Nos dias 5 e 6 de abril foi realizado em São Paulo o evento internacional Emerging Links que reuniu os maiores especialistas do mundo em torno do Blockchain.
Durante os dois dias se falou muito sobre: criptografia, Identidade digital, regulação, descentralização do “livro razão”, privacidade, contratos inteligentes, Internet das Coisas, segurança cibernética, registro de bens e fim dos serviços intermediários.
A abertura do evento foi feita por NANA BAFFOUR, CEO do Grupo Cimcorp que organizou e promoveu o evento no Brasil. Em seguida foi apresentada a palestra “O Blockchain: o que é e por que é relevante sua consideração de MICHAEL CASEY, consultor sênior da Digital Currency Initiative no Media Lab do MIT, escritor e pesquisador nas áreas de economia, finanças e tecnologia de moeda digital.
Fundamentos e desafios que a comunidade Blockchain terá ainda que resolver para impulsionar essa nova e revolucionária cadeia permeou praticamente todos os painéis.
[tabs][tab title =”Fundamentos“]
Uso de criptografia para garantir a integridade dos registros
Descentralização dos controles para distribuição do poder
Crypto Moedas para viabilizar transferências de valor
Uso de chaves assimétricas para garantir a inviolabilidade
Controle dos dados nas mãos dos usuários para garantir a privacidade
Contratos inteligentes para preservar os direitos das partes
Inclusão de pessoas que são excluídas do sistema financeiro convencional [/tab][tab title =” Desafios“]
Atribuir identidades Digitais aos usuários e empresas
Regulação mundial para minimizar conflitos
Capacidade de escalonamento para possibilitar o crescimento
Aculturamento sobre princípios, vantagens, benefícios e o caráter social da cadeia [/tab][/tabs]
Mas o que é o Blockchain?
O Blockchain está para transações assim como a Internet está para informações.
O conceito original do Blockchain funciona como um banco de dados e uma rede ponto a ponto em que registros de documentos, atos e transações ficam distribuídos entre milhares de computadores. Os dados são organizados pelos “mineradores” e fechados em blocos.
Desse conceito originaram-se outras plataformas, a maioria preservando o modelo Open Source do Blockchain, e outras que poderão ser desenvolvidas como soluções proprietárias.
As plataformas de relevância internacional são: a Ethereum, que tem apoio da Microsoft; a Hyperledger, uma iniciativa da IBM; e a Corda, nascida dentro do Consórcio R3 – que reúne mais de 50 instituições financeiras em nível global -, mas que caminha para ser incorporada ao Projeto Hyperledger.
Atualmente o Blockchain é totalmente associado ao Bitcoin que é uma das crypto moedas que utiliza essa cadeia de blocos para movimentar transações de valores mundialmente, ainda que possa ser utilizado para um conjunto enorme de outras aplicações.
Na palestra “Como a tecnologia Blockchain irá moldar o futuro dos mercados de capitais” – FREDRIK VOSS da Nasdaq disse que o foco da sua instituição não é tecnologia. Seus negócios giram em torno dos clientes e a tecnologia que utilizam precisa ser robusta para suportar seus negócios com transparência e segurança. Falou também que é fundamental o intercâmbio da inovação das statups com a experiência e habilidade adquiridas de quem vive o negócio há muitos anos.
No painel “Promessa de Inclusão Financeira por meio das Moedas Digitais” – Rodolfo Andragnes (Bitcoin Argentina), Gustavo Paro (Microsoft) e Safiri Felix (OriginalMy) ficou claro que o Blockchain será responsável em dar acesso aos milhões de desbancarizados em todo o mundo ao sistema financeiro por meio das crypto moedas e ao crédito por meio da constatação de propriedade.
Andragnes, falou sobre como ocorreu a adesão ao Bitcoin na Argentina por todas as classes sócio econômicas em função da instabilidade financeira do País e que o analfabetismo não excluirá pessoas do Blockchain uma vez que analfabetos utilizam com muita facilidade smartphones e seus diversos apps.
Outro painel bem interessante foi “Inovação Agricultura: compartilhamento de dados e soluções inovadoras para a transparência e eficiência” que teve a participação de Pindar Wong (VeriFi), Larissa Macedo (Algar Agro), Milton Suzuki (consultant) e Anoop (Cisco).
O agronegócio, mundialmente, já utiliza em suas transações moedas como grãos, carne, energia, etc., desta forma, Bitcoin seria mais uma das moedas de troca sem interferir em seu “modus operandi.” E o Blockchain trará ao setor muito mais transparência uma vez que será possível se rastrear muitas informações adicionais sobre os produtos comercializados como: procedência, cadeia logística, atestados de qualidade, históricos dos produtores etc.
O tema do painel “Contratos inteligentes: o que são e por que são relevantes?” em que participaram: Joel Dietz (Swarm), Joel Telpner (advogado), Chris Odom (Stash Crypto), Rosine Kadamani (OriginalMy), foi recorrente em praticamente todas as palestras porque é o que dá a base para a relação de confiança nos negócios e todos os tipos de transações entre as partes.
Há muito ainda que ser construído em termos de regulação própria do Blockchain, mas acredita-se que em termos contratuais, serão utilizados os princípios jurídicos utilizados hoje.
Os contratos inteligentes serão aplicados acompanhando a dinâmica do Blockchain, como exemplificou a advogada Rosine Kadamani. “O Blockchain possibilitará que contratos inteligentes sejam produzidos, assinados e executados automaticamente de acordo com regras de negócios pré-estabelecidas entre as partes, por exemplo, nos casos de controle de estoque de produtos ou insumos”. Também seria possível em contratos de consultoria ou de qualquer tipo serviço e até mesmo aluguel de imóveis, carros etc. E parece que falaremos muito sobre “smarts contracts” aqui no CRYPTO ID, porque o tema envolverá muitas discussões em relação a foro, tipo de assinatura eletrônica etc.
Da palestra “Maturidade e Adoção do Blockchain no Brasil” com a participação da Microsoft, ITAÚ, KPMG e CETIP foi divulgado o trabalho de um grupo de estudo sobre Blockchain na FEBRABAN envolvendo pelo menos 10 instituições financeiras e que este grupo participa R3 que é formado por bancos do mundo todo. O Blockchain também está em discussão no B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) que é a empresa fruto da fusão entre BM&FBovespa e Cetip.
Fechando o primeiro dia foi a vez de DON TAPSCOTT, que é uma das principais autoridades mundiais sobre o impacto do Blockchain nos negócios e na sociedade, autor de mais de 15 livros, incluindo Blockchain Revolution nos falou como a tecnologia por trás do Bitcoin está mudando dinheiro, negócios e o mundo.
Em sua palestra “A visão do Blockchain para o Direito Internacional e Governança” – Don exemplificou como o Blockchain funciona além das fronteiras das transações financeiras. Segundo ele, Blockchain é perfeitamente aplicável em diferentes frentes como em processos corporativos; em registros de direitos autorais e patentes em geral; na cadeia de distribuição de produtos de diversos setores de manufaturas; em sistemas públicos; nos registros de propriedade de bens em geral e em sistemas de cooperativas.
Don classificou o Blockchain como a plataforma de confiança e disse que vê a cadeia dividida em compartimentos por linha de interesses e não uma única grande cadeia linear. Durante sua apresentação falou muito sobre os princípios fundamentais do Blockchain reforçando e sintetizando o que havia sido falado durante o dia: integridade, poder distribuído, valor como incentivo, segurança, privacidade, direitos preservados e inclusão.
O segundo dia foi aberto por Guga Stocco do Banco Original, “O Futuro das Finanças para os Bancos Brasileiros”. Guga falou sobre inovação e como o Blockchain pode comprometer o que há pouco tempo julgamos disruptivo como a “Uberização” dos serviços. O Blockchain eliminará os intermediários. As contratações e pagamentos serão feitos diretamente entre as partes.
Sobre o mercado financeiro, Gugga destacou a evolução do sistema bancário.
1690 | Tradicional Banks (a primeira agência bancária)
1990 | Internet Banking (300 anos depois)
2010 | Mobile Banking
2017 | Seamless Banking
2020 | Blockchain
A palestra sobre “Solucionando o dilema da Identidade Digital” em que participaram Brad Chun (Butterkiss), Mariana Dahan (Global Blockchain Business Council), Richard (CIO Santander) e Ghassan Dreibi Junior (Cisco), não atendeu as expectativas dos participantes. Os questionamentos sobre como hoje as empresas lidam com as identidades digitais de seus clientes e como poderia ser resolvido no Blockchain não foram respondidas.
Quanto ao cenário brasileiro em relação a identificação digital não houve nenhuma menção sobre a legislação brasileira existente desde 2001. Não se falou sobre o sistema brasileiro de PKI em que foram emitidos mais de 15 milhões de certificados digitais utilizados nos setores público e privado como autenticação forte e assinatura eletrônica com valor legal.
A única referência a ICP-Brasil durante os dois dias de evento (PKI Brasileira) foi feita pela advogada Rosine Kadamani, no painel sobre contratos inteligentes, e no contexto em que o Banco Central, para os contratos de câmbio, havia considerado o parágrafo 2º do artigo 10 da MP 2.200/2. Este parágrafo trata do reconhecimento legal como manifestação de vontade produzido por assinatura eletrônica que não o certificado digital da hierarquia da ICP-Brasil, desde que acordado entre as partes.
Mas a aplicação de assinatura digital dos contratos de câmbio, em termos de volume, é muito tímida se comparada a milhares de documentos assinados diariamente, com certificados digitais da hierarquia da infraestrutura de chaves públicas brasileira, por advogados, juízes, médicos, contadores, empresários, entre outros, sendo assim, não houve de fato nenhuma menção a ICP- Brasil .
“O Contrato Social Inteligente: processos, tecnologia e cultura” foi o tema da palestra de PINDAR WONG, pioneiro na Internet como co-fundador do primeiro Provedor de Serviços de Internet em Hong Kong em 1993, foi o primeiro vice-presidente da ICANN e é o atual presidente VeriFi Hong Kong.
Foi uma apresentação bastante consistente sobre como hoje funciona o monopólio da confiança e a disruptiva cultural e dos negócios que será gerada pelo o inevitável avanço da cadeia Blockchain que definitivamente não é uma tecnologia, mas uma cadeia que envolve metodologia, processos e muita tecnologia.