Inteligência Artificial e a educação: IA pode analisar o desempenho do aluno, permitindo criação de experiências educacionais personalizadas
Por Rodrigo Bouyer

Ao perguntar ao ChatGPT se este pensa– considerando que há em sua essência o critério de inteligência vinculado à artificialidade neural das máquinas – que o fator humano na educação pode ser substituído pela IA, a resposta é a seguinte: “A inteligência artificial tem o papel de complementar e melhorar o ensino humano de diversas maneiras, mas substituí-lo completamente pode ser um desafio”.
Entremeada em todos os setores da sociedade, a tecnologia promove inovação também na área de ensino superior no Brasil. Entretanto, a que se presta, por exemplo, dentro de uma sala de aula, o uso de Inteligência Artificial no preparo de alunos?
O questionamento — num primeiro momento – parece incrível ou até mesmo futurista. Mas a prática pedagógica conjuminada à tecnologia tem legado à modernidade um benefício vultoso. Atentemo-nos, contudo, ao tema da ética que deve ser debatido.
Estamos na quarta revolução industrial e diversos questionamentos pululam na mente do educador, hodiernamente; eis algumas questões: como acomodar ao ensino algo que parece ser ainda tão intangível e, em certa medida, inescrutável?
Como dominar algo que, como um bicho indômito, não possui bridas suficientemente resistentes para que haja contenção e previsão de seus movimentos por meio de regulamentações? Como assimilar um recurso que hoje ainda é incipiente? Será a IA mais um meio pelo qual serão ainda mais precarizadas as escolas ou há no uso desta uma revolução patente, pronta e necessária?
Intento, a princípio, deslindar certos aspectos mais positivos que circundam a questão: as palavras usadas no presente para pensar o futuro são inovação, criação e descoberta. Ensino e Inteligência Artificial, quando compõem a mesma temática, se encaixam nessas três condições.
A Inteligência e a educação, associadas, podem analisar o desempenho de cada aluno, permitindo a criação de experiências educacionais personalizadas e adaptativas que atendam às necessidades individuais de aprendizagem.
Outro ponto: a automação de tarefas rotineiras libera o professor da burocracia, dando-lhe tempo para elaborar melhor as aulas e o material aplicado em sala. Por meio desta, pode haver recursos para fazer uma análise preditiva, perscrutando as áreas em que o aluno possui melhor desempenho, dificuldade, podendo até mesmo sugerir intervenções para beneficiar o sucesso acadêmico deste.
A educação tende a se tornar quesito de maior quilate. Por meio de plataformas online e ferramentas baseadas em IA, o ensino superior pode se tornar mais acessível a um público mais amplo, incluindo estudantes remotos ou com necessidades especiais.
A IA está transformando a forma como a pesquisa é conduzida nas universidades, acelerando descobertas científicas, analisando grandes conjuntos de dados e facilitando a colaboração de pesquisadores em todo o mundo.
Eis que esta é uma projeção positiva quanto à inteligência artificial. Mas quais seriam os embargos – a exemplo dos problemas éticos – ocasionados pelo uso da ferramenta? Será que todas as pessoas que estudam poderão ter acesso a esse meio? Ou seja, em que medida essa é uma solução democrática?
É provável que – devido à redução de custos – as instituições de ensino rechacem questões do âmago humano que nos são caras como inventividade e criatividade em nome de um meio facilitador que pensa, processa dados e executa funções – ainda menos complexas e mais binárias – por todos nós, seres humanos?
Os questionamentos são inúmeros e chegam até mesmo a ter maior volume do que as certezas que envolvem o tema. É fato que, se escolhermos avalizar cada vez mais essas implementações, outros projetos – até mesmo mais urgentes – que valorizam muito mais a interação entre pessoas (professor e aluno) serão engavetados, perdendo-se no tempo.
Quanto à classe social: nos resta saber se os mais beneficiados nesse processo serão os endinheirados ou os endividados; ou seja, aqueles que muitas vezes para estudar recorrem às universidades pagas, endividando-se para poder partilhar conhecimento.
O futuro pode ser catastrófico: é provável que haja precarização do setor assim como ocorreu com outras áreas, como a música, o cinema e a literatura. Estas foram atividades que não se exauriram completamente, mas que sofreram mudanças significativas com a debandada de diversos profissionais que atuavam na área, mas que ficaram desprotegidos (um bom exemplo: a greve dos roteiristas, nos EUA, que mobilizou toda a categoria do segmento).
O âmbito humano foi substituído pela demanda digital. O descontentamento foi geral, e esse mercado – com toda a sua pluralidade – agonizou. Conforme dito neste artigo, se critérios forem estabelecidos por meio de lei e de regulamentações que garantam benefícios aos professores, o uso da IA tende a ser bem-vindo. Se houver substituição de pessoas por máquinas e prejuízo nas interações entre professor e aluno, obscurece-se o cenário.
Nos dias de hoje, a verdade é muitas vezes ambivalente ou até mesmo plural; um mesmo fato pode muitas vezes ter diversos vieses. Obviamente, a iniciativa em muitos pontos tende a funcionar – em muitos lugares esta já é uma realidade –, mas as comunidades mais pobres em cujo espaço não há sequer uma banda larga com boa conectividade padecem.
Resta saber se o Brasil seguirá o exemplo dos países de primeiro mundo, como a China ou os EUA, nos quais o uso é feito com alguma responsabilidade e de fato ajuda na inovação do ensino. Se, entretanto, aqui, não houver meios que estabeleçam regras ao novo conceito – que tem se aperfeiçoado a cada dia – o projeto tende a crescer aos solavancos, provocando uma cisão ainda maior entre os que podem ter uma instrução de qualidade e os indivíduos carentes, aos quais lhes faltam condições para que haja equidade na educação.
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