Por Gabriela De Rolt

Em 2006 eu fui diagnosticada com uma doença autoimune e, desde então, a cada seis semanas tomo uma medicação controlada.
Isso significa que, a cada seis semanas, tenho que me deslocar até o consultório do meu médico apenas para pegar a receita.
Isso faz parte da minha rotina e nunca me acostumei: para ser bem sincera, sempre achei esse deslocamento e burocracia um inferno.
Quando isso tudo começou eu não trabalhava na BRy ainda e nem tinha conhecimento sobre as tecnologias que poderiam possibilitar a desburocratização. Mas já me indignava e já sonhava MUITO com a digitalização desse processo. Até tive uma conversa com meu pai sobre a possibilidade de um sistema integrado entre farmácias, clínicas, hospitais, médicos e pacientes, sem distinção de público ou particular.
Aí veio a pandemia, as medidas de distanciamento social, a liberação da telemedicina… E tudo ficou um tanto diferente. Nesse período, tenho observado com mais atenção e refletido sobre os processos necessários para realizar qualquer atendimento na área de saúde, desde uma consulta até um exame de sangue.
Uma coisa é fato: tudo ainda envolve papel, muito papel.
A papelada dos procedimentos médicos
É verdade que a área de saúde já iniciou a transformação digital, e a maioria dos médicos, clínicas, hospitais e laboratórios contam com tecnologias que colaboram para a eficiência do atendimento e a redução do uso de papel, principalmente no setor privado. Há soluções que ajudam no cadastro dos pacientes, na agenda de consultas, nos prontuários e também na área administrativa. Mas ainda há muito a melhorar.
Tenho um exemplo: por algum tempo foi a prefeitura que disponibilizou o medicamento que eu tomo. Da solicitação à autorização, tudo foi feito em papel. Isso torna o processo extremamente custoso e demorado. O meu prontuário era um arquivo enorme, confuso e suscetível a erros. Na própria sala conseguíamos ver os corredores de armazenamento de todos os arquivos dos cidadãos e o enorme espaço que ocupava.
E a situação não foi muito diferente quando solicitei a medicação para o plano de saúde…
O que percebo é que esses processos ainda são reféns da assinatura manuscrita. E é por isso que continuam dependendo de papel.
A saga para conseguir uma receita e aplicar a medicação
Quando a prefeitura fornecia o medicamento, a cada oito semanas eu tinha que:
Ir ao médico pegar a prescrição
- Me dirigir até o consultório – 40 minutos
- Pagar o estacionamento – 15 reais
- Voltar para casa – mais 40 minutos
Depois de ter a receita em mãos:
- Marcar o horário
- Me dirigir até a farmácia – 20 minutos
- Esperar ser chamada (mesmo com horário marcado, havia tempo de espera) – 30 minutos
- Aguardar, com a papelada a tiracolo, todo o processo de procura no arquivo em papel, análise do histórico, autorização e liberação do remédio – 30 minutos
- Depois voltar pra casa – 20 min
E para tomar a medicação:
- Marcar com o hospital
- Me dirigir até o hospital – 40 minutos
- Dar entrada no hospital com toda a papelada de novo e uma nova pasta de prontuário – 1 hora
- Fazer a aplicação do medicamento – 2 horas
- Pagar o estacionamento – 25 reais
- Retornar para casa – 40 minutos
Hoje, pelo convênio, eu levo a prescrição do médico para a clínica e a própria clínica se encarrega da burocracia. Mas eu ainda tenho que ir até o médico pegar a prescrição em papel a cada seis semanas…
Agora, imagina tudo isso no digital?
Além dos trâmites administrativos, as prescrições de medicamentos, solicitações de exames atestados e relatórios médicos também precisam de uma autenticação segura. É possível fazer isso com documentos eletrônicos. O certificado digital, a assinatura digital e o carimbo do tempo são tecnologias que possibilitam essa validação, com a mesma segurança que uma assinatura manuscrita em papel.
Com o uso dessas tecnologias, o processo seria bem diferente:
- O médico enviaria a receita digital para a clínica e para o plano de saúde ou para a instituição pública.
- Eu aguardaria a autorização.
- Quando fosse autorizado, eu marcaria o horário
- Só teria que me deslocar até a clínica ou hospital para a aplicação.
Simples assim! Se o processo todo fosse digital, contando o tempo de todos os envolvidos, duvido que demoraria mais do que 30 minutos somados. Zero stress, zero papel, eficiente, custo muito menor para todos e um histórico com registro confiável e protegido!
Embora essas tecnologias já estejam disponíveis e acessíveis, ainda há um caminho a percorrer até que todos mudem a mentalidade e aproveitem esse recurso. Felizmente, com a liberação da telemedicina, a transformação foi acelerada.
Os benefícios das teleconsultas e dos documentos eletrônicos
No contexto da COVID-19, a telemedicina ganhou ainda mais relevância e, em 16 de abril de 2020, foi sancionada a Lei nº 13.989. Ela autoriza a prática da telemedicina, com atendimentos médicos à distância, durante o período da pandemia. Desta forma, as teleconsultas e documentos eletrônicos – prescrições, atestados, pedidos e relatórios médicos – passaram a fazer parte da realidade dos profissionais de saúde e dos pacientes.
Ainda tenho que ir até o médico para buscar minha receita em papel e, depois, escanear (um absurdo!) para enviar ao plano de saúde. Mas desde que a pandemia começou já fiz quatro teleconsultas com um outro médico. Tudo online, à distância. Ele prescreve, assina digitalmente e me envia. A farmácia consegue verificar a autenticidade da assinatura e a integridade da receita. Após a baixa no sistema, não há o risco de alguém fraudar e fazer uso indevido deste documento. É sensacional! Muito mais rápido e seguro para todo mundo.
Apesar disso, muitos médicos ainda insistem em usar papel, mesmo diante do cenário da pandemia e riscos de contágio. Talvez o que falte seja apenas uma mudança de mentalidade e entendimento dos benefícios da assinatura digital:
- Redução de custos com papel, impressão e arquivo.
- Agilidade nos atendimentos, sem necessidade de deslocamentos e contato físico, facilitando e protegendo de contágio.
- Integridade dos documentos: há garantia de que não sofreram nenhuma modificação nas informações.
- Não reutilização: as receitas e pedidos ficam inválidos após utilização.
- Autoria, não repúdio, irretratabilidade: total confiabilidade e segurança para o signatário.
A assinatura digital de documentos tem a mesma validade jurídica e segurança de uma assinatura manuscrita, com a vantagem da eficiência, economia de tempo, redução de custos e sustentabilidade. Ou seja: a tecnologia é uma aliada tanto dos médicos, quanto dos pacientes e das instituições!
Como a tecnologia pode ajudar a área de saúde
Eu trouxe o meu relato para mostrar como digitalização (ou a falta dela) pode impactar as nossas rotinas. A telemedicina, se feita da forma correta, seguindo as normas e cuidados necessários para garantir a segurança dos dados, é essencial para termos um acesso à saúde com mais qualidade. Um dos maiores exemplos de sucesso do uso de tecnologia, e que eu adoro citar, é o caso da Prefeitura de Vitória.
Em 2014, eles iniciaram um programa que digitalizou a emissão de atestados, exames e receitas médicas. Com o uso do certificado digital em nuvem, unificaram todo o sistema básico de saúde. O resultado? Além de economizar cerca de 2 milhões de folhas de papel por ano, eles reduziram o tempo de espera por resultados de exames de 30 dias para sete. Isso faz uma diferença enorme em um tratamento!
Para mim, essa é uma prova que de que a tecnologia pode servir à saúde, e de que a transformação digital traz benefícios para todo mundo. Então, estou curiosa: você teve alguma experiência com a telemedicina agora na pandemia? Como foi? Deixe um comentário e vamos trocar ideias!
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