Encontramos grandes empresas que não protegem seus certificados digitais para assinatura de códigos de forma adequada
Por Eder Alvares P. Souza
Há poucas semanas a Kaspersky, uma empresa de origem russa, considerada uma das mais importantes empresas de Segurança Eletrônica do mundo, revelou ter sido vitima de um ataque cibernético destinado a espionar seus trabalhos de pesquisa e ate roubar códigos fonte de seus pedidos.
Considerado pela Kaspersky um ataque extremamente sofisticado, e que também teve outros alvos importantes como os participantes das negociações internacionais sobre o programa nuclear do Irã, o mesmo foi chamado de Duqu 2.0 devido a semelhança com o Duqu, já descoberto em 2011.
Um ponto relevante da descoberta foi sobre o modo como parte do código utilizado no ataque conseguiu se camuflar no sistema operacional do alvo e até executar tarefas consideradas restritas e permitidas somente à códigos autorizados.
Isso só foi possível devido ao Duqu 2.0 possuir um driver assinado digitalmente com um certificado digital Authenticode de propriedade da Foxconn e possivelmente furtado.
A Foxconn é uma empresa fabricante de equipamentos eletrônicos para diversas empresas como Apple, Sony, LG, Microsoft, entre outras, e provavelmente utilizava seus certificados digitais para efetuar a assinatura dos drivers desenvolvidos para os produtos fabricados.
A questão principal é que, diversos sistemas operacionais estão confiando nos certificados digitais para autenticar bibliotecas, drivers e até softwares e assim, autorizar a sua execução com privilégios mais elevados.
O uso dos certificados digitais com esse propósito, o de autenticar aplicativos e parte de códigos, já é uma realidade para diversas empresas como para a Apple e o Google, que só permitem a instalação e execução de aplicativos móveis em seus aparelhos se estiverem corretamente assinados.
A Microsoft também adota a mesma técnica para garantir autenticidade de drivers e softwares que precisam de privilégios elevados para executar determinadas tarefas no Windows, e até no mundo Linux, para instalar um software o instalador verifica se o pacote foi assinado corretamente antes de iniciar a instalação, descartando qualquer pacote que apresente problema com a assinatura ou com as chaves utilizadas.
Manter esses certificados digitais e chaves criptográficas protegidas de forma adequada é fundamental para garantir a segurança de todos os participantes dessa cadeia e quando um certificado digital com esse poder é furtado e utilizado de forma inadequada, todos os usuários dessas plataformas correm o risco de pagar e muito caro por isso.
Entretanto, é fácil encontrar empresas que não protegem seus certificados digitais para assinatura de códigos de forma adequada, fornecendo munição a esses atacantes que, com acesso a um desses certificados, poderá assinar e instalar códigos maliciosos que serão reconhecidos como confiáveis pelos sistemas dos usuários.
Proteger e dar acesso somente às pessoas autorizadas para a utilização desses certificados digitais é uma obrigação da empresa proprietária, que pode ter seu certificado digital imediatamente revogado se for comprovado o uso indevido deste, e assim, sofrer impactos na indisponibilidade de seus softwares e até dados a sua imagem.
Com isso, escolher formas apropriadas de proteção, como o uso de estações de trabalho desconectadas da rede corporativa e até o armazenamento das chaves em HSMs para a sua proteção, são fundamentais para garantir que esses certificados digitais não fiquem expostos a riscos como uso ou cópia não autorizada.
A elaboração de uma politica de acesso e uso desses certificados também contribui muito para garantir que somente o time responsável pela atividade de assinatura de códigos utilizem e da forma adequada.
Assim, não deixaremos que uma tecnologia tão importante e que vem para nos proteger no mundo digital, seja utilizada contra nós.
É isso e até a próxima!
- Mestre em Engenharia de Software pelo IPT-SP, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e especialização em Segurança da Informação pelo IBTA e bacharel em Ciências da Computação pela FAC-FITO.
- Professor do curso de Segurança da Informação do Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada e responsável pelo tema Criptografia e Certificação Digital.
- Atua há quinze anos na área de Tecnologia e Segurança da Informação e atualmente é Diretor Técnico na e-Safer Consultoria.
- Vivência no desenvolvimento de produtos e implantação de soluções de Segurança e Certificação Digital em empresas de grande porte.
- Eder é colunista e membro do conselho editorial do Instituto CryptoID.
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