O DREX sistematiza sua operação com base em ativos digitais, utilizando um ambiente de tecnologia de registro distribuído
Por Gabrielle Ribon
Estamos no meio de janeiro de 2024 e uma viralização inusitada já aconteceu no site X (antigo Twitter): um vídeo feito pelo Banco Central do Brasil (BCB) alcançou mais de 1,4 milhões de visualizações. Nele, de uma forma leve, prática e direta, o BCB explica a diferença entre o PIX, sistema de pagamento amplamente utilizado pelos brasileiros, e o DREX, moeda digital em desenvolvimento pelo Banco Central e com previsão para lançamento até o final de 2024.
Em uma rede normalmente movimentada por polêmicas, Big Brother Brasil e memes, surpreende o alcance do vídeo postado por um usuário, elogiando a comunicação do BCB.
Os principais comentários levantaram, além de novos elogios, outros tópicos sobre a criação da moeda digital brasileira: como, em um país como o Brasil, temos um banco central que “dá aula” de inovação em pagamentos para o mundo inteiro? Seria o DREX capaz de substituir os cartórios?
O Sistema de Pagamentos Brasileiro (também conhecido pela sigla SPB) é premiado no mundo todo por suas inovações, principalmente com foco em segurança e eficiência.
Nosso sistema de pagamentos foi impulsionado a ser ágil desde os tempos da hiperinflação das décadas de 80 e 90, cenário em que qualquer demora para liquidar os pagamentos feitos podia ter efeitos financeiros impactantes. No entanto, foi nos últimos 20 anos que o BCB trabalhou intensamente em reestruturações significativas no SPB, principalmente em termos de riscos, segurança e tecnologia.
E essas reestruturações são fáceis de notar no nosso cotidiano. Assim como o PIX trouxe uma revolução na forma de pagar do brasileiro nos últimos anos, a TED e o DOC assumiram essa mesma importância em 2002. O meio de pagamento mais utilizado, até aquele momento, era o cheque, que refletia em um custo alto para todo o sistema bancário para sua alta compensação, além de pouca segurança e praticidade em seu uso.
A transformação na estrutura do SPB, portanto, colhe seus frutos até hoje, como uma árvore genealógica que apresenta novos descendentes. E está pronto para receber seu mais novo desdobramento, o DREX.
O DREX sistematiza a sua operação com base em ativos digitais e contratos inteligentes, utilizando um ambiente de tecnologia de registro distribuído. Ou seja, utiliza a tecnologia blockchain para garantir que uma transação seja concluída quando todas as condições dela sejam cumpridas.
Um exemplo dado no vídeo é a famosa situação de compra de um carro usado. Sempre surge a dúvida de quem deve dar o primeiro passo na transação: é necessário transferir o dinheiro primeiro ou realizar a transferência da documentação? A existência dessa dúvida traz insegurança para a operação, que promete ser resolvida pelo DREX.
Caso a moeda digital seja escolhida para essa transação, a titularidade do carro e o dinheiro são transferidos de forma simultânea; caso uma das pontas (seja a transferência do carro, seja a existência de saldo para o pagamento) apresente algum problema, a operação não é concluída e as partes não sofrem perdas. É um passo revolucionário em termos de riscos com garantias, perdas com fraudes e agilidade das operações.
Da mesma maneira que aconteceu a reestruturação do SPB em 2002, que proporcionou aumento da concorrência, aumento dos participantes do sistema financeiro e uma ampliação relevante dos portifólios de produtos das instituições, que passaram a ter mais segurança e estabilidade para desenvolver novos produtos e serviços, o DREX soluciona riscos que os participantes do SPB precisam conviver há anos e abre um novo leque de oportunidades para inovação.
Caso o BCB consiga apresentar um sistema robusto, seguro e bem integrado, o crédito pode se tornar mais acessível com a diminuição de perdas e riscos, e cabe à imaginação dos integrantes criar serviços e produtos customizados aos clientes, ampliando o acesso ao sistema financeiro.
O Banco Central também aplaca uma dúvida que surge em muitas pessoas que ouvem falar do DREX pela primeira vez: o que vai acontecer com o PIX? Fica claro na comunicação que o PIX e o DREX cumprem papéis bem diferentes no cotidiano dos usuários.
Enquanto o DREX é utilizado em operações que possuem condicionantes, como execução de garantias ou recebimento de bens, o PIX continuará servindo como pagamento instantâneo e imediato de bens e serviços, como, por exemplo, pagar um restaurante ou fazer uma compra em uma loja.
Quanto à existência dos cartórios, o DREX ainda não promete essa mudança radical. É evidente que, com a existência dos smart contracts, a relação dos usuários com o cartório já será diferente, pois não é necessário autenticações ou reconhecimentos de firma em diversos casos. No entanto, os cartórios ainda são necessários para verificar a existência de bens imóveis e outras atividades.
Como a necessidade é um grande motor de inovações, o DREX traz outras necessidades que impulsionam, inclusive, a reinvenção dos cartórios, que já se adaptam a rotinas com menos burocracias, estudam a implementação de redes blockchain em seu dia a dia. Assim como o TED, o cheque e o cartão de crédito não morreram, mas reinventaram seu uso e se adaptaram à existência do PIX, os cartórios e os contratos também buscarão formas de se adaptar e prestar novos serviços para a sociedade em um futuro muito próximo.
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