A discussão em torno do Regulamento da UE sobre Abuso Sexual de Crianças (CSA) trouxe à tona preocupações significativas sobre a privacidade e a segurança online
Por Susana Taboas

O texto atual do Conselho, que ainda exige a detecção de conteúdo para serviços de mensagens criptografadas por meio da “moderação de upload” (verificação do lado do cliente), ignora as questões levantadas pelo Serviço Jurídico do Conselho e as recomendações da Autoridade Europeia para a Proteção de Dados para proteger a criptografia forte.
Com a votação do Conselho marcada para 2 de outubro de 2024, é crucial que os ministros de países-chave, como França, Itália, República Tcheca e Holanda, sejam contatados para defender um bloqueio no texto atual.
A “moderação de upload” não é compatível com a criptografia de ponta a ponta (E2EE), e a verificação obrigatória expõe os usuários a novos riscos de segurança.
Incompatibilidade da “Moderação de Upload” com E2EE
Apesar das afirmações da Comissão Europeia e da Presidência húngara de que a proposta CSA é compatível com E2EE, atualmente não existem soluções técnicas viáveis que permitam aos provedores de serviços manter serviços criptografados de ponta a ponta para os usuários e, ao mesmo tempo, cumprir as responsabilidades de detecção da proposta.
A “moderação de upload” exige que os provedores de serviços verifiquem o conteúdo das mensagens antes que elas sejam criptografadas e enviadas, o que viola fundamentalmente o princípio da E2EE, que garante que apenas o remetente e o destinatário possam ler as mensagens.
Novos Riscos de Segurança com a Verificação Obrigatória
A proposta CSA, embora importante e bem-intencionada, ameaça desencadear involuntariamente uma avalanche de novos danos online. Ao pressionar os provedores a escolher entre eliminar a criptografia ou oferecer uma alternativa de criptografia comprometida a seus usuários, a proposta coloca em risco a segurança e a privacidade dos usuários europeus da Internet, incluindo as crianças.
O comprometimento de ferramentas de comunicação seguras, como o E2EE, introduz novas vulnerabilidades que podem ser exploradas por hackers e governos hostis. Essas vulnerabilidades não só põem em risco a segurança e a privacidade dos usuários, mas também lançam uma sombra sobre a integridade da própria Internet.
O Bloqueio do texto atual da proposta CSA
É essencial que o Conselho bloqueie o texto atual da proposta CSA e proteja a criptografia forte. A “moderação de upload” não é compatível com E2EE e a verificação obrigatória expõe os usuários a novos riscos de segurança. Em vez de enfraquecer a criptografia, os reguladores devem incentivar medidas que abordem o conteúdo de abuso sexual infantil e protejam a segurança das comunicações.
O monitoramento preventivo em sistemas E2EE é problemático e apresenta sérios riscos à privacidade, segurança e eficácia da aplicação da lei. Em vez de enfraquecer a criptografia, os legisladores devem buscar abordagens alternativas que protejam tanto as crianças quanto os direitos dos usuários.
Resumo do Monitoramento Preventivo em Serviços Criptografados de Ponta a Ponta: Avaliação de Viabilidade Técnica da Internet Society
O monitoramento preventivo de conteúdo em sistemas E2EE introduz riscos sistêmicos para provedores e usuários.
- Interfere na privacidade e segurança: Frustra a intenção dos usuários de se comunicarem privadamente e compromete a integridade de dispositivos e sistemas.
- Aumenta o risco de ataques: Abre portas para ataques em todo o sistema, acesso não autorizado a dados e exploração por criminosos.
- Impacto na aplicação da lei: Dificulta o alcance das metas do Online Safety Act (OSA) do Reino Unido.
Vulnerabilidades e riscos sistêmicos
- Ataques a dados pessoais: Maior exposição a ataques que visam dados sensíveis.
- Ataques DDoS: Potencial para ataques de negação de serviço distribuído, sobrecarregando servidores e redes.
- Manipulação de bancos de dados CSEA: Risco de comprometimento dos bancos de dados de material de abuso sexual infantil.
- Engenharia reversa: Possibilidade de criminosos entenderem e burlarem os mecanismos de detecção.
- Ataques a alertas: Interceptação e manipulação de alertas enviados para processamento.
Fatores que afetam a viabilidade técnica
- Taxas de erro: Falsos positivos e negativos podem sobrecarregar os recursos de aplicação da lei e levar a acusações falsas.
- Conteúdo “vinculado ao Reino Unido”: A definição vaga e subjetiva aumenta a complexidade e o risco de falsos positivos.
- Processamento de dados: Tanto no dispositivo quanto fora do dispositivo apresentam desafios e vulnerabilidades.
- Hashing perceptual: A natureza da tecnologia pode levar a falsos positivos e negativos.
- Proliferação de bancos de dados: Dificuldade em gerenciar a consistência e integridade de múltiplos bancos de dados.
Recomendações
- Cautela nas declarações políticas: Evitar expectativas irrealistas sobre a eficácia do monitoramento preventivo.
- Uso dos critérios REPHRAIN: Avaliar tecnologias candidatas com base em critérios abrangentes de privacidade, segurança e eficácia.
- Rejeição do CSS: Não credenciar tecnologias de varredura do lado do cliente devido às suas vulnerabilidades inerentes.
Sobre Susana Taboas
Susana Taboas | COO – Chief Operating Officer – CryptoID. Economista com MBA em Finanças pelo IBMEC-RJ e diversos cursos de extensão na FGV, INSEAD e Harvard University. Durante mais 25 anos atuou em posições no C-Level de empresas nacionais e internacionais acumulando ampla experiência na definição e implementação de projetos de médio e longo prazo nas áreas de Planejamento Estratégico, Structured Finance, Governança Corporativa e RH. Atualmente é Sócia fundadora do Portal Crypto ID e da Insania Publicidade.
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Mais informações sobre os riscos de segurança dessas propostas podem ser encontradas neste relatório de viabilidade técnica da Internet Society.
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