A NTT é uma das grandes consumidoras de energia no mercado japonês e consumiu no último ano mais de 8 bilhões de kilowatts de energia
Por Clezia Gomes
Diante de um cenário global mais adverso, empresas japonesas continuam a investir em inovação e diversificação de parceiros para viabilizar ecossistemas abertos, virtualizados e sustentáveis com menor consumo energético, formação constante de profissionais digitais, muita colaboração, segurança e confiança
A sociedade está mudando drasticamente e as pessoas estão vivendo e percebendo isto, cada uma a seu modo.
Esta transformação social se intensificou com a pandemia e com sucessivas crises geopolíticas, que têm mudado o panorama de negócios mundial e impactado efetivamente o processo de globalização.
As divergências entre EUA e China e a invasão da Ucrânia pela Rússia colocaram a união global dos países em cheque e geraram uma das maiores crises de logística e abastecimento das últimas décadas.
Foi diante deste cenário, durante a NEC Vision Week 2022, realizada no dia 15 de setembro, na ocasião da palestra “A Visão de futuro da NTT e da NEC sobre redes avançadas e o mundo ao seu redor”, os dois principais executivos das gigantes japonesas, Akira Shimada, CEO e presidente da NTT Inc., e Takayuki Morita, presidente e CEO da NEC Corporation, discutiram o panorama atual e as expectativas de evolução futura dos seus negócios e do mundo.
A conversa foi mediada pelo especialista Kenji Nonaka, sócio sênior da McKinsey & Company, que logo de início destacou a parceira estratégica das duas companhias, as quais trabalham juntas há dois anos no desenvolvimento de redes avançadas de telecomunicações.
“As mudanças geopolíticas recentes são realmente muito significativas com impactos diretos nos negócios de empresas em todo o mundo. Primeiro, tivemos a pandemia da COVID 19, que foi um grande catalizador. Depois, vieram os conflitos dos EUA com a China e a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que afetaram o modo como vínhamos fazendo negócios e a continuidade da globalização. O maior impacto foi na área de supply chain, que está prejudicando o abastecimento e a produção em diversos países este ano e deve continuar no próximo”, comentou Morita, da NEC.
Shimada completou afirmando que outro fator sério e que merece cada vez mais atenção são as mudanças climáticas, que provocaram a inundação de 30% das terras do Paquistão e têm feito os países europeus sofrerem com rios secos e falta de água.
“O mundo finalmente despertou para a necessidade de reduzir as emissões de carbono, mas neste momento de transição, os países e empresas envolvidos nesta causa ainda enfrentam grandes dificuldades”, avalia o presidente da NTT Inc..
Morita salienta, ainda, que o descaso com a preservação ambiental tem impactado o sudeste asiático, provocando fortes rajadas de vento, que agora têm chegado ao Japão, com tempestades inesperadas, que causam problemas de infraestrutura energética e de comunicações, entre outras.
“Hoje, ao mesmo tempo que sofremos com os perceptíveis riscos à segurança econômica, Elon Musk lança satélites de comunicações no espaço e nos lembra que precisamos de uma infraestrutura robusta e resiliente, especialmente de Tecnologia da Informação e de Comunicações para desenvolver mecanismos sociais que respondam com alta flexibilidade e eficiências com as fortes e constantes oscilações da Era Digital. A questão é como as empresas e a sociedade podem evoluir de modo a criar a resiliência necessária para um futuro melhor”.
É preciso consumir menos energia, ser sustentável e produtivo
Um dos grandes desafios atuais é a sustentabilidade.
É um consenso social que as empresas e sociedades devem ser mais sustentáveis e darem suas contribuições para a preservação do planeta.
“Existe uma forte pressão social para que as empresas e governos trabalhem para isto, mas, apesar de boas iniciativas, tem sido difícil atingir os patamares necessários para conter a velocidade das mudanças climáticas. No contexto global, o Japão tem feito bons avanços na transição das formas de produção de energia, conseguindo ampliar a produção de energia renovável para atender ao aumento do consumo, porém continua com uma grande produção de carbono”, comentou o moderador Nonaka.
A NTT Inc. é uma das grandes consumidoras de energia no mercado japonês e consumiu no último ano mais de 8 bilhões de kilowatts de energia, sendo que a expectativa é de que este consumo dobre até 2040.
“O Japão começou a exigir a descarbonização do mercado em 2013 e nós já reduzimos nossas emissões de carbono em 34% de 2013 até 2022, o que é um bom resultado em termos de economia de energia”, informou Shimada. Porém, segundo o executivo da NTT, será muito difícil conseguir ampliar esta redução diante da necessidade de dobrar o uso de energia para atender às futuras demandas do mercado por soluções que garantam acesso de qualidade e irrestrito a vídeos e ao Metaverso. “O desafio é atender a migração natural dos espaços virtuais bidimensionais para tridimensionais, com soluções energeticamente mais sustentáveis”, enfatizou Shimada.
Diante desse contexto, a alternativa da NTT tem sido utilizar cada vez mais energias renováveis e novas tecnologias como IOWN (Innovative Optical and Wireless Network), cuja finalidade é substituir circuitos eletrônicos semicondutores por ópticos, e diminuir o uso de energia em surpreendentes 120%. Entretanto, isto deve levar ainda uma década”, explicou Shimada.
Esta realidade fez a NTT iniciar de imediato a adoção de placas semicondutoras ópticas e de devices optoeletrônicos com o intuito de cortar em cerca de 80% o uso de energia nos próximos dois ou três anos, cumprindo, assim, uma das etapas de sua descarbonização.
A expectativa da companhia é atingir sua meta final de consumir 50% da energia que necessitará a partir de fontes renováveis e os outros 50% pela introdução de IOWN, até 2040.
Só assim será viável gerir o tráfego do gigantesco volume de dados tridimensionais, possibilitando que as operadoras ofereçam serviços com a qualidade e a agilidade necessárias para que os usuários tenham atendidas suas expectativas por altas capacidades para manter suas redes transacionais.
“Por isso, nosso desafio é encontrar a fórmula para reduzir o consumo de datacenters e redes, mesmo com a evolução para 6G e 7G, bem como próximas tecnologias, e contamos com o apoio da NEC para isto”, reforçou Shimada.
Morita se mostrou também preocupado com a futura demanda energética e afirmou que sua empresa já está investindo em fábricas verdes para as soluções 5G, visando ter geração de carbono neutra.
“Temos dezenas de fábricas no Japão e pretendemos transformá-las em neutras na emissão de carbono, pois a importância dos nossos negócios exige que tenhamos este compromisso. Visamos emissão zero, usando energias renováveis e rastreando com maior precisão nossa cadeia de suprimentos para que todos nos ajudem a cumprir nossas metas ambientais”, explicou o executivo da NEC.
De acordo com ele, uma das grandes dificuldades é ser capaz de rastrear ao máximo se a energia dos diversos elos da cadeia é proveniente de energias renováveis ou de outras fontes que emitem carbono e a companhia tem uma iniciativa chamada “GreenGlobex”, que visa especificamente este controle.
É preciso diversificar a cadeia de suprimentos e viabilizar as redes abertas
Os recentes conflitos mundiais, em especial a guerra na Ucrânia, estão tendo um impacto relevante nas relações de negócios mundiais, afetando fortemente a cadeia logística e provocando falta de insumos e atrasando processos produtivos nos mais variados países.
“A escassez de insumos tem nos motivado a buscar novas tecnologias e fornecedores, mostrando que estamos no caminho certo ao investir em soluções inovadoras e virtuais para viabilizar as redes abertas, que tendem a ganhar a confiança do mercado e a permitir considerável redução de custos a longo prazo”, acredita Morita.
O fato é que multifornecedores destas tecnologias estão se tornando mais comuns no setor de TI, à medida que as empresas optam cada vez mais por serviços “As a Service” (SaaS) para atender suas necessidades de negócios, inclusive em sistemas críticos.
Essa tendência tende a se intensificar em Telecomunicações, setor no qual são necessárias e significativas as demandas por redundâncias, incluindo para oferecer chamadas de voz. Isso abre espaço para o crescimento das iniciativas Open RAN, principalmente relacionadas a soluções de fibras ópticas com virtualização, a fim de tornar as redes mais seguras e com alta redundância.
“As redes abertas deixaram a fase de provas de conceito e passaram à etapa de verificação final, que antecede a comercialização, e o mercado está muito interessado em saber como a arquitetura aberta chegará efetivamente”, disse o presidente da NEC.
A NTT Docomo, por exemplo, lançou uma rede baseada em Open RAN há dois anos por meio do consórcio “5G Open Ran Ecossystem”, que conecta vários fornecedores de máquinas e devices.
Além disso, a operadora japonesa fez vários testes de interoperabilidade e performance com devices em um ambiente aberto e o grupo constatou que a arquitetura aberta é uma excelente oportunidade para o avanço das soluções de IoT.
“Exemplo disto é que testamos um novo equipamento NEC em nosso Shared Open Lab, que será lançado no mercado em breve”, contou Shimada, da NTT.
Morita defende que as redes abertas estão se tornando realidade porque respondem a três demandas intrínsecas das operadoras: interoperabilidade, conexão entre vários devices diferentes; custo total de propriedade (TCO), mostrando que sua operação e manutenção são viáveis; e integração, que inclui viabilizar a conectividade com as infraestruturas já existentes.
“Nós temos uma boa quantidade de recursos no Japão e operadoras, com a NTT Docomo, têm grande capacidade de engenharia, por isso temos avançado mais rápido. Em outros países, ainda há uma certa falta de recursos e por isso estão avançando mais devagar, inclusive em termos de oferta e gestão de serviços, mas tendem a evoluir também. Para ajudar nisto, adquirimos a Aspire Technology, que nos ajudará a impulsionar os negócios com soluções de rede e integração de sistemas”, explicou o executivo da NEC.
As duas empresas também estão atuando juntas no desenvolvimento de soluções 5G para os mais variados setores industriais, sendo que a NTT tem um laboratório em Munique só para testar os sistemas que estão sendo oferecidos para as fábricas alemãs.
Como lidar com o trabalho remoto e atender às novas demandas geradas
A pandemia tornou o trabalho remoto uma realidade em todo o mundo e a tendência é que nos próximos anos muitas reuniões ocorram no Metaverso.
Com isso, a demanda por mobilidade tende a crescer exponencialmente, assim como as mudanças no estilo de trabalho de algumas indústrias, acelerando o fim de algumas profissões e mudando de forma acentuada a estrutura social.
A NEC e a NTT estão atentas a este movimento e vêm tomando algumas providências para aperfeiçoar e treinar a mão de obra qualificada de que precisa agora e demandará no futuro.
De acordo com o executivo da NTT, a companhia está inclusive treinando pessoas com idades mais avançadas para promover inclusão digital “Estamos ativamente desenvolvendo recursos humanos digitais, especialmente porque sabemos que serão necessários muitos profissionais para avançar com a experiência digital futura que será demandada pela sociedade. Treinamos recentemente 8.300 pessoas, das quais 500 se mostraram aptas a trabalhar no mercado de TIC e tiveram direito a outros cursos para garantir um futuro no setor, sendo que destes 250 viraram nossos funcionários”, informou Shimada.
A tecnologia precisa trazer valor para a sociedade e para isto é essencial que se invista em educação e formação de pessoas, assim como ocorreu nas duas revoluções industriais anteriores.
Por esta razão, muitas empresas no mundo devem investir para formar profissionais digitais e promover a inclusão digital de todos a fim de garantir os negócios futuros.
“Acreditamos que é preciso investir em educação e qualificação constantemente, tanto é que pretendemos dobrar ou triplicar nosso capital humano nos próximos anos. Para isto, temos a NEC DX Academy, que prepara nossos colaboradores para atuarem com aperfeiçoamento de experiências digitais e segurança da informação. Trata-se de uma academia que é referência e que tendemos a tornar acessível para clientes, parceiros, escolas e universidades, como parte de nossa responsabilidade social de preparar as pessoas para a evolução da Era Digital”, detalhou Morita.
Para Shimada, qualificar é vital em um ambiente de trabalho remoto, que hoje permite às pessoas decidirem a melhor forma e lugar para trabalhar com maior eficiência e produtividade.
“Em nossa companhia temos agora mais de 30 mil colaboradores atuando remotamente, do local que mais os convêm”, detalhou o presidente da NTT.
Colaboração e resiliência serão as marcas do futuro digital
As duas gigantes japonesas trabalham em sinergia e colaboração para propiciar ao mercado inovação, eficiência e segurança para tornar as redes abertas avançadas realidade em todo o mundo.
“Atualmente, nós temos sete equipes colaborativas focadas em temas de alto interesse para a evolução dos setores de TI e Telecomunicações, como Open RAN, segurança e expansão de cabos submarinos. Estamos também desenvolvendo um software inteligente, baseado em inteligência artificial, chamado RIC – RAN, que será usado para controlar apropriadamente as redes e terá certificação de segurança, cujo lançamento ocorrerá em breve”, explicou Morita.
Segundo ele, este produto está relacionado com a resiliência da infraestrutura, que deverá contar com a integração de cabos submarinos, cabos terrestres, wireless com fibra óptica e nos próximos anos com satélites.
Shimada completou apontando que o objetivo é uma infraestrutura resiliente, que significa energeticamente mais eficiente.
Uma das opções viáveis é a maior adoção de tecnologias IOWN, que são usadas para converter semicondutores elétricos em ópticos, mas podem ser utilizadas, por exemplo, para fazer uma rede fotônica completa com fibra óptica de fim a fim, mais rápida e estável.
“Queremos comercializar esta solução em 2025 e a NEC já está viabilizando os devices necessários. O próximo passo são realmente a inclusão dos satélites, pois precisamos descobrir como usar a mesma tecnologia para conectá-los com alta velocidade e capacidade de tráfego. Criamos softwares e hardwares juntos e queremos dar continuidade a nossa colaboração para oferecer infraestruturas de rede cada vez mais confiáveis e resilientes”, completou Shimada.
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