Ameaças internas são responsáveis por mais da metade dos incidentes de segurança e exigem ações coordenadas entre pessoas, processos e tecnologia
Por Tiago Neves Furtado

Quando pensamos em ameaças cibernéticas, é natural imaginar ataques externos: hackers, ransomwares, espionagem industrial. Mas e se o problema estiver dentro da empresa?
O risco de que colaboradores – atuais ou antigos – causem danos, intencionalmente ou não, é real e crescente. Essa é a essência do insider threat (ou ameaça interna): quando alguém com acesso legítimo usa (ou perde) esse acesso de forma a prejudicar a organização.
Mais comum do que parece. Mais caro do que se imagina.
Segundo o Ponemon Institute, em 2023, 55% dos incidentes de segurança foram causados por erro humano ou negligência de insiders – mais de 4 mil casos. O custo médio? Quase US$ 505 mil por incidente. Em ataques maliciosos, esse número ultrapassa US$ 700 mil.
E o impacto não é só financeiro. O tempo médio para conter um incidente interno é de 86 dias, o que amplia os riscos para reputação, operação e cumprimento de normas regulatórias.
Não é coincidência que as áreas de vendas (48%) e atendimento ao cliente (47%) estejam entre as que mais concentram riscos internos. São funções com alto acesso a dados e pouca supervisão técnica, o que reforça a ideia de que o problema vai além da tecnologia: é também sobre pessoas, processos e confiança.
Mas o que é, exatamente, um insider threat?
Uma insider threat ocorre quando alguém que tem (ou teve) acesso autorizado a sistemas, informações ou pessoas usa esse acesso de forma inadequada. Pode ser:
- Malicioso, como um colaborador que rouba dados ou sabota um sistema.
- Negligente, como quem ignora alertas de segurança ou compartilha senhas.
- Enganado, como quem cai em um phishing e entrega suas credenciais.
- Confuso ou mal-orientado, como alguém que deleta arquivos por engano.
Ou seja: nem toda ameaça interna é má-fé. Mas todas podem causar prejuízos reais.
Por que é tão difícil lidar com esse tipo de risco?
O grande desafio do insider threat é que, na maioria das vezes, o comportamento do insider é autorizado. Ele tem acesso, conhece os sistemas, e passa despercebido por muitos controles tradicionais.
Além disso:
- Os sinais são sutis e nem sempre técnicos.
- A linha entre erro e má intenção pode ser tênue.
- A confiança operacional pode ser manipulada ou traída.
E, em tempos de cloud, home office e ferramentas colaborativas, a fronteira entre “dentro” e “fora” da organização está cada vez mais difusa.
Como estruturar um Insider Threat Program eficaz?
Não basta instalar ferramentas. É preciso estruturar um programa de prevenção e resposta a ameaças internas com base em três pilares:
1. Políticas e governança
- Definir claramente quem lida com incidentes internos: RH, jurídico, segurança da informação.
- Estabelecer procedimentos claros de resposta, apuração e contenção.
- Garantir que a gestão de identidade e acessos (IAM) esteja atualizada e auditável.
2. Ferramentas e tecnologias
- DLP (Data Loss Prevention) para evitar exfiltração de dados.
- SIEM (Security Information and Event Management) para correlação de eventos.
- UBA (User Behavior Analytics) para detectar comportamentos fora do padrão.
- PAM (Privileged Access Management) para controle de acessos privilegiados.
3. Cultura e prevenção
- Treinar todos os colaboradores sobre boas práticas e riscos.
- Incluir indicadores de comportamento suspeito nos processos internos.
- Monitorar o clima organizacional e sinais de insatisfação.
- Estabelecer planos de desligamento seguros e controles em momentos críticos (como fusões, promoções ou conflitos internos).
Checklist prático: por onde começar?
Com base nas melhores práticas do CERT e da MITRE, aqui estão ações essenciais para criar seu Insider Threat Program:
- Conheça e proteja seus ativos críticos.
- Avalie riscos internos em seus processos e sistemas.
- Monitore acessos e comportamentos fora do padrão.
- Envolva RH, jurídico e TI desde a contratação até o desligamento.
- Aprenda com incidentes passados e atualize suas defesas.
- Reforce a cultura de segurança como valor da empresa.
Não importa o porte da empresa ou o setor de atuação: todo negócio está exposto ao insider Threat. E, muitas vezes, é exatamente esse risco que passa despercebido até ser tarde demais. Criar um Insider Threat Program é uma medida urgente e estratégica para proteger dados, reputação e continuidade. Se a sua empresa ainda não deu esse passo, a hora é agora.
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