“O open banking promete ser a maior transformação digital do nosso sistema financeiro”
Com a primeira fase desse sistema foi iniciada em 1º de fevereiro e na segunda fase, prevista para 15 de julho, os bancos passam a operar com sistemas abertos o que permite aos clientes mais acesso à variedade e qualidade de produtos e serviços financeiros
A partir dessa segunda fase, os clientes, se quiserem, poderão solicitar o compartilhamento entre instituições participantes de seus dados cadastrais, de informações sobre transações em suas contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados.
O compartilhamento ocorre apenas se a pessoa autorizar, sempre para finalidades determinadas e por um prazo específico.
Para falar sobre a segunda fase do Open Banking, entrevistamos Marcelo Fernandes, gerente de Desenvolvimento de Negócios em Telecom, Seguros e Otimização da FICO América Latina, Líder mundial em software de análise preditiva, a FICO tem expertise mundial em open banking.
Crypto ID: Marcelo, quais são os benefícios que o Open Banking traz para a sociedade? E para os bancos participantes quais são as vantagens?
Marcelo Fernandes: Conhecido como Sistema Financeiro Aberto, o open banking é a próxima etapa da maior transformação digital do nosso sistema financeiro. Ele prevê um ambiente de negócios com compartilhamento de dados entre instituições, com a autorização dos consumidores. Criado pelo Banco Central, seu objetivo é ampliar a competição entre as empresas, oferecendo aos clientes condições mais vantajosas, tanto em termos de qualidade dos produtos como de preços mais competitivos.
Na prática, o open banking prevê que os bancos operem com plataformas abertas, consumindo e compartilhando dados através de APIs, que são conjuntos de rotinas e padrões de programação para acesso a um software ou plataforma online. O consumidor poderá, por exemplo, permitir que um banco concorrente acesse seu histórico no banco em que é correntista há muito tempo, conseguindo adquirir produtos bancários com preços reduzidos ou negociar menores taxas de juros com essa outra instituição.
Será criado um ambiente com intenso compartilhamento de dados, em que bancos tradicionais, bancos digitais e fintechs devem estar atentos para aproveitar as oportunidades de crescimento. No caso dos grandes bancos, isso irá potencializar o uso de analíticos para moldar ofertas ainda mais atrativas e vantajosas para atuais e novos consumidores. Já para os bancos digitais, o open banking irá nivelar o campo de batalha entre todos os competidores, o que pode funcionar como um acelerador para o crescimento.
Crypto ID: Participar do programa de Open banking é opcional aos bancos brasileiros?
Marcelo Fernandes: Apenas instituições financeiras que são autorizadas a funcionar pelo BC poderão participar. Dessa forma, aquelas classificadas como S1 (com porte igual ou superior a 10% do PIB ou que tenham atividade internacional relevante) e S2 (com porte entre 1% e 10% do PIB) serão obrigadas a participar do sistema. Outras empresas como administradoras de meios de pagamentos e fintechs também poderão participar, desde que compartilhem informações da mesma forma que os bancos.
Crypto ID: Além dos bancos tradicionais, bancos digitais e fintechs, o open banking também terá outros participantes, por exemplo, empresas que executem serviços de iniciação de pagamento, instituições não financeiras que podem iniciar um pagamento ou recebimento em nome do cliente. Como isso ocorre na prática?
Marcelo Fernandes: No caso de fintechs e outros provedores de serviços financeiros digitais, o open banking irá contribuir para a criação de novas empresas e de novos nichos de mercado. Por exemplo, os agregadores de dados, companhias que vão se dedicar a intermediar a obtenção e o compartilhamento de dados.
Além disso, irão surgir os serviços de iniciação de pagamento, instituições não financeiras que podem iniciar um pagamento ou recebimento em nome do cliente. Existem uma série de serviços de podem ser agregados, como por exemplo a gestão financeira para pessoas físicas e empresas, em que a fintech pode gerir todo o fluxo de caixa em função de obrigações e recebimentos futuros. Eles permitiriam ao consumidor comum e a pequenas empresas terem acesso a um gerenciamento financeiro sofisticado.
Na esteira do open banking, outros tipos de fintechs também devem surgir, como market places de crédito e aplicações; empresas que vão comercializar produtos bancários “white label”; serviços bancários por assinatura; além de diversas outras possibilidades que ainda serão desenvolvidas.
Crypto ID: Quando nos referirmos a open banking, é comum falarmos em transparência. O que isso significa?
Marcelo Fernandes: Como o cliente decide com quem deseja compartilhar os dados, ele irá saber quais instituições têm acesso às suas informações financeiras, pois ele mesmo autoriza o processo. Além disso, as empresas têm acesso às informações por um tempo limitado.
O open banking no Brasil funcionará sob a regulação do Banco Central, que poderá punir as empresas participantes que não sigam as regras de segurança e privacidade de dados. Todo o compartilhamento de informações dentro do ecossistema do open banking estará protegido pela legislação do Sigilo Bancário (Lei Complementar n° 105/2001), que proíbe o compartilhamento de dados para instituições não participantes do Open Banking, assim como proíbe a venda de informações de consumidores para terceiros.
Além disso, o open banking também está sob o guarda-chuva da Lei Geral de Proteção de Dados (n° 13.709/2018), que concede autonomia para o cliente em relação aos seus dados.
Crypto ID: Como ocorre a autenticação no open banking? O cliente faz uma única autenticação e acessa várias instituições? E como é determinado o tipo de autenticação e a combinação de múltiplos fatores, por exemplo?
Marcelo Fernandes: Ela deverá ocorrer dentro do ambiente de cada instituição. Em resumo, o cliente decide se quer autorizar ou não o compartilhamento dos seus dados, quais dados deseja compartilhar e com quais instituições financeiras. O processo será todo realizado em um ambiente com diversas camadas de segurança, com autenticação do cliente e tão somente entre as instituições participantes. Essa autenticação ocorrerá por meio do protocolo de segurança mTLS (mutual Transport Layer Security), assim como a utilização de um perfil de segurança mais elevado, denominado FAPI (Financial-Grade API), que oferecem suporte para a utilização de serviços financeiros. O consentimento gerado para compartilhamento dos dados poderá ser cancelado a qualquer tempo, sempre que o cliente quiser.
Crypto ID: Agora, falando da infraestrutura de tecnologia, como as soluções da Fico contribuem com as instituições financeiras na operação do open banking?
Marcelo Fernandes: As empresas que desejarem explorar as inúmeras possibilidades do novo sistema devem se antecipar e investir em estratégias de centralidade do cliente, com o suporte de analíticos e de plataformas que facilitem a tomada de decisões e a conexão com parceiros.
Nesse contexto, as plataformas decisionais são importantes aliadas. Seus softwares aplicam tecnologias como inteligência artificial (IA), machine learning e analíticos para analisar grandes volumes de dados, fornecendo insumos para uma rápida tomada de decisão. Flexíveis e de arquitetura aberta, elas possibilitam decisões de negócio mais inteligentes e em escala, contribuindo para a fidelização e o encantamento do cliente final. Isso pode incluir exemplos rotineiros como negar uma transação de cartão de crédito por suspeita de fraude ou oferecer uma oferta segmentada, no horário e canal de contato de preferência.
Dessa forma, diante de uma mudança de hábitos de consumo sem precedentes e de recentes evoluções tecnológicas no mercado financeiro brasileiro, as plataformas decisionais se tornaram uma das principais tendências da nova economia digital, sendo fundamentais para a adesão das empresas ao open banking.
A Plataforma FICO® foi projetada para eliminar silos de dados e permitir a interoperabilidade entre aplicativos corporativos. Ao conectar insights derivados de dados de diferentes unidades de negócios, as empresas podem responder rapidamente às necessidades imediatas dos clientes e antecipar suas demandas futuras, resultando em experiências mais profundas e envolventes para os clientes.
Crypto ID: A FICO recentemente fez parceria com a OpenWrks no Reino Unido para melhorar as avaliações de acessibilidade para gerenciamento de clientes e atividades de cobrança. Essa parceria é a combinação de dados de Open Banking com Inteligência Artificial. Aí temos duas questões: 1ª- A Inteligência Artificial apenas melhorará a experiência do cliente e ou também agrega mais segurança para clientes e instituições? 2ª- Essa solução também estará disponível no Brasil?
Marcelo Fernandes: Com relação à abrangência da inteligência artificial, ela poderá ser ampla ou mais restrita, a depender da estratégia de cada instituição financeira com relação ao uso dos dados. De maneira geral, ela tem potencial para melhorar sensivelmente a experiência do cliente, por conta da possibilidade de hiperpersonalização de ofertas e serviços que poderão ser customizados ou criados pelos bancos, atendendo de maneira ativa a necessidades específicas dos clientes.
Como em toda iniciativa de transformação digital, como é o open banking, haverá intenso e crescente tráfego de dados, dentro e fora das instituições. Nesse sentido, a inteligência artificial poderá ser utilizada para melhorar a segurança cibernética dos ambientes, detectando de maneira antecipada potenciais invasores e ajudando a reforçar camadas de segurança dos ambientes por onde trafegarão os dados, oferecendo níveis adicionais de segurança tanto a clientes, quanto às próprias instituições.
A parceria com a OpenWorks é um caso de sucesso da FICO relacionado ao Open Banking no Reino Unido e que foi construída dentro das necessidades e possibilidades que havia no ambiente do Reino Unido. Nós já estamos localmente trabalhando utilizando o conhecimento e tecnologia previamente desenvolvida, porém adaptando às necessidades locais.
Crypto ID: Por fim, como as empresas e consumidores podem aderir ao novo sistema?
Marcelo Fernandes: O open banking está sendo implementado por etapas estabelecidas pelo Banco Central. Na primeira delas, em fevereiro desse ano, as instituições participantes começaram disponibilizando ao público informações padronizadas sobre os seus canais de atendimento e as características de produtos e serviços bancários tradicionais que oferecem. Nessa fase, não foi compartilhado nenhum dado de cliente.
A partir da segunda fase, que começa em 15 de julho, os clientes, se quiserem, poderão solicitar o compartilhamento entre instituições participantes de seus dados cadastrais, de informações sobre transações em suas contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados. É preciso reforçar que o compartilhamento ocorre apenas se a pessoa autorizar, sempre para finalidades determinadas e por um prazo específico. E será possível para o cliente cancelar essa autorização a qualquer momento em qualquer das instituições envolvidas no compartilhamento.
Na terceira fase (30 de agosto), surge a possibilidade de compartilhamento dos serviços de iniciação de transações de pagamento e de encaminhamento de proposta de operação de crédito. Isso abre caminho para o surgimento de novas soluções e ambientes para a realização de pagamentos e para a recepção de propostas de operações de crédito, possibilitando o acesso a serviços financeiros de forma mais fácil, célere e por meio de canais mais convenientes para o cliente, preservando a segurança do processo. Vale lembrar que também nesses casos o compartilhamento só acontece com a autorização prévia e específica do cliente.
E por fim, na quarta fase (15 de dezembro), dados sobre outros serviços financeiros passam a fazer parte do escopo do open banking. Os clientes – sempre que quiserem e autorizarem – poderão compartilhar suas informações de operações de câmbio, investimentos, seguros, previdência complementar aberta e contas-salário, bem como acessar informações sobre as características dos produtos e serviços com essa natureza disponíveis para contratação no mercado. Assim, amplia-se ainda mais a possibilidade de surgimento de novas soluções para a oferta e a contração de produtos e serviços financeiros, mais integrados, personalizados e acessíveis, sempre com o consumidor no centro das decisões.
Crypto ID: Gostaria de acrescentar algo?
Marcelo Fernandes: Importante reforçar que o grande diferencial competitivo que open banking trará às instituições virá não somente pelo acesso aos dados que serão compartilhados pelos clientes, mas pela capacidade e competência de transformarem em realidade dois elementos fundamentais: transformar dados em insights e estratégias, por meio de novos produtos e serviços; operacionalizar todo o processo de decisão (gestão de ofertas, gestão de crédito, cobrança, prevenção à fraude, relacionamento com os clientes, etc.), executando, monitorando e retroalimentando de maneira eficiente as estratégias geradas a partir dos insights baseados nos dados.
Sobre a FICO
Líder mundial em software de análise preditiva, a FICO é especializada em examinar dados e aplicar tecnologias como inteligência artificial, machine learning e analíticos para prever o comportamento do consumidor, otimizando as interações das empresas com seus clientes.
Com atuação em mais de 100 países, a empresa desenvolveu uma plataforma na nuvem que contribui com a tomada de mais de 10 bilhões de decisões de negócio por ano e que protege 2,6 bilhões de cartões contra fraudes.
A FICO reúne mais de 195 patentes globais de tecnologias que aumentam a lucratividade e a satisfação do cliente, colaborando para o crescimento de empresas de diversos segmentos, como financeiro, seguros, varejo, telecomunicações, entre outros. Fundada em 1956 e com sede no Vale do Silício, a FICO inaugurou seu escritório no Brasil em 1998.
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