Rafael Venâncio*
Os bugs Meltdown e Spectre (é melhor chamá-los de bugs, em virtude de serem falhas de projeto) afetam várias famílias de processadores instalados em servidores, computadores desktop e dispositivos móveis; e, se explorados, permitem a um hacker acessar a memória de outros processadores.
Aqui estão as três premissas por trás do poder letal do Meltdown e do Spectre:
1- Basicamente, se algo tem uma CPU, provavelmente é vulnerável a esses bugs.
2- Esses bugs introduzem uma oportunidade perfeita para ataques de malware sem arquivos, também conhecidos como ataques “malware sans binary” (malware sem binário) ou “malwareless” (sem malware).
3-Embora a vulnerabilidade seja da CPU (servidor, PC, dispositivo móvel, etc.), o coração das empresas – a aplicação missão crítica – é fortemente impactada pelo Meltdown e pelo Spectre.
Diante disso, atualizar os patches é essencial. Um reboot de todos os sistemas impactados é mandatório; frequentemente, isso significa uma velocidade lenta de implementação dos patches em sistemas de produção (caso de um Internet Banking, de um ERP, etc.) que não podem ser submetidos a downtime ou requerem longos períodos de planejamento antes de os patches poderem ser aplicados.
No final das contas, a luta contra o Meltdown e o Spectre exige que se atualize o sistema sempre que possível e não se deixe as atualizações de segurança passarem batido. Todos os sistemas operacionais, por exemplo, possuem configurações que tornam as atualizações automáticas. Vale a pena programar isso de forma ativa. É fundamental, portanto, desenvolver e implementar uma estratégia repetível de atualização de patches.
Essa atitude deve ser complementada pelo uso de um firewall de aplicações web (WAF) para bloquear ataques a aplicações com patches ainda não atualizados.
A inteligência e a flexibilidade do WAF garantem a proteção eficaz da aplicação enquanto o novo patch não chega. Isso é feito independentemente do tipo de aplicação, dos protocolos envolvidos neste sistema e dos dispositivos por onde são acessadas e modificadas essas aplicações.
Bugs como Meltdown e Spectre mostram as duas faces da automação. Desde a sua introdução, a automação tem sido o catalisador que impulsiona as empresas ao sucesso. Primeiro em manufatura, agora em TI. A automação permite economias de escala e fornece um sólido alicerce para a otimização por meio da identificação e eliminação defeitos, atrasos, erros. A automação, porém, também permitiu aos hackers pesquisar plataformas vulneráveis com maior velocidade e com economia de escala. Tirando proveito de vastas legiões de botnets construídos a partir de coisas (Internet das Coisas – IoT) e sistemas vulneráveis, os atacantes são capazes de usar a automação para rastrear a Internet com maior velocidade, menor custo e maior sucesso. Seus minions digitais consomem tráfego, recursos e dinheiro e mostram-se letais contra as aplicações.
Com isso, mesmo após aplicar os patches, continuará sendo necessário lidar com uma verdadeira praga de bots buscando sistemas dos quais possam tirar proveito — bots que devoram largura de banda cara e exaurem as conexões e os ciclos de CPU.
Em resumo: as vulnerabilidades pavimentam o caminho para o desenvolvimento de bots e estão corroendo o orçamento de TI, literalmente bit por bit. Várias pesquisas indicam claramente que a maior parte do tráfego atual é gerada por bots, não por seres humanos.
Uma porcentagem cada vez mais assustadora desses bots é maligna
Além de cumprir com afinco todas as recomendações para diminuir o impacto do Meltdown e do Spectre, o CISO tem de se tornar proativo e considerar seriamente como sua empresa interage com o tráfego destinado às suas aplicações — seja na nuvem pública ou em casa (on premise). A saúde de suas aplicações, os sistemas que fazem o negócio girar, depende do time de TI conseguir identificar as bots. Quem se sair bem nesta tarefa conseguirá reduzir gastos com ampliação de largura de banda, capacidade e poder de processamento.
Em 2018, a guerra continua – Meltdown e Spectre são apenas as primeiras batalhas de um ano em que a digitalização da economia avança com força e consistência no Brasil, e no mundo.
*Rafael Venâncio é diretor de canais e alianças da F5 Networks Brasil