O ILTACON 2024 trouxe em sua programação outros conteúdos voltados para o uso da Inteligência Artificial no meio jurídico
Por Rubens Manino, diretor-executivo da TOTVS Juritis
Depois do ILTACON 2024, é impossível não refletir sobre o quanto esse encontro é valioso para a discussão das principais tendências acerca do uso da tecnologia no setor jurídico.
O evento da International Legal Technology Association (ILTA), realizado em Nashville, Tennessee, nos Estados Unidos, reuniu especialistas da indústria, da tecnologia e membros da comunidade jurídica.
Todos os anos o evento gera boas reflexões e aprendizados, e nesta edição não foi diferente. Até porque, um dos seus temas foi a tecnologia mais comentada da atualidade: a aplicação da Inteligência Artificial (IA) no setor jurídico.
Este foi justamente um dos assuntos abordados em uma das principais palestras do evento, comandada pela professora de matemática de cidades, Hannah Fry. Os ensinamentos da renomada professora sintetizaram grande parte do que acredito com relação a adesão da IA.
Em seu discurso, Hannah destacou uma perspectiva crucial na revolução da IA: essa tecnologia não deve ditar nossas ações, nós é que devemos moldá-la de acordo com nossas necessidades e valores.
Assim, a medida em que incorporamos a IA no meio jurídico, é importante que ela seja adotada como um co-piloto que auxilia na tomada de decisões e acelera processo, mas sempre com o princípio de que nós estamos firmemente no controle. Essa abordagem contrasta fortemente com a ideia de colocar a IA no “piloto-automático”, e seguir suas diretrizes cegamente.
O ILTACON 2024 também trouxe em sua programação outros conteúdos voltados para o uso da IA no meio jurídico. Umas das pautas que mais nos chamou a atenção foram modelos e metodologias para os escritórios de advocacia de fato integrarem e adotarem a tecnologia da IA no dia a dia de suas operações.
Ao extrapolar as concepções teóricas desta tecnologia e aterrissar em medidas e ações práticas para o uso da inovação, acredito que os profissionais conseguiram obter importantes insights durante a conferência.
A companhia de tecnologia iManage, por exemplo, apresentou na feira o Modelo de Maturidade do Trabalho do Conhecimento, que enquadra à adoção de novas tecnologias como uma jornada abrangente que envolve pessoas, processos, tecnologia e conteúdo.
De acordo com este framework, o caminho para a adoção da IA não se trata apenas sobre tecnologia, mas também sobre fomentar uma cultura de inovação, colaboração e melhoria contínua.
Outro importante momento de aprendizado do evento foi o momento em que Hannah Fry destacou o quanto a jornada de integração da IA se assemelha ao processo de desenvolvimento de produtos utilizando metodologias Ágeis.
O modelo Agile, com sua ênfase no desenvolvimento iterativo, colaboração com o cliente e resposta rápida às mudanças, fornece um excelente modelo de como os escritórios de advocacia podem abordar a adoção da IA.
Assim como é relevante mencionar o conceito da Advocacia 5.0, também tratado no ILTACON 2024, onde as tecnologias estão centradas em atender às necessidades humanas com base na Inteligência Artificial e Big Data.
A Advocacia 5.0 utiliza IA para tarefas rotineiras, permitindo maior precisão e previsibilidade. Metodologias ágeis, Visual Law e Legal Design também fazem parte dessa abordagem.
O objetivo é agilizar processos, simplificar e impactar positivamente a sociedade, alinhado com práticas ESG, e automatizar tarefas massivas e repetitivas, para que o advogado se concentre em compreender as necessidades reais do cliente e equilibrar o relacionamento mediado pela tecnologia.
A jornada de adoção da IA nos escritórios de advocacia não é um destino, mas um processo contínuo que exige planejamento cuidadoso, colaboração e uma disposição para se adaptar.
Deste modo, a aplicação dos princípios Ágeis à integração da IA é de grande valia para os escritórios de advocacia garantirem não apenas o acompanhamento com as últimas tendências tecnológicas, mas também a utilização da tecnologia de IA de forma a aprimorar os seus serviços, melhorar os resultados para os seus clientes e manter a integridade da profissão jurídica.
A programação do evento neste ano foi muito enriquecedora, e à medida que continuamos a explorar as possibilidades da IA no meio jurídico, lembremos da sabedoria da professora Hannah Fry: a IA está aqui para nos ajudar, mas cabe a nós guiá-la em uma direção que esteja alinhada com nossos valores e aspirações.
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