O anúncio da Medida Provisória que desonera os data centers, feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinaliza uma virada estratégica na política econômica digital do Brasil. A iniciativa, apresentada no Vale do Silício diante de líderes globais da tecnologia, busca posicionar o país como um polo competitivo de infraestrutura digital, unindo incentivos fiscais, energia limpa e segurança jurídica para atrair investimentos bilionários ao setor. Leia a seguir o artigo escrito por Susana Taboas, economista e sócia fundadora do Crypto ID.
Por Susana Taboas
O Brasil está se posicionando como um dos destinos mais promissores do mundo para investimentos em infraestrutura digital. Com o lançamento da nova Política Nacional de Data Centers, o governo federal quer transformar o país em um hub estratégico para a economia digital global. A meta é ambiciosa: atrair até R$ 2 trilhões (aproximadamente US$ 400 bilhões) em investimentos nos próximos anos.

Para isso, o país está mobilizando uma combinação de reforma tributária, incentivos fiscais, segurança jurídica e energia limpa — e apresentando essa agenda diretamente aos gigantes da tecnologia no Vale do Silício.
Na terça-feira, 7 de maio de 2024, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou de um café da manhã com cerca de 40 executivos de empresas líderes em tecnologia e fundos de investimento, em Palo Alto, Califórnia.
O encontro, organizado pela Amcham Brasil, serviu como palco para o lançamento internacional da nova política de data centers. Durante a missão, Haddad também se reuniu com representantes da Amazon, Microsoft, Google e Nvidia, reforçando o interesse do Brasil em estreitar laços com as principais empresas do setor.
Medida provisória deve destravar investimentos imediatos
Como ponto central da política, Haddad anunciou uma medida provisória que deve ser publicada em breve, com três pilares principais:
- Desoneração de 100% dos tributos federais sobre investimentos em data centers;
- Redução do Imposto de Importação sobre equipamentos de TI não fabricados no Brasil;
- Isenção total das exportações de serviços prestados por esses centros de dados.

Essa MP antecipa os efeitos da reforma tributária — prevista para começar a vigorar em 2026 e ser plenamente implementada até 2032 — e aproveita o fato de que ainda não há guerra fiscal entre estados para atrair big techs com o ICMS.
“É uma janela rara. A nova economia ainda não foi capturada pelos incentivos estaduais, o que nos permite estruturar um ambiente competitivo e equilibrado desde o início”, disse o ministro.
Outro trunfo do Brasil é sua matriz energética, com mais de 80% proveniente de fontes renováveis. Isso dá ao país uma vantagem importante no cenário ESG, permitindo que os data centers operem com menor emissão de carbono. “Queremos que a economia digital no Brasil seja simultaneamente digital e verde”, afirmou Haddad.
A proposta integra o Plano de Transformação Ecológica, que combina desenvolvimento econômico com sustentabilidade e inovação.
Ambiente regulatório e institucional ganha força
Além da MP, o governo trabalha em um novo marco legal dos data centers, em articulação com o Congresso Nacional. A proposta deve tratar de segurança jurídica, direitos autorais, concorrência e padrões técnicos. O objetivo é criar um ecossistema confiável e atrativo para investidores nacionais e estrangeiros.
Segundo dados do setor, o Brasil concentra cerca de 40% da capacidade de processamento de dados da América Latina. O mercado de data centers cresce a taxas de dois dígitos ao ano, e empresas como Equinix, Ascenty, Scala Data Centers e CloudHQ já ampliam suas operações no país. A expectativa é que o número de grandes instalações dobre até 2030.
Mobilização de estados e municípios
A agenda também vem ganhando adesão de governos locais. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, participou do encontro no Vale do Silício, destacando o potencial da capital fluminense como polo digital. A intenção é atrair grandes centros de dados e consolidar o Rio como um hub de tecnologia e inovação.
Um movimento coordenado em múltiplas frentes
O esforço do governo federal mostra um movimento coordenado em várias frentes: incentivos fiscais, marcos regulatórios, diplomacia econômica e infraestrutura energética. Ao articular todas essas peças, o Brasil pretende atrair investimentos estruturantes que fortaleçam sua economia digital e sua posição geopolítica.
A missão de Haddad à Califórnia foi um passo simbólico e prático nessa estratégia. Ao apresentar a nova política nacional diretamente no Vale do Silício, o governo sinalizou ao mercado global que está pronto para competir por investimentos com países que historicamente lideram o setor.
Se as medidas avançarem com consistência e respaldo legislativo, o Brasil poderá não só ampliar sua presença no mapa da tecnologia, como também moldar um modelo de crescimento digital alinhado com sustentabilidade, inovação e inclusão econômica.
Sobre Susana Taboas
Susana Taboas | COO – Chief Operating Officer – CryptoID. Economista com MBA em Finanças pelo IBMEC-RJ e diversos cursos de extensão na FGV, INSEAD e Harvard University. Durante mais 25 anos atuou em posições no C-Level de empresas nacionais e internacionais acumulando ampla experiência na definição e implementação de projetos de médio e longo prazo nas áreas de Planejamento Estratégico, Structured Finance, Governança Corporativa e RH. Atualmente é Sócia fundadora do Portal Crypto ID e da Insania Publicidade.
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