Após a disponibilização de programas para a criação de imagens, a discussão sobre a responsabilidade no uso dessas tecnologias voltou
Por Ivan Bastos
No último mês, uma foto rodou o mundo: Papa Francisco vestindo um casaco moderno de matelassê, no estilo daquelas roupas de esquiadores, totalmente fora dos padrões aos quais estamos acostumados para tal personalidade.
A imagem, claro, era falsa e foi desmistificada pouco tempo depois pelos olhos mais minuciosos, que perceberam ligeiras distorções nas lentes dos óculos, na mão direita do pontífice e na ausência do cordão do crucifixo.
Mas enquanto as publicações corretivas buscavam espaço a passos lentos, o compartilhamento viral provocado pela curiosidade ou pela estranheza atingia velocidade incalculavelmente maior, muitas vezes sem qualquer chance de esclarecimento.
Apesar de a notícia sobre a inveracidade agora já ter sido divulgada nos principais canais pelo mundo, certamente ainda há parte da população sem saber que – ou sem entender como – o alvoroço foi causado por uma ferramenta de inteligência artificial utilizada pelo americano Pablo Xavier, engenheiro de formação e artista digital com pouco mais de (acredite!) 2,5 mil seguidores na rede social onde publicou a imagem.
Após a disponibilização de programas para a criação de desenhos por meio de IA e, recentemente, a geração de textos inteiros com simples comandos, voltou à tona a discussão sobre a responsabilidade no uso dessas tecnologias e até que ponto elas se desenvolvem a um nível inalcançável pelo ser humano.
Simultaneamente à replicação desenfreada na internet do suposto Papa Francisco de jaqueta, assisti em Las Vegas com outros líderes da WEBJUMP aos anúncios realizados pela Adobe, uma das maiores multinacionais de softwares, de tecnologias que irão reformular a maneira como interagimos com o mundo. Entre elas, a própria ferramenta de geração de imagem por IA.
Proprietária de uma coleção de produtos integrados para marketing online e análise da web, além de um banco de imagens com 100 milhões de opções, a Adobe anunciou o lançamento do Firefly, gerador de figuras por IA, que utilizará como base todo o acervo do Stock Photos, com possibilidades infinitas para criação de fotos, desenhos e até imagens 3D.
Entre as diferenças, estão as credenciais embutidas às artes finais, que permitem a distinção de conteúdos feitos por inteligência artificial, além da abertura sobre os tipos de dados com os quais o modelo é treinado, indo na contramão de concorrentes, que não adotam tal transparência.
Para a companhia, o objetivo do novo programa é ser um assistente de produção dos criadores, antecipando soluções e atuando como um ‘co-piloto’, para ajudá-los a serem mais eficientes.
A hiperpersonalização, customização 1:1, permitirá que qualquer marca geradora de conteúdo possa entregar uma experiência totalmente particular para cada consumidor e atingir a pessoa certa, no momento certo, a fim de ampliar o engajamento e efetividade das ações de marketing com os clientes.
Em versão beta, a ferramenta já foi disponibilizada para alguns sortudos. E, aos olhos dos espectadores e fãs da empresa, a Adobe transforma definitivamente a tecnologia mais uma vez.
Mas não apenas pela qualidade de qualquer solução que entrega, o que torna a marca verdadeiramente tão única é o debate que faz questão de trazer junto a todos os anúncios: até que ponto utilizaremos recursos como este sem perder a questão do ineditismo, da criatividade?
Será que nos tornaremos reféns da automação perfeccionista e deixaremos de lado justamente as pequenas imperfeições que nos fazem humanos?
A verdade é que a tecnologia sempre foi um aliado do ser humano. Todos os mecanismos de IA vão impulsionar e aprimorar a força de trabalho diariamente. Em suma, quem não a utilizar, ficará cada vez mais ultrapassado.
Para nós, estar presente em encontros como esse vai muito além de acompanhar lançamentos do mercado. É a conexão entre o que nós podemos fazer com a tecnologia e quem nós queremos ser com ela.
Ao mesmo tempo em que nos empurra para mais uma imersão no mundo digital, provoca uma completa reflexão sobre o que queremos preservar aqui de fora.
Sozinha, inteligência artificial não é o bastante
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