Uso da tecnologia IoT pode criar soluções que tragam mais independência às pessoas com deficiência, mas para que produtos e serviços comecem a aparecer é preciso que os profissionais envolvidos desenvolvam a mentalidade focada no uso da ciência e tecnologia
Além de ter um impacto positivo em diversas áreas – como no mundo dos negócios, na proteção ao meio ambiente e na conexão de pessoas em áreas remotas – a Internet das Coisas (IoT) traz grandes oportunidades para o empoderamento, inclusão e independência de pessoas com deficiência. No Brasil, este é um bom segmento a ser explorado, visto que 24% dos brasileiros possuem algum tipo de deficiência, segundo o IBGE.
“Na IoT o relacionamento entre os objetos pode acontecer sem a intervenção humana. Deste modo, um objeto com funcionalidades de servidor pode ser responsável por descobrir situações em outros objetos, e articular relações, empregando mecanismos de ciência de contexto. Isso apresenta um grande efeito equalizador, garantindo inclusão social e acessibilidade”, afirma Paulo José Spaccaquerche, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC).
“Isso significa que as deficiências físicas individuais podem precisar de menos apoio de outras pessoas, dando à pessoa com deficiência mais independência e autonomia”, completa.
Soluções em IoT já existem, mas precisam expandir
Um exemplo é o aplicativo Holandês Crosswalk, que ajuda aqueles que enfrentam dificuldades ao atravessar a rua. Uma vez instalado em um smartphone, o serviço permite que as pessoas “acessem” os sistemas de semáforo que libera um sinal sonoro avisando quando for seguro atravessar a rua, uma solução de grande utilidade para pessoas com deficiência visual.
Há, no entanto, uma questão que ainda precisa ser maturada. Apesar de ajudar pessoas com deficiência, as soluções em IoT não são desenvolvidas pensando nelas.
Para Bruno Mahfuz, fundador do Guiaderodas, integrar o design universal nos produtos e serviços seria um fator que beneficiaria, e muito, a acessibilidade: “Um grande ponto a ser considerado ao desenvolver soluções IoT é pensar no design universal (um enfoque no design de produtos, serviços e ambientes a fim de que sejam usáveis pelo maior número de pessoas possível independente de idade, habilidade ou situação) e promover a realização de testes com diferentes usuários, incluindo pessoas com deficiência.”
“Isso aumenta a capacidade de acessibilidade da iniciativa e mitiga os riscos de ser algo voltado apenas para um certo grupo de pessoas”, destaca.
Cadeirante há quase 20 anos, Bruno fundou, em 2016, o Guiaderodas, empresa de tecnologia a favor da acessibilidade. Sua missão é que todos possam conhecer o nível de acessibilidade a pessoas com dificuldade de locomoção nos mais diversos estabelecimentos.
Futuramente, seu plano é integrar o aplicativo com assistentes virtuais para facilitar o acesso às informações apenas pelo comando de voz: “Certamente as soluções em IoT podem agregar muito valor ao serviço que já entregamos às pessoas com deficiência e, neste caso, também com mobilidade reduzida”, destaca.
Mercado precisa de foco e capacitação para evoluir
Com todos os benefícios que as soluções IoT podem trazer para a acessibilidade, o que falta para este mercado despontar? Muitas expectativas giram em torno da chegada do 5G no Brasil, mas isso não é um impeditivo, visto que é possível fazer muita coisa utilizando as redes celulares já disponíveis, como 3G e 4G.
Uma prova disso é a iniciativa do engenheiro Dalton Oliveira, Advisor na Wardston Consulting e Membro do Conselho Consultivo da ABINC. À época em que não se falava em edge computing, IoT e AI, ele colocou em prática um de seus projetos autorais, fazendo uso de um iPhone 5S com rede celular 3G, em meados de 2014, para construir uma prova de conceito para empoderar cadeirantes paraplégicos e tetraplégicos de qualquer idade, dando-lhes liberdade e autonomia para algumas tarefas diárias e minimizando a completa dependência do cuidador.
À época, ele relata que não encontrou parceiros no Brasil interessados no projeto. Foi quando ele demonstrou o funcionamento para parceiros norte-americanos, com quem tem trabalhado: “É um produto game changer e em constante evolução. Foi pensado na experiência e no engajamento do usuário e daqueles que o rodeiam. Ele é baseado nas últimas tecnologias de IoT, AI, e engenharia embarcada. Atualmente, está em fase de certificação e homologação. Já temos parceiros interessados nos cinco continentes, e logo estará desembarcando no Brasil”, revela.
Na visão de Dalton Oliveira, em uma época em que se fala muito sobre metodologias e frameworks (o “como” entregar), falta o mindset de “mais prática e menos teoria” (o “o que” entregar) e espaço no mercado de trabalho para Engenheiros de Produto e Engenheiros de Aplicação: “Precisamos de profissionais com a mentalidade focada no uso da ciência e tecnologia para o benefício de pessoas com deficiência, pois a demanda já temos e as possibilidades são infinitas”, afirma.
“Uma vez que saúde e cidades são verticais abordadas pelo Plano Nacional de IoT, é de grande utilidade que empresas desenvolvedoras de tecnologias adotem uma política de dados abertos para que outros players do setor consigam trazer vida a um novo produto ou serviço que sirva de complemento a uma ideia já existente, incluindo o foco na acessibilidade”, completa.
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Sobre a ABINC
A ABINC, Associação Brasileira de Internet das Coisas (http://www.abinc.org.br), foi fundada em dezembro de 2015 como uma organização sem fins lucrativos, por executivos e empreendedores do mercado de TI e Telecom. A ideia nasceu da necessidade de se criar uma entidade que fosse legítima e representativa, de âmbito nacional, e que permitisse a atuação em todas as frentes do setor de Internet das Coisas.
A ABINC tem como objetivo incentivar a troca de informações e fomentar a atividade comercial entre associados; promover atividade de pesquisa e desenvolvimento; atuar junto às autoridades governamentais envolvidas no âmbito da Internet das Coisas e representar e fazer as parcerias internacionais com entidades do setor.
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