A inteligência artificial é uma tecnologia que vem transformando diversos setores, da indústria e educação ao setor jurídico e de saúde
Por Renata Franco de Paula Gonçalves Moreno

A Inteligência Artificial (IA) é uma tecnologia emergente e em rápida evolução, que vem transformando diversos setores, da indústria e educação ao setor jurídico e de saúde. No ambiente empresarial, seu potencial para impulsionar inovação, eficiência operacional e vantagem competitiva é inegável.
No entanto, os benefícios da IA caminham lado a lado com desafios importantes, especialmente quando sua aplicação não é guiada por princípios de responsabilidade, transparência e governança ética. Para que a IA seja, de fato, um ativo estratégico, é essencial que sua adoção esteja alinhada às boas práticas de desenvolvimento e uso consciente da tecnologia.
A inteligência artificial já está revolucionando a forma como coletamos, analisamos e utilizamos dados ambientais. No monitoramento ambiental, por exemplo, sistemas baseados em IA processam imagens de satélite, sensores e dados meteorológicos para detectar desmatamentos, queimadas e mudanças climáticas em tempo real.
Isso permite não apenas a atuação preventiva por parte de governos e organizações, mas também o desenvolvimento de cadeias produtivas mais responsáveis e transparentes — fator cada vez mais valorizado por consumidores, investidores e reguladores.
Além do monitoramento, a IA tem papel decisivo na previsão de eventos extremos, como inundações, secas e incêndios florestais. Empresas que atuam em setores sensíveis ao clima — como agronegócio, energia, logística e seguros — podem se beneficiar imensamente da capacidade preditiva da IA para mitigar riscos, otimizar operações e proteger ativos.
No campo da eficiência operacional, a IA também se destaca. Redes elétricas inteligentes, sistemas de climatização automatizados e modelos preditivos de consumo energético são apenas alguns exemplos de como a tecnologia pode reduzir custos e emissões ao mesmo tempo.
Na agricultura e na indústria, a chamada “produção inteligente” impulsionada por IA permite usar insumos com mais precisão, minimizar desperdícios e aumentar a produtividade com menor impacto ambiental.
Outro aspecto estratégico é o apoio que a IA oferece à formulação de políticas corporativas mais robustas e sustentáveis. Ao integrar dados ambientais, econômicos e sociais, a IA possibilita análises preditivas que orientam decisões mais embasadas — seja no planejamento de sustentabilidade, nos relatórios ESG, ou na adaptação a novas legislações ambientais.
Empresas inovadoras já estão aplicando IA em projetos de captura e monitoramento de carbono, economia circular, otimização logística e até mesmo desenvolvimento de produtos com menor pegada ecológica.
Plataformas como o Climate TRACE e programas como o AI for Earth, da Microsoft, mostram que a integração entre IA e sustentabilidade deixou de ser uma tendência e passou a ser uma exigência competitiva.
Embora a Inteligência Artificial (IA) represente um avanço significativo em eficiência, produtividade e inovação, seu desenvolvimento e aplicação também geram impactos ambientais que precisam ser considerados de forma estratégica pelas empresas.
O treinamento de modelos de IA, por exemplo, exige volumes expressivos de energia — muitas vezes oriunda de fontes não renováveis — aumentando a pegada de carbono e contribuindo para as mudanças climáticas.
Além disso, a fabricação de hardware especializado demanda a extração de minerais e recursos naturais, o que pode provocar degradação ambiental, impactos sociais nas cadeias de suprimento e o aumento do volume de lixo eletrônico.
Esses fatores tornam urgente uma abordagem empresarial que considere não apenas os benefícios da IA, mas também seus efeitos colaterais. Ainda há desafios significativos relacionados à privacidade de dados, viés algorítmico e uso indevido de informações, que podem comprometer a confiança do público e expor as empresas a riscos legais e reputacionais.
Outro ponto crítico é a atual lacuna regulatória. A ausência de uma legislação específica sobre IA no Brasil e em grande parte do mundo cria um cenário de incerteza jurídica, dificultando a aplicação direta das leis existentes, especialmente em temas como consumo de energia, extração de recursos naturais, geração de resíduos eletrônicos e emissões associadas à tecnologia.
Apesar disso, algumas normas brasileiras podem ser interpretadas para abranger os impactos ambientais da IA. A Lei nº 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), define “poluição” como qualquer alteração adversa às características do meio ambiente, conceito que pode incluir o impacto ambiental de data centers, modelos computacionais e sistemas digitais.
Já a Lei nº 12.305/2010, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, fornece diretrizes claras para a destinação correta do lixo eletrônico, o que se aplica diretamente ao descarte de hardware associado à IA.
Além disso, a Lei nº 14.133/2021, que trata das licitações e contratos administrativos, estabelece critérios de sustentabilidade que podem, e devem, ser aplicados à aquisição de tecnologias, exigindo atenção ao consumo energético, à durabilidade e ao impacto ambiental de equipamentos utilizados pelo setor público.
No cenário internacional, acordos como o Acordo de Paris incentivam a adoção de práticas sustentáveis que podem abranger a redução do consumo energético em operações tecnológicas. A União Europeia, por sua vez, já caminha para diretrizes mais claras sobre IA sustentável, incluindo requisitos de eficiência energética e responsabilidade ambiental na fabricação de hardware.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível que as empresas incorporem práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG) em suas estratégias de transformação digital. Isso inclui avaliar o ciclo de vida das tecnologias utilizadas, adotar fontes renováveis de energia, aplicar critérios de sustentabilidade nas aquisições e exigir de parceiros e fornecedores padrões ambientais compatíveis.
No entanto, é essencial manter o olhar crítico: embora os avanços tecnológicos contribuam diretamente para o monitoramento ambiental e o enfrentamento da crise climática, se o crescimento da IA vier desacompanhado de uma gestão eficaz dos resíduos eletrônicos e de políticas sustentáveis para seu descarte, corremos o risco de apenas deslocar o problema. O verdadeiro avanço exige equilíbrio entre inovação e responsabilidade ambiental, sob pena de comprometermos o futuro que justamente buscamos proteger.
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