Por Alex Barbirato
Na última quinta-feira, dia 14 de janeiro, o conhecido programador da comunidade Bitcoin, Mike Hearn, escreveu um longo artigo chamado “The resolution of the Bitcoin experiment” (a conclusão da experiência Bitcoin).
Nele, Mike descreve um cenário bastante negro e indica ao leitor que, por conta dos problemas estruturais do Bitcoin, se desfez de toda a sua posição e abandonou o projeto, que ele chama de “experiência”. Além disso, aconselha o público a não investir recursos próprios, “que você não pode se dar ao luxo de perder”, comprando Bitcoins.
Imediatamente, a polêmica, que já dominava a comunidade há algum tempo, ganhou espaço na grande mídia e o mercado reagiu levando a uma queda instantânea de 15% na cotação da criptomoeda. Do ponto de vista midiático, nada melhor do que uma manchete apocalíptica, corroborada por um insider.
Como li vários artigos que chegavam a insinuar problemas de segurança ou na estrutura criptográfica da moeda, resolvi me pronunciar para dirimir esses mal-entendidos e também contribuir com a minha modesta opinião pessoal.
Para começar, o problema não é criptográfico ou de segurança. Os argumentos de Mike baseiam-se principalmente em três pilares:
1) A arquitetura do sistema hoje não permite que a utilização do Bitcoin aumente e vai entrar em colapso conforme o número de transações cresça.
2) A comunidade está desunida na busca de uma solução, o que leva a um impasse e à inação.
3) O controle da rede de computadores (mineradores) que autoriza as transações está muito concentrado e a metade está na China, atrás do “Grande Firewall”.
Na realidade, o artigo de Mike está muito ligado às suas frustrações pessoais e ao fracasso do Bitcoin XT, solução proposta e advogada por ele mesmo.
[blockquote style=”2″] O Bitcoin XT é uma nova implementação (hard fork) do núcleo do sistema, que propõe um aumento no tamanho dos blocos da estrutura pública, que armazena todas as transações, ou Blockchain. Esse limite, que hoje é de 1MB, seria ampliado para 8MB e posteriormente até 8GB, segundo um cronograma que vai até 2036. O aumento do tamanho do bloco, permitiria uma melhor performance e velocidade no tempo para autorização das transações, conforme a adoção do Bitcoin aumente. [/blockquote]
Hoje a rede consegue processar entre 3 e 7 transações por segundo apenas e os blocos estão chegando próximos de sua capacidade. A solução de Mike Hearn é uma solução rápida para o problema do tamanho do bloco, mas que pode gerar outros problemas piores no futuro, como tornar a rede mais centralizada. Além disso, existem outras propostas de melhorias (BIPs ou Bitcoin Improvement Proposals) que também endereçam o problema de forma mais conservadora.
A frustração de Mike mexeu com o mercado por alguns dias. Além da queda da cotação do Bitcoin, houve também uma apreciação especulativa no preço do Ether, que é uma outra criptomoeda, com estrutura mais moderna (Bitcoin 2..0), que hoje está prestes a desbancar o Litecoin como a terceira maior moeda em Market Cap e subiu 40% em uma semana.
O fato é que não é provável que o apocalipse descrito por Mike se materialize, pois isso não interessaria a usuários, investidores e, principalmente, à própria comunidade. A prova disso é que neste momento, 6 dias após o artigo bombástico, o Bitcoin já recuperou metade das perdas.
Como regra geral, qualquer decisão radical, e ainda por cima paliativa, que não seja aprovada pela maioria dos envolvidos nesta agora, multibilionária indústria, não deve ser levada a sério. Apenas 15% dos nós da rede chegaram a migrar para Bitcoin XT e hoje eles representam apenas 8% do total.
É importante deixar claro, entretanto, que os problemas existem e precisam ser resolvidos com urgência. A rede como está é lenta, não escala e não tem nenhuma condição de fazer frente às tradicionais (Visa, Mastercard, Swift, etc.), como pregam os pitches dos “criptoempreendedores”. Processar apenas três (!) transações por segundo em horários de pico, não é o que se pode chamar de um bom pedigree.
A concentração do poder de mineração em um grupo pequeno de pessoas, estando grande parte delas atrás do Firewall Chinês, vai contra todo o discurso libertário de descentralização e representa um risco para a rede, desenhada para ser baseada em consenso e sujeita a ataques de 51%.
Manchetes como as decorrentes do artigo de Mike Hearn também não ajudam. Por este motivo e por outros é que grande parte das ex “startups de Bitcoin” agora se denominam empresas de “Fintech” ou “Blockchain”, buscando dissociar-se da criptomoeda e associar-se apenas à tecnologia disruptiva, por detrás das polêmicas.
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Sobre Alex Barbirato
- CEO da incube, Venture Builder baseada em São Paulo.
- Formado em Análise de Sistemas pela UFRJ, com pós-graduação em Relações Internacionais na PUC-RJ.
- Trabalhou no Banco de Investimentos Garantia e co-fundou o primeiro online broker brasileiro, a NetTrade, em 1998.
- É membro da Bitcoin Foundation, mentor de várias startups e apaixonado por tecnologia.
- Colunista do CryptoID
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