Por Bruno Linhares
A internet está em plena ebulição – uma das mudanças mais importantes é a ampliação da Certificação Digital, garantindo a identificação dos entes que se comunicam através desta.
A essas novas exigências se contrapõe hábitos arraigados e uma cultura proveniente da primeira fase da web. Este artigo busca discutir essas contradições, sua origem e formas de superá-las.
Segundo Clotaire Rapaille, antropólogo francês especializado em comportamento do consumidor, o “Código da Internet” é a “Mentira”. O pesquisador traz em seu método o estudo do que ele considera o “Inconsciente Cultural”, povoado por arquétipos que constroem a Cultura de um povo.
A identificação desses arquétipos e o estudo dos seus “códigos” propiciariam maior compreensão sobre reação das pessoas e as emoções associadas a determinadas vivências, objetos e imagens, inclusive hábitos de consumo e a relação entre os consumidores e as marcas.
De fato, no caso específico da internet, existem inúmeros exemplos da inexistência de um estrito compromisso com a veracidade, seja de narrativas seja da identidade dos usuários. Inúmeras situações de simulação e de falseamento convivem com uma rigorosa noção de liberdade individual, compondo um espaço “libertário”, no qual tudo, ou quase tudo, é válido em termos de comunicação. Faz parte dessa cultura o uso de pseudônimos e o respeito ao anonimato, dentro do amplo guarda-chuva da liberdade de expressão.
Por outro lado, a disseminação da internet pela sociedade e a proliferação de aplicações profissionais, seja na esfera dos negócios seja como ferramenta de políticas públicas e de regulação social, cria um contraponto a situação presente – é necessário garantir a identidade e a veracidade das informações dos entes que se comunicam. Daí a relevância da Certificação Digital para que sigamos usufruindo dos benefícios econômicos, sociais e políticos da desmaterialização de processos e da redução da burocracia, conseqüências diretas do aprofundamento do uso da internet.
As contradições existentes entre o uso da web para o entretenimento e relações sociais e as suas novas funções dentro do aparato produtivo e da superestrutura legal são, na minha opinião, totalmente naturais e esperadas no processo de amadurecimento da internet. Mas não devemos subestimar as resistências que iremos encontrar para ampliar a certificação para além do que pode ser obtido por exigências legais.
Mesmo que não se concorde totalmente com as conclusões de Rapaille, me parece claro que barreiras culturais devem ser vencidas e os hábitos arraigados de toda uma geração de usuários precisam sofrer ajustes.
Sem perder de vista a importância da garantia da plena liberdade de expressão e do caráter completamente voluntário da certificação para o uso fora da esfera profissional e institucional, os envolvidos na disseminação da Certificação Digital devem realizar um esforço de envolvimento dos usuários e da sociedade, permitindo que conheçam as vantagens e compartilhem dos valores deste novo processo.
Como toda Revolução e com uma História tão recente, o fenômeno da internet ainda está em plena ebulição – muitas e emocionantes mudanças vão continuar acontecendo. Mas os contornos do futuro dependem também do que realizarmos agora.
Fonte: Blog Bruno Linhares
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