A criptografia pós-quântica não é mais um futuro distante. Com a recente diretriz da CISA, exigindo algoritmos resistentes à computação quântica em novos contratos federais dos EUA a partir de junho de 2025, a transição se acelera globalmente
A era da criptografia pós-quântica (PQC) deixou de ser uma abstração para especialistas e pesquisadores. Com a nova diretriz da CISA (Cybersecurity and Infrastructure Security Agency), divulgada neste mês de junho de 2025, os Estados Unidos formalizam uma exigência: todos os novos contratos federais devem ser assinados já com algoritmos resistentes à computação quântica.
A medida, alinhada ao cronograma estabelecido pelo NIST (National Institute of Standards and Technology), é um divisor de águas que amplia as repercussões técnicas, econômicas e geopolíticas da transição criptográfica mais importante das últimas décadas.
A Sinalização dos EUA e Seus Ecos no Setor Privado
Segundo o The Register, a diretriz da CISA “formaliza o fim da era do RSA e ECC”, ao mesmo tempo em que acelera a adoção de algoritmos como CRYSTALS-Kyber, CRYSTALS-Dilithium, FALCON e SPHINCS+ — já incorporados em versões de teste do Chrome, Android, Windows e serviços da Cloudflare.
O TechCrunch observa que o anúncio causou reação imediata de big techs e autoridades regulatórias em outros países: “A soberania digital agora passa também pela escolha do algoritmo pós-quântico”.
A DigiCert, por sua vez, aponta que a transição não é apenas defensiva, mas estratégica, antecipando riscos de ataques do tipo harvest now, decrypt later, que já motivam governos e grupos de pesquisa a proteger ativos sigilosos armazenados hoje.
O Brasil no Epicentro da Transformação Pós-Quântica

Aqui no Crypto ID, acompanhamos de perto não apenas os reflexos da diretriz da CISA, mas também como o Brasil responde a essa mudança de paradigma.
O editorial “Criptografia Pós-Quântica: Hype, Realidade e Ações Práticas”, publicado em 25 de fevereiro de 2025, já reforçava o alerta:
“O Q-Day vai chegar. E se ele vai chegar, a indústria da segurança precisa começar a se preparar. E já está se preparando.”
Essa publicação, assinada por Bruno Ribeiro, especialista no desenvolvimento de aplicações de segurança, demonstra nossa capacidade de antecipar tendências e preparar o mercado para os desafios futuros da segurança digital.
Recentemente, o anúncio da Dinamo Networks no Febraban Tech 2025, que foi realizado de 10 a 12 de junho de 2025 em São Paulo, de um módulo HSM com suporte a algoritmos pós-quânticos, é um exemplo concreto de que o ecossistema nacional começou a se mover.
Sobre esse movimento, Marco Zanini, CEO da DINAMO Networks, reforça a relevância da antecipação:
Se“Estamos tratando de um conjunto de algoritmos que visa substituir ou complementar os métodos de criptografia atuais, vulneráveis a ataques de computadores quânticos”.

Ele complementa que, apesar da expectativa em torno dos computadores pós-quânticos rondarem os próximos cinco anos, os avanços em segurança já se fazem presentes, inclusive pela demanda de regulamentação do NIST.
Na recente edição do Febraban Tech, a DINAMO realizou o lançamento do HSM DINAMO NG, cuja performance atinge 23K ops/seg assinaturas RSA e 10K ops/seg em assinaturas PQC. Zanini ainda destaca:
“Quanto à criptografia é necessário estarmos sempre à frente das vulnerabilidades. Neste momento todo o sistema bancário está em fase de inventário, identificando e localizando chaves utilizadas em diversas aplicações e que deverão ser substituídas e além da nova tecnologia pós-quântica a DINAMO oferece uma camada extra de segurança: o barramento criptográfico que permite o gerenciamento e a centralização destas chaves, aumentando a segurança e a performance”.
Repercussão e Preparação
A importância da criptografia pós-quântica e a urgência de sua adoção se refletem em diversas iniciativas.
A Commvault, por exemplo, empresa norte-americana, com sede em Tinton Falls, no estado de Nova Jersey tem demonstrado liderança ao aprimorar sua defesa cibernética com suporte expandido a algoritmos NIST.

Conforme noticiado em 17 de junho de 2025, no Crypto ID, a empresa, desde agosto de 2024, já suporta padrões de criptografia quântico-resistentes recomendados pelo NIST, incluindo CRYSTALS-Kyber, CRYSTALS-Dilithium, SPHINCS+ e FALCON. Bill O’Connell, diretor de segurança da Commvault, afirma:
“A ameaça quântica não é teórica. A integração de novos algoritmos como o HQC e o avanço da nossa estrutura de agilidade criptográfica capacitam nossos clientes a navegar com confiança neste cenário complexo. Nosso objetivo é claro: garantir a proteção dos dados de nossos clientes à medida que as ameaças da computação quântica se materializam.”
Essa mobilização demonstra a seriedade com que o mercado de segurança digital no Brasil e no mundo está encarando a transição.
Uma Questão de Legado Criptográfico – A Urgência Não é Apenas Futura!

“Qualquer dado que precise permanecer confidencial por mais de 10 anos já deveria estar criptografado com PQC hoje”.
Tanja Lange
Atualmente, Lange também atua como diretora científica do Instituto de Proteção de Sistemas e Informação de Eindhoven (Ei/Ψ), evidenciando sua profunda expertise em criptografia e teoria dos números. Sua afirmação sublinha a necessidade imediata de adoção da PQC para proteger contratos públicos, dados bancários, registros médicos e infraestrutura crítica contra ameaças quânticas iminentes.
Conclusão
O editorial de hoje é também um convite. Convidamos profissionais de segurança, desenvolvedores, juristas e formuladores de políticas públicas a não esperar o impacto da computação quântica, mas agir agora. A diretriz da CISA não encerra o debate — ela apenas o inaugura em larga escala.
E o Brasil tem capacidade técnica, acadêmica e empresarial para liderar essa transformação na América Latina, como mostram as ações de players nacionais e internacionais que já atuam no país.
Para ampliar o alcance dessa discussão crucial, sugerimos que mais artigos técnicos sobre criptografia pós-quântica, com a profundidade e a visão de estudiosos no assunto, sejam divulgados além do meio estritamente acadêmico.
É fundamental que essa expertise chegue aos profissionais que não estão diretamente envolvidos na pesquisa universitária, mas que precisam compreender e aplicar esses avanços em seu dia a dia.
Encorajamos os pesquisadores e especialistas a submeterem seus artigos para publicação em veículos como o Crypto ID, contribuindo para disseminar esse conhecimento vital. Envie seus artigos para [redacao@cryptoid.com.br].
Para aprofundar o entendimento sobre os algoritmos pós-quânticos selecionados pelo NIST, como CRYSTALS-Kyber, CRYSTALS-Dilithium, FALCON e SPHINCS+, vale conferir os artigos publicados no portal Crypto ID:
- O artigo “NIST anuncia os primeiros quatro algoritmos criptográficos resistentes ao computador quântico” apresenta uma visão abrangente sobre os critérios de seleção e as aplicações desses algoritmos.
- Já o texto “NIST divulgou hoje 24 de agostode 2023, projetos de padrões para criptografia pós-quântica” detalha os rascunhos de padronização e os próximos passos do processo.
- Para um olhar mais técnico sobre o FALCON, o artigo “Algoritmo Falcon co-desenvolvido com a Thales foi selecionado pelo NIST como um novo padrão em criptografia pós-quântica” traz informações sobre sua origem e vantagens.
- Por fim, a publicação “Commvault já suporta padrões de criptografia quântico-resistentes” mostra como o setor privado já está adotando esses algoritmos, incluindo o SPHINCS+, em soluções comerciais.
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