Na tentativa de manter clientes, bancos reforçam aquisições e parcerias com fintechs para endossar sua “capacidade digital”, no que garantem ser uma “competição saudável”. Da outra ponta, startups passam a ganhar força e focam nos “desbancarizados”.
De acordo com os especialistas entrevistados pelo DCI, a chamada “revolução digital” tem modificando o mercado financeiro e começa a impulsionar uma atitude dos bancos como resposta ao surgimento e crescimento de fintechs no País.
“A indústria está sendo transformada significativamente e o grande dilema que os bancos tem que encarar é como mudar a forma de se relacionar e antecipar essas inovações para lidar com isso e não sumirem”, diz o superintendente executivo de desenvolvimento corporativo do Santander, Gustavo Bahia.
Para suprir a necessidade urgente de inovação, o caminho dos grandes bancos tem sido a busca por parcerias, aquisição e até mesmo a criação de fintechs.
Segundo o CEO da Matera Systems, Carlos Augusto Netto, as grandes instituições “não levavam as empresas digitais a sério” e, agora, passam a demandar inovação para seus sistemas “urgentemente”.
“Só de regularizar a atuação das empresas financeiras digitais, o Banco Central já trouxe uma concorrência enorme e, com as novas tecnologias, as fintechs já entram para o mercado com software de banco. Isso pressiona muito essas grandes instituições”, afirma.
Nessa linha, os cinco maiores bancos do País – Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander – já demonstram parcerias variadas para cada uma de suas atuações e proporcionam “brainstorms” para criação de soluções digitais, como é o caso do Itaú que divulgou, ainda ontem, um projeto para desenvolvimento de uma ferramenta voltada para o sistema financeiro.
“A ascensão das fintechs incomodou e ainda incomoda, mas os bancos sabem resolver. Ou eles se associam ou entendem a tecnologia e fazem igual, porque a ideia é não tratar como competidor, mas como parceiro”, pondera o sócio-diretor da Provider IT, Reginaldo Santos. “É acompanhar a evolução dessas iniciativas. E se atrapalhar, o banco compra”, completa.
Como exemplo, Santos citou o caso da venda de participação minoritária da XP Investimentos – maior corretora independente do País – ao Itaú, no mês passado.
Já de acordo com Wanderley Baccalá, CIO do Banco Original, a união dos negócios com a área de Tecnologia da Informação (TI) é a chave para criar um produto que atraia maior público. “Ninguém sobreviverá se não investir em inteligência artificial, de forma a contextualizar o atendimento ao cliente. Bancos podem ser digitais ‘para fora’ e ‘para dentro’, e assim terem serviços de menor custo”, analisa Baccalá.
‘Caixa Preta’
Da mesma forma, o amadurecimento dessas iniciativas também começa a tomar forma no setor financeiro.
De acordo com o presidente do Banco Intermedium, João Vitor Menin, seguindo o tema de inclusão bancária, a digitalização deve baratear alguns custos e trazer eficiência ao sistema financeiro.
“São cerca de 250 bilhões de desbancarizados na América Latina que podem ser novos clientes dessas plataformas. Podemos alcançar a internacionalização mais rápido do que se imagina”, pondera.
Para o CEO da Soluti, Michel Medeiros, enquanto os bancos “gastam milhões” em soluções, as fintechs tem forte apelo desde o início. “Isso porque para o público alvo dessas tecnologias, nada pode ser mais difícil do que fazer uma pesquisa no Google. E esse é o principal viés de uma fintech”.
Segundo os últimos dados do Radar FintechLab, são 247 empresas digitais que já acumulam a soma de mais de R$ 1 bilhão em investimentos.
“Os bancos, antes, eram uma caixa preta e, hoje, estão facilitando a relação dos clientes com suas finanças”, comentou o diretor comercial do Banco Neon, Alan Chusid. Ele ressalta que os millenials estão insatisfeitos com as soluções que os bancos tradicionais têm, com atendimento e “taxas que não fazem sentido”.
“Temos de seguir na contramão do que é tradicional e fazer uma inclusão bancária, ainda que com ressalvas em algumas áreas. O mercado cresce tanto porque abrir uma conta digital, hoje, é mais rápido do que pedir pizza. Não existe mais toda aquela burocracia de banco”, acrescenta.
Para o vice-presidente de desenvolvimento de software da CA Technologies, Chris Kline, a interseção das áreas acontece porque de um lado, as fintechs tem a inovação mas, do outro, são os bancos que oferecem a segurança.
“A transformação começa a ganhar forma, mas existe um forte dilema bancário. Clientes antigos não mudam de banco e os clientes mais jovens querem digitalização. Quem não arrumar essa lacuna, em dez anos estará morto. Legado não garante o futuro”, conclui.
Fonte: DCI