blog.
Temos muito a evoluir no campo da criptografia e identificação digital em relação as funcionalidades, aplicações, legislação, usabilidade etc, mas temos que admitir que já conquistamos muito.
E vamos em frente!
* Henrique Costabile
Engenheiro formado na Escola Politécnica da USP, com aperfeiçoamento em Administração Financeira pela Fundação Getúlio Vargas, especializou-se, nos Estados Unidos, em Computação e Marketing e, na França, em Redes de Dados e Telecomunicações.
Em sua carreira profissional exerceu vários cargos públicos, foi professor da PUC/SP e trabalhou em grupos financeiros de porte como Citibank, Unibanco, Banco Itamarati, Banco Antônio de Queiroz e Banco Fibra.
No governo, já exerceu os cargos de Diretor da Prodesp, Subsecretário de Serviços da Secretaria Especial de Informática, membro do Conselho Nacional de Informática e diretor de logística da Caixa Econômica Federal, onde desenvolveu projetos relevantes como a prestação de serviços bancários em estabelecimentos comerciais e cartórios de todo o país e a implantação do Cartão do Cidadão.
Foto: Cítala, Scytale em inglês, é considerada a primeira ferramenta criptográfica, formada por um cilindro com uma tira de pergaminho enrolada ao seu redor, no qual uma mensagem é escrita. Fonte da foto: Siriarah