Uma declaração recente de Eric Schmidt, ex-CEO do Google, levantou um debate global sobre os impactos da inteligência artificial (IA) nas interações humanas.
Segundo Schmidt, um número crescente de jovens estaria optando por relacionamentos com parceiros virtuais alimentados por IA, em vez de se engajar em conexões humanas reais. O comentário gerou repercussão entre especialistas, que apontam tanto os avanços quanto os desafios éticos dessa tendência.
Cristina Boner, empresária e uma das maiores referências no setor de tecnologia no Brasil, destacou que a crescente adoção de IAs em aspectos íntimos da vida cotidiana exige atenção redobrada.
A nova era dos relacionamentos digitais
A popularidade de aplicativos de IA, como companheiros virtuais e assistentes personalizados, tem crescido rapidamente. Plataformas que utilizam IA oferecem parceiros digitais capazes de simular conversas, expressar emoções e até “aprender” sobre o comportamento do usuário, tornando a experiência extremamente personalizada.
“Essas tecnologias estão cada vez mais sofisticadas, mas também exploram as vulnerabilidades emocionais de muitas pessoas”, destacou Cristina. “Jovens que encontram dificuldade em estabelecer conexões reais podem recorrer à IA como um meio mais seguro e controlado de interagir. O problema é que essa escolha pode levar ao isolamento e à perda de habilidades sociais fundamentais.”
Boner enfatizou os desafios psicológicos que podem surgir a partir dessa substituição de relacionamentos reais por virtuais. “A IA não tem reciprocidade emocional verdadeira, apenas a ilusão dela. Isso pode criar expectativas distorcidas sobre como os relacionamentos humanos funcionam, resultando em decepção e desengajamento com o mundo real.”
Além disso, há implicações éticas e comerciais. A empresária Cristina Boner alerta que muitos desses aplicativos têm objetivos que vão além da interação emocional. “Precisamos questionar o que está por trás dessas tecnologias. Há um risco real de que dados pessoais e comportamentais coletados nessas interações sejam usados de forma inadequada, criando um novo mercado de exploração digital.”
Cristina Boner ressalta que o problema não está na tecnologia em si, mas no uso desmedido dela. “Não devemos demonizar a inteligência artificial, mas é essencial educar os usuários, especialmente os jovens, sobre os limites saudáveis. A tecnologia deve complementar nossas vidas, não substituí-las.”
Ela propõe que o debate sobre o tema inclua a criação de regulamentações e campanhas de conscientização. “As empresas de tecnologia têm responsabilidade em estabelecer limites éticos claros. Paralelamente, escolas e famílias precisam promover o diálogo sobre a importância de manter conexões humanas genuínas.”
Enquanto especialistas discutem os impactos da IA nas relações interpessoais, o fenômeno aponta para um futuro em que a interação humana pode se tornar menos prioritária para uma parcela significativa da população.
“Estamos em uma encruzilhada”, concluiu Boner. “Precisamos decidir agora até que ponto estamos dispostos a permitir que a tecnologia influencie aspectos fundamentais de nossa humanidade. O desafio é encontrar um equilíbrio em que a IA nos apoie sem nos desconectar de nós mesmos e dos outros.”
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