A computação em nuvem passa por um extenso portfólio de recursos de TI que são utilizados por milhares ou até milhões de organizações
Por Heloísa Daniela Nora e Rafael Reis

Os “apagões” digitais recentes – como o da CrowdStrike em 2024, AWS (Amazon Web Services) e, mais recentemente, da Cloudflare [1] – não foram meros inconvenientes técnicos, mas lembretes da nossa absoluta dependência de uma infraestrutura em nuvem complexa, frágil e, o mais importante, invisível. Vivemos em um ambiente dominado pela informação, e a falha de um único “nó” corporativo pode, em segundos, paralisar serviços globais.
A computação em nuvem passa por um extenso portfólio de recursos de TI que são utilizados por milhares ou até milhões de organizações, desde servidores, armazenamento, bancos de dados, redes e softwares [2]. Hoje, empresas como Microsoft, Google e Amazon dominam esse setor, provendo a base sobre a qual o mundo digital se sustenta.
A instabilidade ocorrida na Cloudflare, por exemplo, expôs novamente a dependência mundial dessas infraestruturas. O serviço de distribuição de conteúdo em nuvem registrou uma instabilidade que afetou diversos sites e aplicativos, como o ChatGPT, o X (antigo Twitter) e o Canva.
As falhas foram identificadas por meio do Downdetector, que também apresentou problemas durante o período. Segundo a Cloudflare, a pane foi causada por um pico de tráfego incomum, registrando mais de cinco mil notificações de falhas (só no período da manhã) [3].
Empresas como a AWS e Cloudflare são colossos globais da computação em nuvem. Sua função, embora invisível ao usuário comum, é fundamental: elas fornecem segurança, espaço e poder computacional para empresas hospedarem sites, aplicativos e serviços digitais.
Em outras palavras, essas empresas assumem papéis fundamentais na infraestrutura da Internet, mas diferentemente das infraestruturas tradicionais como o fornecimento de energia, há pouca regulação estatal sobre essas operações, apesar da sua gigantesca importância.
Nos apagões, tanto o da CrowdStrike e Cloudflare, quanto o da AWS, os serviços foram restabelecidos, mas esses eventos servem como um lembrete de que nossa vida digital depende de um número muito limitado de empresas, e com uma infraestrutura complexa de cabos submarinos e redes de transmissão invisíveis ao usuário profundamente interligados. Quando um desses nós falha, todo o sistema sente o abalo.
O filósofo Byung-Chul Han, em sua obra “Não Coisas”, resume bem essa condição: vivemos menos entre objetos e mais entre dados. A “nuvem” deixou de ser metáfora para se tornar um local onde a economia mundial se realiza.
O problema é que quanto mais dependemos dela, menos sabemos como ela realmente funciona, e mais vulneráveis ficamos quando algo dá errado, inclusive organizações públicas e privadas em todo o planeta.
Os recentes apagões mostram exatamente isso. Basta uma falha em servidores para que parte da internet pare, e em consequência, diversos serviços, públicos e privados.
A lição é simples: entender a infraestrutura digital deixou de ser um tema técnico e passou a ser uma questão de sobrevivência digital, tanto para pessoas quanto para empresas. Boas práticas nesse cenário passam por manter backups cada vez mais atualizados e com tempo de recomposição mínimo, distribuir cargas entre provedores diferentes e planejar contingências para continuidade de serviços críticos.
Já passou da hora de mudarmos a cultura de confiar cegamente nos grandes provedores de infraestrutura em nível mundial. É necessário assumir que falhas estão ocorrendo e, portanto, a redundância nesses serviços torna-se necessária. Isso passa por investimentos privados, mas, também, públicos, uma vez que o Brasil ainda é dependente de tecnologias importadas para a manutenção do nosso ambiente digital.
Empresas e indivíduos dependem mais do que nunca dos algoritmos e servidores que sustentam o ambiente digital. Esses sistemas normalmente operam em uma dimensão opaca – uma espécie de backstage tecnológico que só se torna visível quando algo falha. E é nesses momentos que percebemos o quanto nossa vida cotidiana depende de poucos atores corporativos.
Após o caos, a atenção rapidamente se dissipa, e voltamos à normalidade, sem perceber que continuamos habitando um mundo cada vez menos palpável.
A reflexão, portanto, deve levar em conta o quanto o digital passou a dominar as relações de qualquer corporação moderna. Esses apagões devem ser um alerta para nós como sociedade: concentração e pouca concorrência nunca é bom para os negócios – e a conta está aparecendo.
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