Na coluna anterior, foi descrita a ciberespionagem global e a necessidade de inovação na cibersegurança, em seu conceito mais holístico e estratégico, evitando as armadilhas dos pontos cegos nas corporações. Neste artigo, abordaremos um tema comum ao nosso cotidiano: a segurança de dispositivos móveis, categoria que inclui desde smartphones até tablets.
Há dois anos, a tecnologia móvel se consolidou de vez no Brasil. Segundo pesquisa da consultoria Morgan Stanley, as vendas somadas de smartphones e tablets em 2013 superaram pela primeira vez a de PCs e notebooks, e os tablets se tornaram o segundo tipo de computador mais popular do País, ultrapassando os desktops (PCs). Mas apesar de trazerem avanços, os dispositivos móveis não conseguiram evitar problemas que há anos atormentam os usuários de PCs: os vírus e os chamados malwares (softwares maliciosos).
Desde então, as principais empresas de segurança emitiram alerta sobre o crescimento do número de ameaças. A McAfee advertiu que, nos primeiros nove meses de 2013, o número de novos códigos maliciosos cresceu 50 milhões, chegando a 172 milhões em setembro. O principal motivo seria o crescimento do mercado móvel – ao todo, mais de 70 milhões de celulares em uso no Brasil, segundo a Morgan Stanley – o que levaria os cibercriminosos a ter como alvo tablets e smartphones, deixando os PCs e notebooks em segundo plano.
Segundo o Instituto Ponemon, os dispositivos móveis foram o maior foco das ameaças em 2014. Os principais ataques teriam origem em três fontes: SMS, phishings e aplicativos falsos, a maioria baixada fora de lojas oficiais de aplicativos como a App Store, do sistema iOS da Apple, e o Google Play, do Android.
Destaca-se que mais de 90% das infecções de vírus em dispositivos móveis podem ocorrer pela falta de atualização dos sistemas operacionais dos aparelhos. E podem ser evitadas se o usuário adotar hábitos de prevenção. Contudo, muitas pessoas são “clicadoras” compulsivas e, como resultado, não prestam atenção onde clicam. E, via de regra, os aplicativos só são instalados quando o usuário autoriza. De certa forma, instalar um aplicativo do qual não se sabe a procedência é o mesmo que abrir a porta de casa à noite para um estranho.
Portanto, baixar aplicativos ou apps somente de lojas oficiais é uma boa maneira de minimizar as chances de instalar arquivos maliciosos em tablets e smartphones. Apesar de haver riscos envolvidos, as empresas responsáveis por tais lojas costumam remover rapidamente aplicativos com problema, visando proteger o usuário.
Ao instalar aplicativos de outra fonte, o usuário promove uma quebra da proteção do sistema operacional por permitir a instalação de aplicativos não autorizados pela empresa, o que torna o sistema mais vulnerável a ameaças. E, muitas das vezes, o problema fica tão sério que o usuário se vê obrigado a formatar todo o celular.
Ressalta-se que há vários tipos de malwares para celulares, incluindo Cavalos de Tróia, spywares e vírus destrutivos. Uma das ameaças mais recentes é o Fake Defender, um malware exclusivo para Android, que trava o aparelho do usuário e exige o pagamento de um determinado valor como resgate.
No Brasil, ao invés de apps falsos, o que mais acontece é o ataque de phishing, em formato específico para usuários de smartphones e tablets, que manda uma mensagem falsa, via SMS ou redes sociais, como armadilha para “fisgar” vítimas incautas. Outra fonte de problemas para usuários de tablets e smartphones são redes Wi-Fi em locais públicos, como shoppings, aeroportos e restaurantes.
Há o risco de haver, nestes lugares, falsos pontos de acesso Wi-Fi implantados por criminosos. O brasileiro precisa parar de usar tais redes sem preocupação. Não é recomendado usar aplicativos de bancos ou redes sociais nessas redes. Há sério risco de roubo da senha.
A adoção da prática conhecida como BYOD (sigla em inglês para “traga seu próprio dispositivo”) nas empresas também traz problemas para companhias e funcionários. As empresas ficam vulneráveis aos hábitos digitais dos colaboradores. De acordo com a Symantec, o custo médio anual causado às empresas brasileiras por incidente cibernético advindo de dispositivos móveis é de US$ 296 mil. Um cenário que tende a se agravar, já que a Gartner estima que, até 2018, 70% dos trabalhadores do mundo usarão dispositivos móveis no trabalho.
Observa-se que o sistema operacional móvel mais usado no mundo, o Android, é hoje também o principal alvo de vírus do mercado. Em 2012, o sistema do Google concentrou 79% das ameaças digitais criadas para dispositivos móveis, segundo pesquisa da finlandesa F-Secure. Na sequência, estaria o Symbian da Nokia, que foi descontinuado, com 19%, seguido pelo iOS da Apple, com 0,7%.
Além de ser a plataforma mais usada no mundo, com cerca de 70% do mercado – o equivalente a sete em cada dez smartphones –, o Android é um sistema aberto, o que pode aumentar os riscos.
Sistemas como Windows Phone e Blackberry OS, embora também sujeitos a infecções, são fechados e atualmente possuem menos vírus. Já o usuário de Android não pode se dar ao luxo de não usar antivírus, como os disponibilizados (gratuitamente) pela PSafe e pela Avast.
Muitas pessoas hoje enfrentam problemas de segurança no smartphone mesmo tendo instalado aplicativos diretamente da loja oficial Google Play. Em alguns casos, depois da instalação, as pastas do smartphone (como as de música, vídeos, entre outras) começam a se multiplicar sozinhas.
Quando se tenta apagar algumas, elas todas desaparecem e se perde todo o conteúdo. A solução muitas vezes passa por restaurar o sistema inteiro. Muitos aplicativos também carregam spam e propagandas que deixam o celular lento, ocupando um enorme espaço na memória do telefone.
Mas vírus e malwares não são mais privilégio de um único sistema operacional. Todos estão sendo cada vez mais visados, com ataques concentrados no Android e nos dispositivos móveis da Apple.
Até 2012, havia o mito da “imunidade a vírus” no sistema iOS. Este mito se desfez quando surgiu naquele ano o cavalo de Tróia Flashback, que se disfarça como um plugin do Adobe Flash. Foi um pesadelo para os devotos dos dispositivos móveis da Apple, pois este cavalo de Tróia conseguiu roubar milhares de nomes de usuários e senhas.
Um estudo da empresa SourceFire apontou, no ano passado, que o iOS acumulou um número maior de vulnerabilidades do que todos os seus concorrentes juntos nos últimos anos – 81%, contra 6% do Android. Mas o mesmo estudo destaca que a utilização do iTunes e as regras da Apple para apps em sua loja virtual acabam ajudando a proteger usuários e a reduzir casos de malware.
Veja agora a que se deve ficar atento, em relação a ameaças e proteção dos dispositivos móveis:
Sinais de que um dispositivo foi infectado por vírus: a bateria descarrega rapidamente; o aparelho tenta se conectar sozinho a outros, via Bluetooth; a conta do celular fica mais alta do que a de costume ou os créditos acabam muito rápido.
Riscos a que o usuário está exposto, se o dispositivo for infectado: vazamento de informações pessoais, como senhas e dados bancários; furto de imagens do álbum de fotografias; vazamento de dados da lista de contatos; destruição do sistema operacional do aparelho, podendo causar danos também ao hardware; ter ligações interrompidas ou impedidas.
Como remover vírus de tablets ou smartphones: apague o aplicativo suspeito de causar a infecção; instale um antivírus no aparelho e faça uma varredura; conecte o celular ao computador e faça uma varredura com um antivírus, como em um pen drive; se os passos anteriores não resolverem, restaure as configurações originais do aparelho (esta operação apaga todos os dados salvos no dispositivo).
Como proteger o dispositivo e evitar possíveis infecções: use senha para bloqueio e desbloqueio do aparelho; desconfie de SMS, mensagens de WhatsApp, redes sociais e e-mails que peçam senhas de acesso; procure instalar aplicativos somente de fontes seguras, tais como lojas oficiais; mantenha o sistema operacional atualizado; use um antivírus; jamais clique em links suspeitos; evite usar Wi-Fi gratuito; busque referências de outros usuários antes de instalar um aplicativo em seu dispositivo; verifique a lista de permissões do aplicativo (por exemplo, um app de alarme não deve solicitar acesso aos contatos para ser instalado).
Por fim, esperamos que tenhamos contribuído com nossas explicações e dicas de segurança para aparelhos móveis. Bons ventos a todos vocês, queridos leitores, e até o nosso próximo artigo!
Reprodução de artigo escrito por Paulo Pagliussi .
Sobre Paulo Pagliusi
· Diretor de Cyber Risk Services na Deloitte;
· Ph.D. in Information Security – University of London;
· Mestre em Ciência da Computação pela UNICAMP;
· Pós-Graduado em Análises de Sistemas, pela PUC – RJ;
· Vice-Presidente da ISACA (Information Systems Audit and Control Association) Rio de Janeiro;
· Vice-Presidente da CSABR (Cloud Security Alliance Brasil);
· Colunista CryptoID.