A Coinbase, maior exchange de criptomoedas dos Estados Unidos, tornou-se símbolo da consolidação do mercado cripto ao ser recentemente incluída no prestigiado índice S&P 500 — grupo reúne as 500 maiores empresas listadas nas bolsas americanas, como Apple, Microsoft, Amazon e JPMorgan Chase. Estar nesse índice significa mais do que um selo de estabilidade financeira: é reconhecimento institucional e visibilidade global.
Por Susana Taboas

Justamente no auge dessa conquista, a empresa foi alvo de um ataque cibernético que expôs dados sensíveis de clientes e revelou falhas profundas que vão muito além de problemas técnicos.
Estima-se que o incidente gere impactos financeiros entre US$ 180 milhões e US$ 400 milhões, entre reembolsos, auditorias, reforços de segurança e perdas operacionais.
O Que Aconteceu?
Segundo dados publicados pela Reuters e confirmados pela própria Coinbase, o ataque não envolveu invasão de servidores, mas sim uma estratégia de engenharia social. Hackers subornaram agentes terceirizados de suporte ao cliente, baseados na Índia, e conseguiram acesso à informações como nomes, endereços, dados bancários mascarados e parte dos documentos de cerca de 1% dos usuários.
Com essas informações em mãos, os criminosos se passaram pela própria Coinbase, ligando e enviando mensagens falsas para clientes, convencendo-os a realizar transferências para carteiras fraudulentas — um método sofisticado de manipulação emocional e psicológica, cada vez mais comum em ataques desse tipo.
A Resposta da Coinbase
Diante de uma exigência de resgate de US$ 20 milhões em Bitcoin, a empresa optou por não negociar com os criminosos e, em vez disso, ofereceu o mesmo valor como recompensa para quem contribuir com informações que levem à identificação dos responsáveis. A Coinbase também garantiu reembolso total às vítimas, além de anunciar reforços em seus protocolos de segurança, como autenticação multifatorial obrigatória e monitoramento via inteligência artificial, conforme noticiado pela Bloomberg.
Essa postura, embora custosa, visa evitar um precedente perigoso: financiar o próprio ecossistema do crime digital.
Lições do Ataque: Muito Além da Tecnologia
Esse incidente traz à tona questões profundas sobre a gestão de risco digital, especialmente em empresas que movimentam ativos de alto valor. A seguir, três reflexões fundamentais baseadas no caso Coinbase, com informações compiladas de fontes como Wired, Wall Street Journal e Chainalysis.
1. Segurança Digital Começa com Pessoas e Processos
Como mostra o Wall Street Journal, a Coinbase mantinha protocolos tecnológicos avançados, mas falhou na gestão humana. A cultura de segurança deve permear todos os níveis da organização, incluindo fornecedores terceirizados. Sem isso, os sistemas mais sofisticados tornam-se vulneráveis ao fator humano.
2. Terceirização Mal Gerida É Risco Estratégico
A terceirização de serviços críticos, como o atendimento ao cliente, exige mais do que contratos: exige supervisão. Conforme destacou a Reuters, os agentes subornados tinham acesso à informações sensíveis, mas estavam fora da estrutura principal de governança. Essa separação entre operação e controle interno expõe brechas perigosas — especialmente em empresas com alcance global.
3. O Crime Cibernético Evolui com o Mercado
Segundo relatório da Chainalysis, só em 2024 foram perdidos mais de US$ 2,2 bilhões em ataques relacionados à engenharia social e fraudes digitais no setor de criptoativos. Isso mostra que os criminosos estão cada vez mais organizados, com uso de IA, deepfakes e outras tecnologias para enganar usuários, inclusive os mais experientes.
Confiança: O Ativo Mais Frágil no Mundo Digital
Se até a Coinbase — empresa bilionária, auditada, regulada e listada no S&P 500 — caiu em um golpe baseado em manipulação humana, o que esperar de startups menores ou de usuários individuais?
O ataque nos obriga a refletir: a confiança digital não se constrói apenas com criptografia e blockchain, mas com transparência, governança e escolhas éticas.
A pergunta que fica: estamos preparados para enfrentar uma nova geração de ataques que não explora falhas de software, mas sim falhas humanas?
Fontes:
Coinbase (comunicados oficiais), Bloomberg, Reuters, Wired, Wall Street Journal, Chainalysis
Sobre Susana Taboas
Susana Taboas | COO – Chief Operating Officer – CryptoID. Economista com MBA em Finanças pelo IBMEC-RJ e diversos cursos de extensão na FGV, INSEAD e Harvard University. Durante mais 25 anos atuou em posições no C-Level de empresas nacionais e internacionais acumulando ampla experiência na definição e implementação de projetos de médio e longo prazo nas áreas de Planejamento Estratégico, Structured Finance, Governança Corporativa e RH. Atualmente é Sócia fundadora do Portal Crypto ID e da Insania Publicidade.
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